Por Rodney Brocanelli
Graças a um acaso e a uma dica do Milton Neves via Twitter (a melhor dica que ele deu em anos), pude assistir a série de documentários dos canais ESPN sobre os 100 anos do rádio no Brasil. No último sábado (10), o ESPN Extra exibiu os cinco episódios em sequência, a partir das 14h30. Todos eles já estão disponíveis no Star+, a plataforma de vídeos oficial da Disney.
A série aborda o rádio esportivo (ou futebolístico – acho que já está na hora de debater esse termo) e cinco grandes nomes foram escolhidos para que suas histórias, que se confundem com o próprio veículo, fossem contadas: Milton Neves, José Silvério, Osmar Santos, Pedro Ernesto Denardin e José Carlos Araújo).
Um dos inúmeros pontos positivos dessa série é o fato de que eles não são louvatórios. Por exemplo, todas as qualidades, defeitos e contradições (dentro e fora do ar) de personagens como Milton Neves e José Silvério foram abordadas. No caso de Milton, a questão dos merchans não foi deixada de lado, com pelo menos um depoimento fazendo um contraponto a essa prática.
No caso de Silvério, o fato de vetar a participação de repórteres nas jornadas esportivas por episódios que ele considerava como falta de profissionalismo foi devidamente destacado, com um breve momento de autocrítica do próprio narrador.
Um dos grandes momentos do episódio com Osmar Santos foi quando lhe perguntaram se o rádio continuava a exercer o papel de informar ou se o veículo estava mais “fraquinho” no que diz respeito à informação. Em uma palavra só, um gênio definiu o estado de coisas: “fraquinho”.
Ainda sobre Osmar, todo o seu exemplo de vida é devidamente exaltado no documentário, mas há um breve espaço falar sobre o próprio rádio. Odinei Edson aparece como uma voz crítica à onda de “rádio com imagem”.
Não deixa de ser curioso ver a Rádio Guaíba e sua logomarca aparecer com tanto destaque em um programa dedicado a Pedro Ernesto, astro da Rádio Gaúcha. Explica-se: José Aldo Pinheiro e Carlos Guimarães, profissionais da concorrente deram seus depoimentos. Zé Aldo deu um depoimento pessoal e Guimarães deu uma aula sobre rádio esportivo (ou futebolístico) gaúcho para não iniciados. O amigo Marcos Garcia aponta um erro de legenda: o nome de Armindo Antonio Ranzolin foi grafado como Antonio Armindo. Falha que deveria ser sanada em uma revisão.
Pedro Ernesto, em dado momento, diz que talvez não fizesse sucesso em praças como Rio de Janeiro e São Paulo. Este radioamante discorda respeitosamente.
Além de falar da extensa carreira de José Carlos Araújo, o Garotinho, o documentário sobre ele tem o mérito de apresentar um contraponto ao tom oficialesco da comemoração dos 100 anos de rádio do Brasil. O depoimento do radialista e professor Marcus Aurélio cita as primeiras transmissões feitas antes do 7 de setembro de 1922, na cidade do Recife.
A série da ESPN traz imagens inesquecíveis, como o encontro de Osmar Santos e Milton Neves ou então o reencontro de Silvério com seus irmãos de leite. Sobre este último, não deixa de ser inquietante ver como ele está fragilizado, especialmente depois da morte de Lenice, sua esposa. Além disso, faz rir, faz chorar e faz pensar sobre o futuro do rádio.
Uma pena só que o rádio esportivo de Belo Horizonte e de cidades da região Nordeste foram deixados de lado. Há muita história para contar e personagens carismáticos para focalizar.
A série foi criada pelo núcleo de produções especiais da ESPN, com roteiro de Marcelo Gomes e Rafael Valente.
