José Silvério diz que um dos motivos para sair da Bandeirantes foi não aceitar narrar jogos do estúdio

Por Rodney Brocanelli

Em entrevista concedida ao perfil da Uninarra (União dos Narradores), o locutor esportivo José Silvério falou sobre um dos motivos pelos quais ele deixou a Rádio Bandeirantes, em abril deste ano: não aceitar narrar partidas de futebol nos estúdios da emissora e não das cabines dos estádios de futebol. “Um dos meus motivos para ter aceito tranquilamente fazer acordo com a Bandeirantes, pegar a malinha e ir embora é esse. Eu fui relutante durante muitos anos em narrar pela tv”, afirmou.

Durante a conversa,  Silvério disse que ao longo de sua carreira teve discussões incríveis para fazer valer seu ponto de vista e, em algumas ocasiões, com sucesso. “Consegui convencer o Seu Tuta de que não dava pra mim, que eu atropelava tudo. Na Jovem Pan, eu narrei muito pouco (olhando para a televisão) “, falou.

Entretanto, na Bandeirantes, o locutor passou a ter problemas. “Tive que engolir a escalação de narrar jogos de estúdio por causa da situação financeira. Aí você tem que se curvar diante daquilo que seu patrão não pode e daquilo que seu patrão não pode (sic). Mas eu tenho certeza absoluta que o locutor de rádio foi feito para estar presente no estádio”, disse.

Silvério acha que essa postura começou a lhe causar dificuldades na emissora: “uma discussão que eu tive na Bandeirantes e que me atrapalhou muito, e que eu achei que começou a ter problema para mim na Bandeirantes foi sobre isso. De querer fazer só ao vivo e do meu jeito. As pessoas não estavam concordando porque as rádios não passam por bons momentos econômicos”, afirmou.

Outro aspecto que não o agrada nas transmissões no estúdio é o fato do ouvinte ser enganado: “Então essa desculpa de que fazer jogo pela tv é melhor, isso é desculpa. Não é melhor. É muito pior. Não é uma transmissão verdadeira. Você mente muito”. Silvério complementou dizendo que não gosta de mentiras. “Sou favorável à sinceridade”, afirmou.

Esse tipo de situação, segundo ele, atrapalha o rádio, pois os grandes anunciantes acabam fugindo do veículo. No lugar deles, entram outros, de menor porte que não podem pagar o que os de maior porte pagavam. “Isso significa que o rádio não está faturando nada”, disse.

Para justificar sua posição, Silvério fez um paralelo: “se tem a televisão, ela tá fazendo o jogo, então qual é o motivo que tem para você  ouvir o rádio? Não tem motivo nenhum. Então você mesmo do rádio está dando motivo para que a rádio não tenha mais audiência. Você está dando audiência de graça para a televisão. A televisão já massacra o rádio e você ainda dá chance? Você pelo menos no campo, você tem condição, você cria algumas coisas um pouco diferentes da televisão porque você tá…não é que você vai concorrer com a televisão, porque isso é impossível(…) Se  a televisão está fazendo um jogo, mesmo que ele é  importante, ache um jogo menos importante que você vai ter mais audiência”, falou.

Participaram dessa entrevista os narradores Marcelo do Ó, Carlos Fernando e Napoleão de Almeida. Com pouco mais de uma hora de duração, José Silvério abordou outros fatos de sua carreira (o trecho que destacamos acima começa aqui). Veja abaixo.

Sucesso do rádio nos anos 80, o Balancê ganha olhar acadêmico acessível a todos os tipos de leitores

Por Rodney Brocanelli

Um dos programas de rádio mais influentes e revolucionários dos anos 1980, o  Balancê, apresentado pela antiga Rádio Excelsior (hoje CBN) foi objeto de uma dissertação de mestrado apresentado na Escola de Comunicações e Artes da USP,  no último dia primeiro de setembro. Com a aprovação da banca examinadora, Felipe Martinelli, o autor, conseguiu seu título acadêmico. Martinelli é conhecido dos leitores deste blog por conceder uma entrevista ao Radioamantes no Ar sobre Carlos Roberto Escova, em dezembro de 2015. O humorista, que teve participação de destaque no programa de rádio, morrera poucos dias antes, e o agora mestre falou na ocasião sobre o encontro que os dois tiveram na cidade de Ourinhos, em outubro de 2007. Muitas informações das conversas de ambos estão nessa dissertação.

O grande mérito de “Girando a roda do Balancê: a trajetória de um programa e a  transformação do rádio paulistano” é atrair tanto a comunidade acadêmica (sua finalidade principal) como ao leitor comum, seja aquele que é interessado na história do rádio por hobby, ou aos saudosistas que acompanharam o programa em grande parte de sua existência no dial paulistano.

Martinelli fez a divisão da trajetória do programa em quatro fases. A  primeira começa (obviamente) em sua estreia, no 07 de abril de 1980 e vai até 1983. A atração nasceu de uma necessidade de Osmar Santos, principal nome do departamento esportivo da Globo-Excelsior de entrar em outras áreas além do futebol, como as artes e a política. Osmar iria apresentar o programa, mas caso ele tivesse algum outro compromisso, um co-apresentador assumiria o comando. Juarez Sores foi o escolhido para a missão. Nessa fase, a parte politizada do programa justamente é a que iria dar dores de cabeça a todos, desde o alto escalão da emissora até a equipe de produção. Já naquela época, o  sonoplasta Johnny Black se destacava por dar uma plástica toda peculiar ao Balancê.

A partir de 1983, com a saída de Juarez Soares, que se transfere para a TV Bandeirantes a fim de apresentar o Show do Esporte, começa a outra fase. Meio que por acaso, até. Alguns dos integrantes da equipe esportiva da Globo-Excelsior não tinham, digamos, o perfil para um programa daquele porte. Jorge de Souza, Odinei Edson e Reinaldo Costa foram testados para co-apresentar o programa com Osmar Santos,  até que se chegou ao nome de Fausto Silva. Com isso, o Balancê tomou outro rumo, e contribuiu muito para isso a química do novo apresentador com os humoristas Carlos Roberto Escova e Nélson Tatá Alexandre (e Johnny Black, é claro). A atração mais ficou mais anárquica e irreverente.

Martinelli nos revela, falando dessa fase, que Fausto Silva e Osmar Santos, não tinham o que se consideraria uma amizade fora dos microfones. Aliás, isso é mais comum do que possa parecer. Existem vários casos (e alguns deles muito atuais) no rádio de gente que não se suporta, mas devido a compromissos comerciais, técnicos, entre outros, deixa as rusgas de lado quando estão no ar. O texto relata alguns momentos de alfinetadas de Faustão em Osmar por muitas questões, especialmente salários.  Nessa fase, o Balancê passa a ser apresentado em um teatro por uma questão simples. Não dava para acomodar no estúdio todos os que desejavam acompanhar o programa ao vivo, além, é claro, dos convidados.

A terceira fase, vai de 1985 até 1987. Em 85, Fausto Silva se transfere para a Rádio Record. Vale lembrar que já naquela época, ele já está com o Perdidos na Noite na televisão, cujo processo de criação é devidamente contado por Martinelli em seu texto. Oscar Ulisses passa a apresentar o Balancê em alguns dias da semana. A derradeira fase do programa abrange grande parte do ano de 1988. Aqui, Osmar já havia se transferido para a Rádio Record e costurado um acordo com a Rádio Gazeta para repetir a dobradinha Globo-Excelsior. Na Gazeta, as últimas edições do Balancê foram transmitidas. O perfil passa a ser o de um programa de variedades, com a apresentação de Carlos Fernando (talvez algo mais adequado à sua personalidade).

O tema central da tese de Martinelli, obviamente, é o Balancê. Mesmo assim, seu texto não deixa de contemplar outras emissoras. A Jovem Pan ganha um espaço generoso, até porque de lá saíram profissionais importantes para a história do programa da Excelsior. Além disso, perto do final, é explicada até de que forma a Rádio Record viabilizou financeiramente seu departamento de esportes, lançado em 85, com a adoção, já naquela época, dos hoje detestados contratos de Pessoa Jurídica. O responsável por isso é um conhecido executivo de rádios ainda na ativa e que volta e meia ganha elogios e citações simpáticas de colegas, sendo apontado como exemplo de um gestor genial.

O  mestrado de Felipe Martinelli pode ser lido em sua íntegra no link a seguir. Logo abaixo, tem lá o caminho para o pdf. Boa leitura.

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27161/tde-27092017-093957/pt-br.php

girando a roda

Projeto de futebol na Band News FM comemora seu segundo aniversário

Por Rodney Brocanelli

O gol número 100 da carreira de Rogério Ceni (pelas contas do jogador, bem entendido) comemora dois anos neste dia 27 de março. Há dois anos, neste mesmo dia, entrava no ar o projeto de futebol da Band News FM. De lá para cá, ocorreram alumas mudanças de profissionais. Os narradores Odnei Edson e Carlos Fernando deram lugar a Dirceu Marchiolli e Alex Muller. Eric Beting, um de seus primeiros comentaristas, também não faz mais parte da equipe. Ouça no player abaixo o gol de Rogério Ceni na partida contra o Corinthians, que marcou a estreia da Band News no Futebol. A narração é de Odnei Edson.

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