Por Rodney Brocanelli
Fora do ar, a rádio web Voz do Futebol está passando por um processo de reformulação, mas sem previsão de retorno. Se voltar ao ar, certamente não será com Ricardo Taves, um de seus responsáveis. Em entrevista exclusiva ao blog Radioamantes, o radialista faz um balanço de tudo o que aconteceu com a emissora desde 2010, ano em que foi lançada. A Voz (como era conhecida no meio) fazia transmissões de jogos ao vivo, se fazendo presente com equipe completa no estádio, além de se aventurar em grandes coberturas jornalísticas, como o sorteio dos grupos da Copa Libertadores, em 2011.
Ricardo Taves não nega que existem dívidas financeiras resultantes dessa experiência. Ele ressalta que todas elas serão pagas. Lentamente, por conta do momento financeiro, mas ele pagará todas as pendências.
Apesar da falta de patrocínio (o principal motivo que faz a Voz hoje não estar no ar), Taves diz que é possível fazer na Internet tudo o que se faz em uma rádio no dial. Basta paciência. Paciência, aliás, é uma das palavras-chave que marcam essa entrevista. Leia a seguir.
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Qual é a atual situação da Voz do Futebol? Existe a perspectiva dela voltar ao ar?
Atualmente está parada. Creio que passará por um processo de reformulação mas não comigo. Me desliguei completamente.
Em que momento você teve a ideia de colocar em prática esse projeto de rádio web só com esportes?
Foi uma consequência. Começou com a Rádio Coringão que fundei junto com outras pessoas e está aí até hoje. Por divergências sai, e ao lado do LF Marinho surgiu a oportunidade de montar a Voz. Foi uma sequência. Sem ligação com clube algum, as idéias foram surgindo e o horizonte foi se expandindo.
Quais as principais dificuldades em se levar adiante um projeto desse porte?
Patrocínio. A Voz do Futebol foi criada a partir de investimento. Alto investimento. Só assim foi possível realizar o que realizamos. Acreditei que montando um produto muito próximo do que é uma rádio convencional os anunciantes viriam naturalmente. Falhei nessa aposta, o planejamento administrativo estava mal feito, aconteceu o pior.
O que você pode falar sobre os números de audiência da Voz do Futebol?
Tivemos audiências muito boas, com o grande pico no sorteio das chaves da Libertadores e audiências muito baixas. Tudo variava de acordo com a agenda da TV. Jogo de pay per view, sempre a audiência era maior. O São Paulo em especial tem uma audiência muito boa, seguido do Corinthians. Acho que os tricolores são maioria em acompanhar futebol na web.
Nesse tempo em que a Voz ficou no ar, qual o principal legado que ela deixou?
Acho que fizemos um trabalho extremamente profissional. Gente muito competente trabalhava na Voz do Futebol. Dois grandes narradores em especial, Gomão Ribeiro e Leandro Chaves que trabalhavam na maioria dos jogos davam um tom de alto nível as nossas jornadas. Gustavo Dario e Diego Salgado foram gratas revelações como comentaristas. O trabalho de vestiário, as viagens, entrevistas, o fato de fazer os jogos in loco, isso tudo acrescentava. Não devíamos em qualidade a ninguém. Isso fica de lição. É possível fazer na web o que se faz no rádio. Basta paciência.
E qual foi a sua principal decepção?
O fim é sempre decepcionante. Eu tinha uma equipe qualificada e unida mas cometi erros pontuais. Uma contratação equivocada, um ego que se infla, uma dificuldade financeira e pronto. Tudo foi por terra. Faltou estruturação em todos os sentidos. É tal qual um time de futebol. O resultado não vem, o técnico perde o comando. Depois sobra o ônus. E quando tem dinheiro envolvido, e com os erros que cometi essencialmente no final, o clima ficou péssimo, poucos lembram das oportunidades dadas, da experiência adquirida e acham que tudo foi por mérito próprio. E a realidade é que ninguém fez nada sozinho. Alguém teve que abrir a porta.
O que falta para o mercado publicitário investir parte de sua verba em rádios web?
Profissionalismo no ramo. Hoje qualquer um acha que pode pegar um microfone e sair narrando um jogo. Não é bem assim. É preciso qualificação profissional. Existem web rádios que fazem um trabalho de qualidade. Algumas outras que tem como característica dar oportunidades para estudantes ou para jornalistas que querem migrar para o rádio. O resto estraga o mercado.
Você não acha que deveria existir uma união entre as rádios web para tentar convencer às agências de propaganda ou quem seja de que o investimento vale a pena?
Tentamos fazer isso. O Guga Mendonça, o qual você conhece bem (Nota do Redator: ex-Expressão da Bola), surgiu com essa ideia. Mas é utópico ainda, acredito. Cada dia surge uma nova web rádio e fica difícil excluir um ou outro porque começa futrica no twitter, no facebook, e daí já viu. Eu mesmo dei algumas pancadas quando percebi que havia besteirol. Mas aí eu fico de malvado, a idéia não progride e tudo segue igual.
Qual o conselho que você daria a quem está pensando em montar uma rádio web de esportes?
Que tenha paciência e que procure montar uma equipe profissional. Porcaria tem de monte, o que se sobressairá é a qualidade.

