Comandado por Fausto Silva, Perdidos na Noite comemora 40 anos de sua estreia

Por Rodney Brocanelli

O Brasil é mesmo um país que não tem memória. É um clichê? Sim, mas ele continua cada vez mais traduzindo a realidade deste país. O último dia 11 de fevereiro marcou os 40 anos de uma estreia que mudou o panorama da televisão nos anos seguintes. Em 1984, na citada data, estreava pela TV Gazeta o Perdidos na Noite, comandado por Fausto Silva. Sem medo de errar, é possível escrever que ninguém lembrou.

Algo curioso é que, em sua estreia, o Perdidos na Noite era um programa dentro do outro. Explicando: ele fazia parte do 23ª Hora, que ia ao ar todos sábados, à noite, na TV Gazeta, comandado e dirigido por Goulart de Andrade.

“A programação alternativa das noites de sábado, a “23ª Hora”. de Goulart de Andrde, está ampliando suas opções ou, no dizer de seu diretor, “justificando os propósitos para os quais fou criada”. A partir fde hoje, no horário das 23 horas à uma da madrugada, um pouco da dinâmica do rádio será transplantada para a televisão, num programa de variedades de nome “Perdidos na Noite”, comandado por Fausto Silva e produzido por Lucimara Parisi”.

Assim abria o texto publicado em O Estado de S. Paulo, do dia 11 de fevereiro de 1984, sem assinatura, cujo título foi “Perdidos na Noite, a dinâmica do rádio na TV”.

Para quem não sabe, o Perdidos na Noite é um derivado do Balancê, programa de rádio veiculado pela antiga Rádio Excelsior (hoje CBN) no início dos anos 1980. Um de seus períodos de maior repercussão aconteceu justamente na fase em que Fausto Silva foi seu comandante. O sucesso era tamanho que durante uma certa época, ele foi apresentado do Teatro e Palhaçaria Pimpão, que ficava no bairro da Santa Cecília (SP), próximo aos estúdios do Sistema Globo de Rádio, “dono” da Excelsior.

Certa vez, Goulart de Andrade foi até a fim de fazer uma reportagem para seu programa e notou que Fausto e sua turma faziam um programa de rádio na televisão. Contamos essa história aqui mesmo no Radioamantes (e até por isso mesmo que esse registro da história de outro veículo é feito aqui em um site sobre rádio).

Ao tradicional jornal situado na margem do Rio Tietê, Fausto disse que o Perdidos “é uma opção para quem não aguenta tanto filme nas outras emissoras. Vamos brincar com o telespectador, fazendo-o participar , ao mesmo tempo em que desvendaremos os bastidores da televisão”. Aliás, o texto do Estadão informa um apelido pelo qual ele era conhecido: Pipa (Pipa?).

O programa contou com a presença da cantora Fafá de Belém, que segundo o jornal, falaria “sem a pressa obrigatória dos outros canais”. Os então jogadores Serginho, então defendendo o Santos, e Luis Pereira, atuando pelo Palmeiras, participaram falando sobre Copa do Mundo. Outra participação musical: a do Trio Los Angeles, cujos integrantes prometiam esclarecer a história de que estariam dublando a banda The Fevers na música de abertura da novela Transas & Caretas, da Rede Globo (alguém lembra dessa situação?).

O Perdidos na Noite se notabilizou pela divulgação do teatro. No seu primeiro programa, Silney Siqueira e Mauro Chaves, nomes conhecidos deste universo, estiveram presentes. Uma outra atração foi o músico Vidal França.

Um cardápio de atrações bem variado para duas horas de duração.

Não faltaram também as intervenções humorísticas de Carlos Roberto Escova e Nélson Tatá Alexandre, “o único quadro permanente do programa”, segundo o jornal. A sonoplastia contou com o talento de João Antônio de Souza, o Johnny Black.

Assim como o Balançê, o Perdidos na Noite foi um programa de auditório. Em seus primórdios, ele era gravado no Teatro Brigadeiro, na av. Brigadeiro Luiz Antônio, 884, no bairro da Bela Vista, também em São Paulo. O local hoje é ocupado pelo Teatro Nissi.

Em maio de 1984, Goulart de Andrade se transferiu para a TV Record levando o Perdidos na Noite. Dois meses depois, devido a questões financeiras, a equipe deixou o guarda-chuva do apresentador e a própria emissora acabou “ficando” com a atração, mantendo-a nas noites de sábado. Houve uma acomodação na grade e o programa de Goulart entrava logo depois, a partir da 01h.

Em pouco menos de um ano, o programa já apresentava bons índices de audiência. Segundo reportagem do Jornal do Brasil, publicada em 18 de janeiro de 1985, assinada por Mirian Lage , “em São Paulo, a média de audiência fica em torno de 10% e, no Rio 4%”. Números que deixavam para trás outra tradicional atração dos fins de noite da Record: o Clube dos Esportistas (exibida às terças). O “pandemônio visual a auditivo onde não acontece nada”, conforme palavras da jornalista, ficava na casa dos 4% em São Paulo e 2% no Rio de Janeiro.

Outro dado importante trazido pelo bom, velho e saudoso JB: de julho a outubro (1984), a audiência cresceu 88% em São Paulo. Com o vento a favor, a direção da Record decidiu, em agosto de 1985 antecipar o horário do Perdidos. Ele entraria no ar a partir das 22h30. Já em novembro, sem divulgação prévia, houve uma nova alteração, desta vez para as 22h.

Ao mesmo tempo em que o sucesso crescia, a Censura Federal, que ainda estava atuante naquele período, reforçou a sua vigilância, proibindo os palavrões que eram falados por Fausto, a dupla Tatá e Escova, e alguns de seus convidados. Volta e meia um sinal sonoro (o famoso piii) entrava por cima de alguma fala.

Em 1985, Miriam Lage, no Jornal do Brasil, incluiu o Perdidos na Noite em sua lista dos dez melhores programas de televisão daquele ano, ao lado da novela Roque Santeiro e da minissérie Grande Sertão: Veredas, ambas da Globo, os documentários Xingu, da Manchete, e Furacão Elis, da Bandeirantes, entre outros. “A irreverência bem-humorada do gordote (sic) Fausto Silva lhe assegurou um bom ano de audiência e a irrestrita simpatia do público. O programa mostra, sem pudores, o avesso da televisão arrumadinha, com uma espontaneidade cada vez mais rara”, escreveu a jornalista.

Em 1986, em uma publicação sem o dia e mês facilmente localizáveis (provavelmente seja das primeiras semanas daquele ano), a mesma Miriam (do JB) anunciava o namoro de Fausto Silva com a Bandeirantes. “Só não dará em casamento se a Record insistir para que ele cumpra o contrato em vigor até junho”, registrou.

O enlace foi registrado pelo periódico em março do mesmo ano pelo Informe JB, assinado por Ancelmo Góis: “Perdidos na Noite, agora pior que antes: esse será o novo slogan que o apresentador Fausto Silva vai usar em seu programa a partir do dia 19, às 22h, quando estreia na TV Bandeirantes”.

A estreia se deu em 19 de abril de 1986. Ou seja, a Record não jogou duro no que diz respeito ao contrato. Uma das vantagens da mudança de emissora é que a Bandeirantes já naquela época tinha um grande número de emissoras afiliadas espalhadas pelo Brasil. A Record ficava limitada apenas ao eixo Rio-SP e outras poucas estações de televisão.

Curioso que ao olhar a grade de programação da Bandeirantes daquela época, o Perdidos começava as 22h e a partir da meia noite entrava no ar o Plantão da Madrugada, comandado por…Goulart de Andrade.

Em outra publicação, ainda de 1986, a jornalista Marilia Martins, do JB (obrigado Arquivo Nacional) fez um breve balanço dos primeiros meses de Faustão em sua primeira passagem pela Band: “Perdeu muito do antigo charme brega e ganhou um ar mais competente, a começar pela apresentação. Resultado: em menos de um mês, já bateu o índices do Clube do Bolinha, o campeão da emissora. Um sucesso mais do que merecido para aquele que renovou a velha fórmula dos programas de auditório e ressuscitou um tipo de humor que se baseia, em grande parte no improviso da hora da gravação”.

O programa tinha fãs ilustres. Um deles era Caetano Veloso. Em uma reportagem do JB sobre as opções de programação da televisão no fim de noite e madrugada adentro, e seus fãs, ele disse: “Aos sábados, começo vendo os programas do Faustão, aquele gordo de São Paulo”.

Em julho de 1988, uma nota publicada na prestigiada coluna de Zózimo Barroso do Amaral já indicava o futuro de Fausto Silva na televisão: “Se ainda não conversou, a TV Globo vai conversar com o animador Fausto Silva, estrela das noites de sábado do programa Perdidos na Noite. Fausto será sondado sobre a possibilidade de vir a protagonizar um programa de variedades e distribuição de prêmios nas tardes de domingo. Com a morte do insubstituível Chacrinha, a emissora está sem um grande comunicador. Sabe-se, aliás, que a ideia é ocupar o espaço aberto nas tardes de sábado com uma programação esportiva, basicamente dirigida ao público masculino”.

Apesar do tom cuidadoso e até mesmo nonsense (“Se ainda não conversou, a TV Globo vai conversar…”), Zózimo acertou na mosca em relação as informações sobre o animador. Em março do ano seguinte, Fausto iria comandar um programa exatamente com as características citadas na emissora de maior audiência do país: o Domingão do Faustão.

O colunista não citou, mas pouco tempo antes, a Globo havia tirado Gugu Liberato do SBT. Ainda na fase de pré-produção e pilotos, Silvio Santos, com problemas na voz e temendo pelo futuro de seu programa e de sua emissora, foi diretamente até Roberto Marinho pedir a recontratação de seu pupilo. Contrariando as expectativas, o dono da Globo aquiesceu. Esse evento teve enorme influência para o que aconteceria depois.

Fausto teve uma carreira longeva na Globo. O Domingão foi ao ar de março de 1989 até junho de 2021. Em janeiro de 2022, ele se transferiu para a Bandeirantes, mas desta vez para estrelar o Faustão na Band até julho de 2023. Atualmente, o apresentador está afastado da televisão, em recuperação de um transplante de rim. realizado em janeiro de 2024. Pouco tempo antes, ele fez outro transplante, de coração.

Lucimara Parisi trabalhou com Faustão até 2009, quando ambos estavam na Rede Globo. No ano seguinte, foi trabalhar com outro comunicador: Ratinho. Essa parceria durou até 2022. Lucimara também foi para a frente das câmeras, apresentando um programa na RBTV.

Após o fim do Perdidos, Nélson Tatá Alexandre e Carlos Roberto Escova não foram trabalhar no Domingão do Fasutão. Tatá passou por diversas rádios desde então e integrava a equipe do Show de Rádio na Rádio Bandeirantes quando teve um aneurisma cerebral que o impediu de trabalhar.

Escova também seguiu sua carreira no rádio, mudando-se para Porto Alegre, onde trabalhou nas rádios Atlântida e Ipanema. Depois, ele voltou para São Paulo, indo para a Jovem Pan FM onde participou de vários quadros de humor. Nova mudança de endereço e ele foi viver em Miami (EUA). Retornou ao Brasil e ele foi morar na cidade de Ourinhos. Nesta cidade, atuou nas rádios Clube e Melodia. Morreu em 20 de dezembro de 2015.

João Antonio de Souza, o Johnny Black, também não foi levado por Faustão para a Globo. Seguiu sua carreira como operador de áudio, trabalhando nas emissoras do Sistema Globo de Rádio. Morreu em 4 de setembro de 1996.

Existem no YouTube vários registros do Perdidos na Noite tanto na Record como na Bandeirantes. A dúvida fica sobre o paradeiro das gravações da primeira fase, quando a atração estava ligada a Goulart de Andrade, seja na Gazeta ou na própria Record. A esperança é que elas estejam dentro do acervo de Goulart que foi doado à Cinemateca Brasileira.

Que os amantes da memória da televisão cruzem os dedos: em julho de 2021, a sede da Cinemateca sofreu um incêndio. Até hoje, fala-se que parte das fitas cedidas pelo jornalista foram danificadas, mas sem qualquer tipo de confirmação oficial.

Uma última nota sobre o 11 de fevereiro de 1984: naquele mesmo dia, dentro do 23ª Hora, estreava um outro quadro por alguém que também iria fazer uma carreira bem consistente na televisão, Silvio Lancellotti. Conhecido por sua ligação com o futebol italiano nos anos que se seguiram, ele comandava o Santa Ceia, que trazia o melhor dos restaurantes de São Paulo, com direito a receitas, e entrevistas com seus donos e chefes de cozinha.

A fotos que ilustram este post foram gentilmente cedidas pelo Felipe Martinelli Braga, que é autor de uma dissertação de mestrado sobre o Balancê, da Rádio Excelsior. Já falamos sobre esse trabalho aqui no Radioamantes.

40 anos depois, cobertura da morte de Elis Regina pela Rádio Excelsior é divulgada na web

Por Rodney Brocanelli

No último dia 19 de janeiro, o perfil Arquivos Elis Regina, do YouTube, divulgou um registro tristemente histórico: parte da cobertura da morte da cantora veiculada pela Rádio Excelsior (hoje CBN) em 1982. Quarenta anos depois. O arquivo publicado tem pouco mais de 1h13min e traz erros e acertos decorrentes de uma cobertura em tempo real e até alfinetadas na concorrência.

A notícia chegou no programa Balancê. Osmar Santos falava sobre algum assunto relacionado ao futebol quando, às 12h19, foi bruscamente interrompido pelo narrador Reinaldo Costa, que apresentava a atração naquele dia. “A gente recebe neste momento a infausta notícia que faleceu agora, neste exato momento, questão de uns dez minutos atrás, a cantora Elis Regina”, disse atônito.

Pouco depois, entrava ao vivo a repórter Luísa Borges, do Hospital das Clínicas. “A gente nem tem vontade de entrar para dar uma notícia dessas”, disse, bem no momento em que começava a tocar Casa no Campo, um dos grandes sucessos de Elis. Segundo Luísa, a Pimentinha, como era conhecida, chegara “clinicamente morta” ao hospital.

Todo a pauta do Balancê prevista para aquele dia, obviamente caiu. Pouco depois do boletim de Luísa Borges, entrava no ar Walter Silva, um dos descobridores de Elis, que naquela época tinha um programa na própria Excelsior, o Pick-Up do Pica Pau, que começava sempre a partir das 14h. “Eu estou completamente sem ação (…) estou completamente perturbado, não consigo manter o equilíbrio jornalístico neste instante”, afirmou. Walter era pai de Celina Silva, que na ocasião estava trabalhando como assessora de Elis.

Após Luísa Borges retornar com novas informações do HC, Reinaldo Costa leu um breve resumo da carreira de Elis Regina. Jair Rodrigues, que naquele dia iria conceder uma entrevista para uma rádio de Santos, entrou no ar para um depoimento sobre a colega. Ambos dividiram o comando do Fino da Bossa nos áureos tempos da TV Record.

Depois da reprise do trecho de uma entrevista antiga de Elis, a repórter Yara Peres se integra à cobertura entrando diretamente do IML para onde o corpo da cantora fora levado para a autópsia. Walter Silva, que já estava lá, passa novas informações.

O Balancê encerrou sua edição às 12h29. Na sequência, começou o Jornal da Excelsior, comandado por Luiz Lopes Corrêa e Efigênia Mena Barreto. Na abertura, críticas a uma concorrente: “Uma emissora noticiosa de São Paulo chegou a dizer no ar que tudo não passava de engano e que a morta era outra”, disse Luiz. Quem souber qual é, deixe a informação no sistema de comentários.

Efigênia cometeu um erro ao citar o nome dos filhos de Elis: “deixa também três filhos, Rodrigo, João e a Mariana”. Luísa Borges volta ao ar, também do IML, corrige os nomes. João Marcelo, Pedro e Maria Rita. Todos eles atualmente com atuação destacada no cenário musical.

O jornal prosseguiu veiculando outras entrevistas. Julio Rosemberg, radialista gaúcho que acompanhou o início de Elis em Porto Alegre. O produtor Mayrton Bahia, que havia produzido o último disco da cantora, o que tem a canção Trem Azul, também concedeu seu depoimento. Jair Rodrigues voltou a ser contatado pela Excelsior e disse mais algumas coisas sobre a amiga.

Uma outra entrevista chamou a atenção, a do produtor André Barbosa Filho. Nela, foi levantada a hipótese por um repórter não-identificado de que a morte fora causada por overdose de drogas. “Isso é um absurdo”, declarou André.

Encerrando, a íntegra da última entrevista de Elis para a Excelsior, conduzida por Luísa Borges.

Quarenta anos depois, a Rádio Excelsior, que era veiculada em 780Khz não existe mais. Em 1991, ela se transformou em CBN, projeto de rádio noticiosa do Sistema Globo de Rádio. Aproximadamente quatro anos depois, a emissora passou a transmitir também em frequência modulada nos 90,5Mhz. Em 2018, a área de rádios do Grupo Globo resolveu abrir mão de suas frequências em amplitude modulada, ocasionando assim o desligamento da CBN. Hoje, em seu lugar, está a Canção Nova.

Ouça abaixo a cobertura da Excelsior.

Radioamantes no Ar relembra o programa Balancê

Nesta semana, o Radioamantes no Ar teve um convidado especial. Felipe Martinelli. Ele é autor de um mestrado apresentado na Escola de Comuncações e Artes, da USP, sobre o programa Balancê, apresentado pelas rádios Excelsior e Gazeta, entre os anos de 1980 e 1988. A atração fez muito sucesso no rádio paulistano em sua época. Serviu como uma forma de Osmar Santos, nome principal do departamento de esportes da dobradinha Globo-Excelsior, não se limitar apenas à cobertura esportiva, abordando outros temas, como política e entretenimento.Além de Osmar, os apresentadores do Balancê, em diferentes épocas, foram Juarez Soares e Fausto Silva. Este último, aproveitou bem a chance, e graças a ajuda de Goulart de Andrade, foi para a televisão, passando a comandar o Perdidos na Noite. O Radioamantes no Ar é apresentado todas as sextas, sempre a partir das 09h pela web rádio Showtime (http://showtimeradio.com.br). Com Rodney Brocanelli, João Alckmin, Flavio Aschar e Rogério Alcântara.

Quem desejar ler a tese de Martinelli pode clicar no link:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27161/tde-27092017-093957/pt-br.php

Ouça a entrevista no player abaixo

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Sucesso do rádio nos anos 80, o Balancê ganha olhar acadêmico acessível a todos os tipos de leitores

Por Rodney Brocanelli

Um dos programas de rádio mais influentes e revolucionários dos anos 1980, o  Balancê, apresentado pela antiga Rádio Excelsior (hoje CBN) foi objeto de uma dissertação de mestrado apresentado na Escola de Comunicações e Artes da USP,  no último dia primeiro de setembro. Com a aprovação da banca examinadora, Felipe Martinelli, o autor, conseguiu seu título acadêmico. Martinelli é conhecido dos leitores deste blog por conceder uma entrevista ao Radioamantes no Ar sobre Carlos Roberto Escova, em dezembro de 2015. O humorista, que teve participação de destaque no programa de rádio, morrera poucos dias antes, e o agora mestre falou na ocasião sobre o encontro que os dois tiveram na cidade de Ourinhos, em outubro de 2007. Muitas informações das conversas de ambos estão nessa dissertação.

O grande mérito de “Girando a roda do Balancê: a trajetória de um programa e a  transformação do rádio paulistano” é atrair tanto a comunidade acadêmica (sua finalidade principal) como ao leitor comum, seja aquele que é interessado na história do rádio por hobby, ou aos saudosistas que acompanharam o programa em grande parte de sua existência no dial paulistano.

Martinelli fez a divisão da trajetória do programa em quatro fases. A  primeira começa (obviamente) em sua estreia, no 07 de abril de 1980 e vai até 1983. A atração nasceu de uma necessidade de Osmar Santos, principal nome do departamento esportivo da Globo-Excelsior de entrar em outras áreas além do futebol, como as artes e a política. Osmar iria apresentar o programa, mas caso ele tivesse algum outro compromisso, um co-apresentador assumiria o comando. Juarez Sores foi o escolhido para a missão. Nessa fase, a parte politizada do programa justamente é a que iria dar dores de cabeça a todos, desde o alto escalão da emissora até a equipe de produção. Já naquela época, o  sonoplasta Johnny Black se destacava por dar uma plástica toda peculiar ao Balancê.

A partir de 1983, com a saída de Juarez Soares, que se transfere para a TV Bandeirantes a fim de apresentar o Show do Esporte, começa a outra fase. Meio que por acaso, até. Alguns dos integrantes da equipe esportiva da Globo-Excelsior não tinham, digamos, o perfil para um programa daquele porte. Jorge de Souza, Odinei Edson e Reinaldo Costa foram testados para co-apresentar o programa com Osmar Santos,  até que se chegou ao nome de Fausto Silva. Com isso, o Balancê tomou outro rumo, e contribuiu muito para isso a química do novo apresentador com os humoristas Carlos Roberto Escova e Nélson Tatá Alexandre (e Johnny Black, é claro). A atração mais ficou mais anárquica e irreverente.

Martinelli nos revela, falando dessa fase, que Fausto Silva e Osmar Santos, não tinham o que se consideraria uma amizade fora dos microfones. Aliás, isso é mais comum do que possa parecer. Existem vários casos (e alguns deles muito atuais) no rádio de gente que não se suporta, mas devido a compromissos comerciais, técnicos, entre outros, deixa as rusgas de lado quando estão no ar. O texto relata alguns momentos de alfinetadas de Faustão em Osmar por muitas questões, especialmente salários.  Nessa fase, o Balancê passa a ser apresentado em um teatro por uma questão simples. Não dava para acomodar no estúdio todos os que desejavam acompanhar o programa ao vivo, além, é claro, dos convidados.

A terceira fase, vai de 1985 até 1987. Em 85, Fausto Silva se transfere para a Rádio Record. Vale lembrar que já naquela época, ele já está com o Perdidos na Noite na televisão, cujo processo de criação é devidamente contado por Martinelli em seu texto. Oscar Ulisses passa a apresentar o Balancê em alguns dias da semana. A derradeira fase do programa abrange grande parte do ano de 1988. Aqui, Osmar já havia se transferido para a Rádio Record e costurado um acordo com a Rádio Gazeta para repetir a dobradinha Globo-Excelsior. Na Gazeta, as últimas edições do Balancê foram transmitidas. O perfil passa a ser o de um programa de variedades, com a apresentação de Carlos Fernando (talvez algo mais adequado à sua personalidade).

O tema central da tese de Martinelli, obviamente, é o Balancê. Mesmo assim, seu texto não deixa de contemplar outras emissoras. A Jovem Pan ganha um espaço generoso, até porque de lá saíram profissionais importantes para a história do programa da Excelsior. Além disso, perto do final, é explicada até de que forma a Rádio Record viabilizou financeiramente seu departamento de esportes, lançado em 85, com a adoção, já naquela época, dos hoje detestados contratos de Pessoa Jurídica. O responsável por isso é um conhecido executivo de rádios ainda na ativa e que volta e meia ganha elogios e citações simpáticas de colegas, sendo apontado como exemplo de um gestor genial.

O  mestrado de Felipe Martinelli pode ser lido em sua íntegra no link a seguir. Logo abaixo, tem lá o caminho para o pdf. Boa leitura.

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27161/tde-27092017-093957/pt-br.php

girando a roda

Bandeirantes lança “Resenha, Futebol e Humor” para substituir o “Na Geral”

Por Rodney Brocanelli

A Rádio Bandeirantes resolveu não esperar pelo mês de novembro e já fez alterações na sua programação do final de tarde. O “Na Geral” teve a sua última edição na quarta-feira e hoje já entrou no ar o “Resenha, Futebol e Humor”. O programa será comandado por Émerson França (da Band FM/Hora do Ronco), Roman Laurito e Guilherme Palesi (estes da Bradesco Esportes FM). A atração será veiculada entre 19h e 20h nos 90,9Mhz, que por efeito de liminar não retransmite a Voz do Brasil.

Na estreia, chamou a atenção um quadro que de forma bem humorada recria como foi formada a equipe do programa. No começo, é citado o Balancê, que por muitos anos foi veiculado pela Rádio Excelsior  (hoje CBN).  Osmar Santos, Juarez Soares, Carlos Roberto Escova, Nelson Tatá Alexandre e Fausto Silva tiveram seus nomes lembrados, alguns  com direito a áudios. Alguém que seja mais antigo pode questionar, e com razão, o fato de não lembrarem do Show do Rádio, que mesmo sendo criado na Jovem Pan,  por alguns anos teve veiculação na própria Bandeirantes.  Além do mais, se a ideia era fazer uma linha evolutiva e fugir da sombra do “Na Geral”, a realização não foi bem sucedida por um detalhe: O Balancê era muito mais um programa de variedades do que uma atração que combinasse futebol com humor.

O “Na Geral” também foi citado nesta abertura, mas sobrou uma alfinetada para os antigos ocupantes do horário, especialmente na  hora em que foi citado o nome “O Mesmo”, divulgado durante alguns dias como o da atração substituta. Ouça mais abaixo.

resenha

Memória: como uma reportagem de Goulart de Andrade mudou a vida de Fausto Silva

Por Rodney Brocanelli

Morreu na madrugada desta terça feira, Goulart de Andrade, jornalista e apresentador de tv. Ele estava internado no Hospital Sancta Maggiore havia duas semanas devido a problemas respiratórios. Embora seu nome esteja mais ligado à televisão, Goulart apresentou programas de rádio. Um deles foi o São Paulo Zero Hora, pela Rádio Globo, de São Paulo. Segundo o site Memória Globo era um “programa jornalístico que serviria de embrião para o Plantão da Madrugada. Uma equipe de cinco repórteres, equipados com rádios de frequência modulada, ia para a rua em pontos variados da cidade, dispostos a levar o ouvinte para a agitada vida noturna paulista. Goulart de Andrade comandava a equipe do estúdio, na companhia de convidados. A partir dessa fórmula, Goulart de Andrade criou o Plantão da Madrugada (para a TV Globo) e começou a apresentá-lo durante as madrugadas dos finais de semana”.

Em suas reportagens para a televisão, Goulart sempre destacou o rádio. E ao menos uma delas mudou para sempre a vida de um repórter esportivo de rádio.

No ano de 1984, ainda pela TV Gazeta, o apresentador visitou os bastidores de do programa Balancê, da Rádio Excelsior (hoje CBN). Para quem não conhece a história do rádio, vai uma breve descrição: a atração tinha como comandante Fausto Silva, que acumulava essa função com a de repórter da equipe esportiva de Osmar Santos. Era transmitida de segunda a sexta diretamente do hoje extinto Teatro e Palhacaria Pimpão, no bairro da Santa Cecília, em São Paulo. O Balancê era um programa de variedades de grande sucesso, que contava com os esquetes humorísticos da dupla Nelson Tatá Alexandre e Carlos Roberto Escova. Outro destaque era o sonoplasta Johnny Black. A produção ficava a cargo de Lucimara Parisi. Um verdadeiro “time dos sonhos” do rádio brasileiro.

Na ocasião, o sucesso do programa chamou a atenção de Goulart, que resolveu fazer uma reportagem com o programa. Ao final das gravações, ele chegou a uma conclusão: “vocês estão fazendo tv no rádio”. Com isso, surgia o convite para que Fausto e sua equipe migrassem de veículo. Nascia assim, o Perdidos na Noite, que veio a ser apresentado na TV Gazeta, sob direção de Goulart. A repercussão foi imediata e depois o programa passou a ser exibido na TV Record e, mais tarde, na TV Bandeirantes. Até que em um belo dia, veio um convite da TV Globo para que Faustão fosse um adversário de peso para Silvio Santos na guerra da audiência dos domingos. O resto é de conhecimento público.

Por tudo isso, é possível afirmar sem exagero que uma reportagem de Goulart de Andrade mudou para sempre (e talvez, para melhor) a vida de Fausto Silva.

Com informações extraídas deste post.

No player abaixo é possível ver trechos dessa reportagem.

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Morre Carlos Roberto Escova

Por Rodney Brocanelli

Morreu neste domingo na cidade de Ourinhos, Carlos Roberto Isaías, mais conhecido como Carlos Roberto Escova, humorista e radialista com passagens pelo rádio e televisão. Ele tinha 60 anos, recém-completados em 12 de dezembro.

Segundo o portal Ourinhos Notícias, Escova esteve internado na UTI da Santa Casa de Misericórdia. O blog Radioamantes apurou que ele vinha enfrentando problemas de saúde desde outubro deste ano, em decorrência de diabetes. Além disso, o humorista teve infecção hospitalar.  O sepultamento aconteceu nesta segunda-feira, por volta das 15h.

Escova era conhecido do grande público pelas suas participações como imitador de personalidades nos programas Show de Rádio, da Jovem Pan AM, do Balancê, da Rádio Excelsior, além de fazer parte da equipe do programa Djalma Jorge, na Jovem Pan FM. Na tv, trabalhou no Perdidos na Noite, ao lado de Nélson Tatá Alexandre, apresentado por Fausto Silva nas tvs Gazeta, Record e Bandeirantes. Conseguiu até ter popularidade no difícil mercado de Porto Alegre (para quem não é da região), fazendo parte do Programa X, da Rádio Atlântida.

Após passar uma temporada em Miami, o humorista voltou ao Brasil e se radicou em Ourinhos, onde prosseguiu sua carreira nas rádios Clube e Melodia.  Nesta última, Escova participava da programação em dois horários: as 07h, dentro de um jornal, e as 11h, no programa de Luis Alberto.

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TV Gazeta reapresenta reportagem de Goulart de Andrade que mudou a vida de Fausto Silva

Por Rodney Brocanelli

Neste domingo, o programa Vem Comigo, comandado por Goulart de Andrade (o gênio, o mito) irá veicular um programa com o tema rádio. O destaque vai para a reapresentação de uma reportagem exibida em 1984, em que Goulart visita os bastidores do programa Balancê, da Rádio Excelsior (hoje CBN).

Para quem não  conhece a história do rádio, vai uma breve descrição: a atração tinha como comandante Fausto Silva, que acumulava essa função com a de repórter da equipe esportiva de Osmar Santos. Era transmitida de segunda a sexta diretamente do hoje extindo Teatro e Palhacaria Pimpão, no bairro da Santa Cecília, em São Paulo. O Balancê era um programa de variedades de grande sucesso, que contava com os esquetes humorísticos da dupla Nelson Tatá Alexandre e Carlos Roberto Escova. Outro destaque era o sonoplasta Johnny Black. A produção ficava a cargo de Lucimara Parisi. Um verdadeiro “time dos sonhos” do rádio brasileiro.

Na ocasião, o sucesso do programa chamou a atenção de Goulart, que resolveu fazer uma reportagem com o programa. Ao final das gravações, ele chegou a uma conclusão: “vocês estão fazendo tv no rádio”. Com isso, surgia o convite para Fausto e sua equipe. Nascia assim, o Perdidos na Noite, que veio a ser apresentado na TV Gazeta. A repercussão foi imediata e depois o programa passou a ser exibido na TV Record e, mais tarde, na TV Bandeirantes. Até que em um belo dia, veio um convite da TV Globo para que Faustão fosse um adversário de peso na guerra da audiência dos domingos.

Por tudo isso, é possível dizer que a reportagem de Goulart de Andrade mudou a vida de Fausto Silva. O Vem Comigo vai ao ar neste domingo, as 23h30, pela TV Gazeta.

 

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