Torneio de futsal causa discórdia entre cronistas esportivos gaúchos

Por Rodney Brocanelli

A edição 2025 da Copa Aceg de fusal, promovida pela Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos, terminou de uma forma que todos os que estavam envolvidos nela não imaginavam. A equipe do Barril Dobrado foi declarada campeã após seu adversário, o Panela da Dupla, avisar que não iria entrar em quadra no dia da grande final, marcada para o último sábado (22), no ginásio do Sesc Protásio Alves.

O motivo: um protesto do Panela após a decisão da comissão disciplinar, que reverteu a suspensão de um atleta do Barril que havia levado dois cartões amarelos (e o consequente vermelho) durante a semifinal. O tribunal é formado por três auditores. Um deles se declarou impedido de votar.

Na Copa Aceg, os times não são representados pelas empresas de comunicação. Mesmo assim, as equipes são formadas nos bastidores de algumas delas, com espaço para que profissionais de outros veículos e até mesmo assessorias de imprensa possam atuar.

O Panela da Dupla é formado por integrantes do canal a A Dupla, mas o time é aberto a outros profissionais. Por sua vez, o Barril Dobrado é integrado por alguns profissionais da Rádio Guaíba, com a participação de colegas que vem de outros lugares.

O anúncio oficial da não participação do Panela aconteceu na edição de sexta (21) do Debate das 7, programa veiculado pelo perfil Debate Raiz no YouTube. Além disso, houve uma menção ao assunto no Donos da Bola Rádio, da Rádio Bandeirantes e também retransmitido pelo site de vídeos.

Veja abaixo o relato de Bruno Soares durante a edição de Os Donos da Bola Rádio da última sexta (22).

Em seu site oficial, a Aceg informa que torneio organizado pela entidade foi criado para “fortalecer os laços entre os cronistas esportivos do Rio Grande do Sul”. Porém, desde que o assunto veio à tona, o tom de muitas manifestações não vem sendo nada amistoso, com algumas acusações direcionadas à entidade e ao presidente da entidade Rogério Amaral (veja todas as manifestações ao longo deste texto).

Para entender o caso

O Barril Dobrado entrou com um recurso para tornar sem efeito a suspensão de um de seus atletas, que havia levado um segundo cartão amarelo (que se transformou em vermelho) durante partida a semifinal, disputada no dia 15. Diogo Ariel, o jogador em questão, tirou a camisa após ser substituído. Considerado um dos melhores de sua equipe, ele levara um amarelo (o primeiro) com a bola rolando.

O julgamento do recurso foi favorável ao Barril. Com isso, a equipe poderia contar com seu quadro completo na grande final. A partir disso, nasceu a discordância.

Caso vira pauta no Debate das 7

Matheus D’Ávila, um dos integrantes do Panela da Dupla fez uma breve explicação a respeito da postura da sua equipe durante o Debate das 7. Ele disse que sua equipe “acabou formando a opinião de que existe um desequilíbrio de tratamento entre as equipes que vão disputar a final que vão disputar a final da competição ou que iriam disputar a final da competição”

“Essa decisão, além de ser uma completa alucinação, ela foi feita por um caminho nada transparente e que não nos pareceu limpo, não nos pareceu justo”, prosseguiu D’Ávila.

A equipe do Panela tentou, nas palavras de D’Ávila, entender todo o trâmite feito para o julgamento e depois tomou a sua decisão. “Como não concordamos com o que aconteceu e, principalmente, nós estamos numa brincadeira e vimos que o clima tava indo para um caminho que não é do nosso interesse. A gente viu cenas tristes na última Copa Aceg (2024) onde nós ganhamos, com confusão, inclusive a gente teve que separar pessoas da Aceg que estavam tentando pegar nossos colegas, nossos jogadores (faz o sinal de aspas) ali. A gente optou por deixar a Copa Aceg esse ano. Nós não vamos jogar a final. A gente optou por não defender nosso título”, disse D’Ávila.

O Panela da Dupla estava em busca do tricampeonato. No ano passado, a final foi contra o mesmo Barril Dobrado. Placar final de 5 a 3.

Ainda dentro do Debate Raiz, Lucas Dias, que é um dos treinadores do Panela, também se manifestou: “É bem mais que o fato da Rádio Guaíba (referindo-se ao Barril) ter recorrido ao cartão e principalmente as regras que a própria entidade fez para a competição não serem cumpridas”. Segundo Dias, a suspensão automática está nas regras do torneio e não é passível de recurso.

Dias contou o caso da expulsão de um atleta de sua equipe, Rafael Diverio, que foi expulso ainda na primeira fase, pelo que foi considerado um erro grave da arbitragem. Porém, o recurso impetrado pelo Panela não foi aceito.

Em seguida, o apresentador Leonardo Meneghetti tomou a palavra: “Que vergonha. A entidade que congrega a classe dos cronistas esportivos, que já foi muito bem conduzida, já teve grandes presidentes. Vou citar aqui dois: Alex Bagé , o João Garcia…Wianey Carlet…”. Seus companheiros de programa citaram outros nomes de ex-presidente da entidade.

Meneghetti prosseguiu: “Essa entidade não consegue organizar de maneira ponderada, equilibrada e justa o seu campeonato de futsal, campeonato que terminou o ano passado com pancadaria, porque foi mal conduzido o torneio, de uma maneira tensa pelo seu presidente, Rogério Amaral, com quem eu trabalhei, com quem eu prezo de admiração e respeito como jornalista esportivo. Um grande jornalista, um grande apresentador de debates esportivos(…) Mas ele é da Rádio Guaíba(…) que bom que ele está empregado, trabalhando na Rádio Guaíba, o Rogério ficou um tempo fora do mercado de trabalho. Ele é um bom analista de futebol, mas aí, daqui a pouco, tenta dar uma empurradinha, uma ajudada. A gente viu o descontentamento do Rogério Amaral no ano passado quando o canal A Dupla(…) ganhou em cima da Guaíba. A gente viu que o Rogério ficou incomodado, todo mundo viu, todo mundo percebeu”.

Sobre o caso específico, o apresentador do Debate das 7 disse: “cumpra-se o regulamento, não tenta fazer uma manobra para que o time esteja completo(…)A Dupla tomou uma decisão que eu lamento, que é radical, mas que talvez fosse a única decisão pra escancarar esta pantomima que virou o torneio”.

João Batista Filho, outro integrante do Debate das 7 pediu a palavra. “O presidente da Aceg, que é um ótimo jornalista, de uma carreira de muito sucesso, ele passa agora a não ter crédito para justamente isso, quando acontecer alguma coisa que a gente diz assim ‘poxa, mas não é o justo, não é o adequado com o futebol brasileiro’, Rogério Amaral não tem nenhum crédito(…) Esse é um ponto do CPF dele”, falou.

“Eu li o documento assinado pela time que representa a Rádio Guaíba e o documento diz que a competição é uma várzea. E a Aceg quando aceita retirar o cartão ela confirma que a competição é uma várzea(…) A várzea é muito mais organizada”, disse Diogo Rossi.

Rossi afirmou que já fez parte da atual gestão da Aceg, mas acabou retirando-se por não concordar com as coisas que são feitas na entidade “Me sinto entristecido por estar representado por essa gestão”, disse.

O restante das manifestações pode ser visto no vídeo abaixo.

Reposta veio pelas redes sociais

Na tarde do sábado (22), o coordenador da jornalismo da Rádio Guaíba, Rafael Pfeiffer, publicou um vídeo em suas redes sociais sobre todo esse imbróglio. Ele disse que é uma manifestação necessária até para que, em sua visão, um só lado contando a sua parte da história e criando a sua narrativa.

Pfeiffer afirmou que o Barril Dobrado (do qual ele também faz parte) não é um time da Guaíba. No ano passado, o time foi montado na emissora, com o uso de seu símbolo e na parte final da competição, o Barril se tornou independente, com gente de outros veículos (Rádios Gaúcha, Bandeirantes, Canal do Baldasso, Correio do Povo e assessorias de imprensa).

Diz ainda que o Barril foi prejudicado na semifinal, pelo que foi chamado de um cartão amarelo mal aplicado. O recurso foi embasado juridicamente e enviado no prazo certo.

“Está se criando uma narrativa em torno da pressão do Rogério Amaral, presidente da Aceg, para beneficiar o Barril Dobrado(…)É um jogo sujo, um jogo baixo, covarde, inclusive, contra o Rogério Amaral. Se qualquer um de vocês perguntar para o Rogério Amaral o que ele achou da decisão dos auditores, talvez ele diga que não concordou. Mas como a comissão disciplinar ela tem autoridade sobre o tema, vale a decisão da comissão disciplinar”.

Em sua manifestação, Pfeiffer usou exemplos do futebol nacional para demonstrar que algumas solicitações dos clubes de futebol para a reversão de suspensões são revertidas, e outras não “É do jogo, faz parte da competição”, afirmou.

“Estávamos prontos para jogar a final(…) Nosso adversário não apareceu, mas nós somos os legítimos campeões”, falou. Veja abaixo o vídeo.

A palavra de Rogério Amaral

“A narrativa que foi criada não corresponde a realidade dos fatos”, disse Rogério Amaral ao ser procurado pelo Radioamantes. “Não sei se eles (os colegas que se manifestaram) tem algo contra mim. Não tenho nada pessoal contra o Meneghetti, o João Batista Filho e o Diogo Rossi. Já trabalhei com todos eles”, afirmou.

Sobre a organização do campeonato, Amaral declarou não se meter na comissão disciplinar. Para sua formação. ele disse ter procurado auxílio do atual presidente do Tribunal de Justiça Esportiva do Rio Grande do Sul, Airton Ruschel. Este lhe indicou dois auditores para integrar essa comissão: Marcelo Azambuja e Thiago Imperador, que também integram o TJD-RS.

O terceiro auditor foi indicado pela própria Aceg: é José Aldo Pinheiro, advogado e também narrador da Rádio Guaíba. Neste caso específico do recurso impetrado pelo Barril Dobrado, Pinheiro se declarou impedido de votar.

Rogério Amaral explica que a suspensão dada ao atleta do Barril foi por uma sobreposição de cartões amarelos (no segundo, aplica-se o vermelho logo em seguida). A comissão teve o entendimento de que nesse caso seria possível retirar a suspensão. O presidente da Aceg diz ainda que a comissão disciplinar tem total independência e não há qualquer participação dele em suas decisões. “As narrativas nasceram com uma base interpretativa do regulamento”, falou.

Durante a conversa, Amaral falou sobre um incidente da final do ano passado, envolvendo as mesmas equipes. Ele tentou proteger um atleta de uma das equipes. “Eu entrei em quadra para tirar esse rapaz, porque vinha um bando em cima dele. Tentei, mas não consegui porque uma das portas do ginásio estava fechada”, disse.

Afirmou ainda que também quis apenas repreender esse jogador por querer promover bagunça em uma competição cuja intenção principal é apenas a confraternização.

“Fico puxando assim (na memória) o que possa ter motivado essa virulência. Pode ter alguma coisa relacionada ao passado ou então alguma pretensão de futuro na entidade”, falou Amaral.

A Aceg terá ainda nessa semana uma reunião para debater e decidir alterações em seu estatuto. A mais importante seria a ampliação do período de mandato, aumentaria para três anos, contra os atuais dois anos. Por causa disso, mudanças para uma possível edição da Copa Aceg em 2026 ficam em standby. Após um período de hiato, a competição foi retomada no ano de 2023.

O torneio tem uma característica peculiar. Enquanto as competições de outras entidades de cronistas esportivos (Aceesp. Acerj) acontecem em quadras de futebol society, os gaúchos optaram pelo futebol de salão.

Amaral afirma que sempre procurou qualificar a organização da competição. Isso não quer dizer que melhorias não possam ser feitas, segundo ele.

Em debate sobre jornalismo esportivo, cronistas gaúchos abordam cobrança dos direitos de transmissão das rádios

Por Rodney Brocanelli (colaborou – e muito – Edu Cesar, do Papo de Bola)

Na última segunda (21), a Associação Riograndense de Imprensa promoveu mais uma edição do “Diálogos ARI de Jornalismo), cujo tema principal foi “Jornalismo Esportivo Além do Campo”.

Entre diversos assuntos relacionados ao tema principal, não faltaram manifestações sobre a recente discussão aberta nos últimos dias relacionada a possível cobrança de direitos de transmissão das competições do futebol nacional e sul-americano por parte das emissoras de rádio (saiba mais aqui).

Nando Gross, comentarista de gerente geral da Rádio Guaíba, citou exemplo históricos de tentativas nesse sentido, uma delas de Rubens Hoffmeister, então presidente da Federação Gaúcha de Futebol em 1980, que vendeu os direitos de transmissão do campeonato gaúcho daquele ano para a Rádio Farroupilha, então de propriedade dos Diários Associados. A outra, do Athletico-PR que em 2008 também tentou comercializar os direitos de seus jogos com emissoras de rádio. Ambas as iniciativas foram barradas pela Justiça.

Ainda em sua manifestação, Nando procurou explicar a diferença entre transmissão de rádio e direitos de imagem, algo que ele já havia feito no microfone da Rádio Guaíba (clique aqui).

Outro participante da mesa de discussão, Alex Bagé, aqui atuando muito mais como o presidente da ACEG – Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos do que como comentarista da Rádio e TV Bandeirantes, de Porto Alegre. Em sua rápida exposição, Bagé procurou diferenciar a intenção da Conmebol de cobrar por suas competições (saiba mais aqui) da intenção de dirigentes do futebol nacional (veja aqui). Ele diz que já teve reuniões com a atual presidência da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), destacou a atuação do senador Jorge Kajuru (CIDADANIA-GO) e também a parceria com colegas de São Paulo para tratar desse tema.

Bagé chamou a entrevista de Andrés Sanchez, presidente do Corinthians e de Francisco Novelletto, um dos vice-presidente da CBF de “balão de ensaio”. A partir de então, o presidente da ACEG acionou a sua diretoria jurídica, que fez contatos com políticos do estado do Rio Grande do Sul: o governador Eduardo Leite e o atual secretário de esportes João Derly. Além deles, outro político importante também está envolvido nesse processo, como o presidente Jair Bolsonaro, acionado por Jorge Kajuru.

Na avaliação de Alex Bagé, não há chances do atual quadro ser alterado, a não ser que exista algum tipo de modificação (via Congresso Nacional) na Lei Pelé, que regula a questão dos direitos de imagem. Outro ponto importante apontado por ele é que muitos políticos estão apoiando a questão da não cobrança de direitos das rádios porque eles são proprietários de emissoras de rádios. “A gente está buscando essa blingadem”, disse. Mesmo assim, em nível internacional, ainda há a questão da intenção da Conmebol, que,  segundo Bagé, não estando subordinada a uma lei do Brasil, pode querer passar a cobrar a qualquer momento.

Luis Carlos Reche, apresentador e comentarista da Rádio Grenal, elogiou a mobilização feita por Alex Bage até por que a categoria na categoria dos radialistas, “o que mais acontece é a gente tomar rasteira”. Diogo Olivier comentarista e colunista de RBS TV, Rádio Gaúcha e Zero Hora, destacou um outro ponto a respeito do contato direto com a fonte que, segundo ele, era muito mais responsável e maduro. “Há muitos obstáculos entre repórter e a fonte”, disse. Além disso, segundo ele, os clubes querem tirar a mediação entre os veículos e o público e fazer isso por conta própria. “Anuncia jogador pelo seu canal de comunicação. Tem dirigente que fica tempos sem dar entrevista e falam com seus canais de comunicação. Aí não é entrevistado, não é confrontado, não tem debate”.

O debate teve a mediação da jornalista Eduarda Streb.

 

ARI

Foto: Divulgação