Gol de Rincón entrou para a história do rádio esportivo mundial

Por Rodney Brocanelli

Freddy Rincón é autor de um dos gols que entrou para a história do rádio esportivo mundial. Copa da Itália, 1990. Colômbia e Alemanha jogavam pela última rodada do Grupo D daquela competição. Com duas vitórias, os alemães já estavam garantidos para a próxima fase. No entanto havia uma esperança para a seleção cafeteira: um empate seria o passaporte para o mata-mata.

Até os 43 minutos da primeira etapa, as seleções empatavam sem abertura de contagem, resultado ideal para a seleção colombiana. Entretanto, Littbarski deu a vantagem aos alemães no placar. Tristeza para o torcedor colombiano, transformada em palavras por Edegar Perea, narrador da Rádio Caracol. Entre outras lamentações, ele disse que aquele gol fora uma punhalada em sua alma.

Já nos acréscimos, aconteceu o que poucos esperavam. De forma tranquila, até, a Colômbia chegou ao empate. A defesa conseguiu parar um ataque dos alemães e foi tocando a bola até o meio campo. Destaque para a participação de Valderrama que se comportou como um maestro no meio campo. Ele prendeu a bola durante o tempo necessário, fez duas tabelas por dentro com companheiros que estavam próximos dele e tocou para o lado direito, por onde entrava Rincón.

O camisa 19 avançou e tocou no meio das pernas do goleiro IIgner. Era o empate redentor. Perea passou da tristeza profunda à euforia absoluta. “Gol”, Colômbia”, foram as palavras que o narrador mais repetiu após a bola ultrapassar a linha. “Gol de Rincón para minha pátria querda”, complementou.

Na ocasião, essa narração foi divulgada praticamente em tempo real aqui no Brasil por Milton Neves, então na Rádio Jovem Pan. Os estúdios da emissora brasileira ficavam ao lado dos que a Rádio Caracol ocupava. Após o apito final, Milton conseguiu uma cópia do áudio e rodou no Terceiro Tempo, encantando os ouvintes brasileiros. Esse registro virou um marco do rádio esportivo internacional e volta e meia ele é divulgado no YouTube com comentários elogiosos e emocionados.

Edegar Perea enveredou pelos caminhos políticos. Elegeu-se senador em 1998, foi embaixador colombiano na África do Sul. Morreu em 2016, aos 81 anos

Freddy Rincón morreu nesta quinta (14) dias após um acidente de trânsito. O carro onde ele estava foi atingido por um ônibus, na cidade de Cali (COL). Tinha 55 anos.

Veja abaixo o gol de Rincón e a narração de Perea.

Memória: a raiva de Fiori Gigliotti em 1990

Por Rodney Brocanelli

Em janeiro deste ano, publicamos aqui o choro do narrador Fiori Gigliotti, entristecido com a desclassificação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986 (veja aqui). Quem pode acompanhar na época esse que já é um grande momento da história do rádio esportivo brasileiro, nem imaginaria que quatro anos depois, na Copa de 1990, a comoção seria substituída pela indignação.

No dia 24 de junho de 1990, o Brasil era desclassificado pela Argentina na fase de oitavas-de-final da competição. O gol foi marcado pelo atacante Caniggia, após receber um passe de Maradona. O lance protagonizado pelo astro argentino foi genial. Ele veio com a bola dominada no meio campo, conseguiu se livrar da marcação de Dunga e, mesmo cercado por pelo menos dois outros marcadores, passou a bola para que seu companheiro saísse livre, de frente para o gol.

Era o fim de uma campanha pífia (para usar uma palavra da moda), uma das piores da história da seleção brasileira em Copas. O futebol apresentado não despertou suspiros durante toda a competição. Muito se diz que esse mau rendimento teve a ver com o fato de o elenco ter ficado insatisfeito com a CBF e sua patrocinadora da época: uma famosa marca de refrigerantes.

O técnico da ocasião era Sebastião Lazaroni. Ele assumiu o cargo, em 1989, pouco depois de Ricardo Texeira ser conduzido à presidência da CBF. Até então sua experiência se restringia ao futebol carioca. Foi campeão estadual do Rio de Janeiro com o Flamengo em 1986  e com o Vasco em 1987 e 1988.

Após um começo claudicante na Copa América de 1989, a seleção brasileira de Lazaroni foi melhorando aos poucos e na fase decisiva da competição enfileirou vitórias importantes contra os principais rivais do continente: Argentina (campeã do mundo na ocasião -2 a 0), Paraguai (3 a 0) e Uruguai (1 a 0). Com este último triunfo, o Brasil conquistou o título sul-americano de seleções, algo que não acontecia desde 1949.

Ainda naquele ano, o Brasil conseguiu vitórias contra adversários tradicionais em amistosos na Europa:  Itália (1 a 0) e Holanda (então campeã da Eurocopa – 1 a 0). Esses bons resultados, credenciaram a seleção canarinho (na época não era pistola) como uma das favoritas ao título.

Entretanto, no ano seguinte, as coisas começaram a dar errado. O rendimento já não era mais o mesmo no primeiro semestre de 1990 e os conflitos internos ajudaram a piorar o que já não estava tão bom.

Voltando ao dia 24 de junho, Fiori Gigliotti narrou aquele Brasil x Argentina pela Rádio Bandeirantes, liderando mais uma vez a Cadeia Verde Amarela (norte/sul do país, como ele costumava dizer nas transmissões). Era a oitava cobertura do locutor da torcida brasileira. Era a terceira desclassificação seguida que ele transmitia. Além da já citada Copa de 1986, no México, Fiori esteve também na Espanha em 1982.

Ao contrário de 1986,  as palavras de Fiori logo após o apito final foram de raiva. O alvo principal foi Lazaroni: “Fecham-se as cortinas e termina o nosso sonho, torcida brasileira. 1 a 0 para a Argentina Para um treinador que tem merda na cabeça, não poderia acontecer outra coisa, torcida brasileira. Ele insistiu e teimou(…) feriu a nossa história, o nosso passado, a nossa tradição, as nossas raízes, colocando um ataque com dois (jogadores), quando não trouxe nem reservas competentes, e aí está: o Brasil fora da copa”.

A bronca de Fiori era em relação ao fato de Lazaroni ter montado uma seleção com três defensores e dois atacantes. Essa formatação tática era bastante popular na Europa, mas devido ao número de homens na defesa, ela foi muito associada ao defensivismo, quando na verdade o esquema nem é necessariamente para um time jogar apenas na defesa.

Sebastião Lazaroni virou a grande referência daquele fracasso de 1990. Fiori nada mais fez do que traduzir em palavras, ainda que duras, todo o descontentamento da torcida brasileira na ocasião. Ouça abaixo o áudio. Agradecimentos especiais a Marcos Sperli Garcia, autor do livro Craques do Microfone e administrador da comunidade de mesmo nome no Facebook (clique aqui).

fiori gigliotti 1990

Memória: Haroldo de Souza e Pedro Ernesto Denardin juntos na Rádio Gaúcha, em 1990

Por Rodney Brocanelli

As gerações mais novas não sabem, mas Haroldo de Souza e Pedro Ernesto Denardin, hoje adversários ferrenhos no rádio de Porto Alegre, já foram companheiros de transmissões em um passado distante, na Rádio Gaúcha. Haroldo era narrador, enquanto que Pedro Ernesto era repórter. Para ilustrar, separamos o trecho de uma transmissão dessa dupla na grande final do campeonato gaúcho de 1990, vencido pelo Grêmio, na decisão contra o Internacional. Hoje, Haroldo de Souza é narrador títular da Rádio Grenal. Pedro Ernesto teve uma rápida ascensão e hoje é o narrador principal da Rádio Gaúcha. Áudio extraído do Boletim Radioamantes, veiculado na web rádio CTBA durante todo o primeiro semestre de 2013. Apresentação de Jaques Santos e Willians Lima. Ouça abaixo.

 

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