As vozes que vieram da Suécia

O blog Radioamantes abre espaço mais um excelente texto do jornalista e radialista Flávio Araújo, com passagens pelas rádios Bandeirantes e Gazeta. Ele escreve sobre a cobertura feita pelo rádio da Copa de 1958, disputada na Suécia.  Leitura altamente recomendável (Rodney Brocanelli)

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 A avançada tecnológica que corre em ritmo alucinante nos dias atuais impedindo-nos de prever se o celular de hoje ainda terá a mesma utilidade amanhã andava a passos de tartaruga naquele ano de 1958.

É certo que todo o planeta viveu uma grande arrancada de progresso tecnológico nos anos que se seguiram ao término da II Guerra Mundial, mas no campo das comunicações o período compreendido entre 1945 e 1958 não tinha muito a comemorar.

Nesse terreno nossas transmissões esportivas obedeciam os mesmos critérios de anos anteriores com a necessidade da Cia. Telefônica Brasileira em conjunto com telefônicas regionais.

As precursoras Radional e Radiobrás só viriam nos anos 1960 e de satélite de comunicações só havia cientistas sonhando que um dia eles iriam ao espaço.

Dizem que o primeiro que sonhou foi Isaac Newton ao desenvolver as teorias de sua grande descoberta, a lei da gravidade, mas foi preciso que séculos se passassem até que os russos em 1957 lançassem o Sputnik 1, o primeiro de milhares que hoje desvendam em velocidade alucinante os mistérios cósmicos.

Mesmo assim e com todo o suporte técnico em 2014 basta que alguns raios risquem os céus para que as imagens de televisão desapareçam e por muitos minutos fiquem buscando suas conexões com seus satélites, o que nem sempre acontece.

Ai estão a SKY e tantas outras para provar que escrevo a verdade nua e bastante crua.

No capítulo, quando me referi às transmissões esportivas só pensava no rádio, pois, também televisão, embora já existente no Brasil desde 1950 ainda não entrara nessa disputa.

São Paulo era uma cidade de 3 milhões e meio de habitantes quando o Brasil conquistou sua primeira Copa do Mundo, Brasil que somava então um contingente de 70 milhões de brasileiros.

O som do rádio que vinha da Suécia era a forma exclusiva que os brasileiros tinham para acompanhar os jogos do selecionado nacional e nos horários em que o Escrete atuava o Brasil abria ouvidos e parava pernas.

Uma diferença notável dos dias atuais quando acompanhamos em cores naturais os jogos de praticamente todos os grandes campeonatos dos países filiados à FIFA, a organização que tem sob seus braços mais tutelados do que a própria ONU.

UMA TELEVISÃO NA COPA DE 1958

O espírito criativo de um dos gênios do rádio brasileiro criou uma forma para que o povo de São Paulo pudesse acompanhar o som do rádio que transpunha o Atlântico com algo mais.

As vozes de Edson Leite e Pedro Luiz comandavam essas transmissões com os comentários de Mário Moraes pela Bandeirantes de São Paulo e na criatividade de Edson e no complemento da execução pelo engenheiro Júlio de Oliveira foi que nasceu o painel eletrônico.

Um simples retângulo de madeira com uns 15 metros de cumprimento por 10 de altura foi colocado na Praça da Sé e simultaneamente outro na Praça da República.

Uma mesa de som comandava o deslizar da bola em furinhos que permitiam a passagem de luz num arremedo de uma futura transmissão televisiva.

O objetivo era marcar de forma mais contundente e dramática a transmissão da emissora, mas pelo inusitado do feito hoje está até merecendo que livros sejam escritos a respeito.

Iniciante na emissora cuidava das reportagens que antecediam as transmissões, as chamadas “salas de espera”, apenas que no meu caso, em movimentação com a viatura de transmissão volante.

Não sei quantas vezes fui da Praça da Sé até à República, só sei que a experiência da primeira Copa do Mundo não me permitiu ouvir outras vozes importantes que através de diversas emissoras chegavam até nós.

Jornais e revistas enviaram correspondentes à Suécia, porém, com a demora para a chegada do material de um local tão distante mais aumentava a atenção para as vozes do rádio.

São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul enviaram seus locutores e comentaristas principais para o comando das transmissões enquanto as outras emissoras do país, acredito que a unanimidade, fizeram cadeias com ou sem representantes diretos.

Outro dia li uma reportagem de jornal informando que de todas as vozes da Copa de 1958 só uma ainda pode ser ouvida.

A do locutor José Alves BRAGA JÚNIOR, capixaba que vindo do Rio de Janeiro trabalhava na época da Copa na Rádio Panamericana de São Paulo e que depois foi meu colega por cerca de 3 anos na Bandeirantes.

Seria o único remanescente entre todos os que tiveram o privilégio de irradiar a primeira conquista brasileira em mundiais da FIFA, onde na verdade tudo começou para transformar o Escrete nacional em maior papão de Copas.

Escrevi no condicional já que além das figuras do rádio que comandaram transmissões dos jogos do Brasil na epopeia sueca narrando ao vivo o grande feito muitos outros de emissoras que formavam nas diversas cadeias se fizeram ouvir e não tenho como comprovar se ainda estão por aqui.

Também não é de se admirar já que a voragem do tempo que a nada perdoa só conserva entre nós, quando o Brasil se prepara para sediar a 20ª. Copa do Mundo, 8 daqueles 22 craques que conquistaram o primeiro caneco na Suécia, Copa de número 6: Bellini, Dino, Zito, Moacir, Mazola, Pelé, Zagalo e Pepe.

Os demais estão disputando torneios nos Campos do Senhor com as narrações maravilhosas de Pedro Luiz, Edson Leite, Waldir Amaral, Jorge Curi, Oduvaldo Cozzi, Luiz Mendes, Geraldo José de Almeida, Orlando Batista e Mendes Ribeiro, verdadeiras vozes da Suécia ao comando de vibrantes transmissões.

Mendes Ribeiro era o narrador da Rádio Guaíba de Porto Alegre, a detentora do maior número de transmissões internacionais nos anos de meu início no grande rádio.

Orlando Batista, com quem tive sempre um excelente relacionamento era um catarinense com carreira toda desenvolvida no Rio de Janeiro e pelo meu conhecimento é o recordista em transmissões de Copas do Mundo desde a 1ª. Em que participou em 1950 até a última que transmitiu em 2002.

Ao todo, Batista, que desenvolveu sua carreira de locutor-esportivo na Rádio Mauá tendo por largo tempo como comentarista principal o grande artilheiro Ademir de Menezes transmitiu 14 Copas do Mundo.

Comprovando as dificuldades técnicas da época os gaúchos mantinham um transmissor fixo na Suíça e dessa maneira realizavam trabalhos na excursão de equipes do sul com muito mais facilidade e categoria do que as emissoras do Rio e de São Paulo.

Depois de Mendes Ribeiro quem o substituiu foi Pedro Carneiro Pereira, outro campeão de transmissões internacionais, mas que tinha como hobby pilotar carros de corrida o que provocou sua morte precoce.  

Na marcha da tecnologia que se acentuava as imagens da televisão só trouxeram a visão do rolar da bola em Copas para o Brasil em 1970.

Nesse ano, lembro-me bem, para transmitir pelo rádio a despedida do Brasil dos campos nacionais na inauguração do estádio de Manaus tivemos que levar para lá uma imensa parafernália que se compunha inclusive de um transmissor.

São Paulo já tinha 6 milhões de habitantes e o Brasil já podia ouvir e cantar os versos de Miguel Gustavo que todos decoraram: “noventa milhões em ação, prá frente Brasil, do meu coração.”

 

Flávio Araújo colabora regularmente com o site Ribeirão Preto On Line. Leia outros textos de sua autoria clicando no link abaixo

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flavioaraujo

5 de julho de 1982. Há 30 anos, Brasil e Itália faziam uma das mais eletrizantes partidas da história das Copas

Por Rodney Brocanelli

O dia 5 de julho marcou uma das datas mais tristes na história da seleção brasileira de futebol. Jogando no estádio Sarriá, em Barcelona, os comandados de Telê Santana perdiam para a Itália pelo placar de 3 a 2 e davam adeus à Copa que no ano de 1982 era disputada na Espanha. Mesmo com as conquistas de 1994 e 2002, torcedores e jornalistas se perguntam até hoje sobre o que deu errado naquele dia. Bastava apenas um empate para que o Brasil chegasse às semifinais. Mas a Squadra Azurra apareceu pelo caminho. Além de adiar o sonho da conquista do título mundial, aquele resultado serviu para sepultar de vez a prática do futebol arte. Desde então, tivemos apenas alguns lampejos que apareciam de forma individual, graças ao talento de Romário e Ronaldo, cada um em sua época.

O blog Radioamantes leva você de volta ao dia 5 de julho de 1982. A nossa máquina do tempo é o rádio.

O quinto sinal da Rádio Bandeirantes marcava pontualmente 12h15, 16h15, horário local. Fiori Gigliotti anuncia o início da partida.

Para espanto geral, a Itáia saia na frente, logo aos 4 minutos de partida. Defesa brasileira vacilou. Paolo Rossi marcava, de cabeça. José Silvério estava na Jovem Pan.

A resposta brasileira não tardou. Sócrates recebeu um belo lançamento de Zico e avançou até entrar na área. O goleiro Dino Zoff tentou fechar o ângulo. Mas o Doutor, com o sangue frio que lhe era pecuilar, mandou para o gol. Osmar Santos narrou esse lance na Rádio Globo.

Mas Paolo Rossi se aproveitava mais uma vez de uma falha da defesa brasileira para marcar o segundo gol da Itália. O lance pegou muita gente desprevenida. José Silvério narrou esse lance na Jovem Pan.

No segundo tempo, o Brasil veio com tudo para tentar ao menos o empate. Falcão, na época o Rei de Roma, mandou um belo chute de média distância. E um detalhe que a televisão não mostrou: Cerezo, um dos responsáveis pelo lance que originou o segundo gol da Itália, chorou de emoção. José Silvério observou bem esse detalhe na Pan.

Armindo Antônio Ranzolin traduziu na Rádio Guaíba todo o orgulho pelo gol do “compatriota” Falção.

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Mas aquela não era a tarde do Brasil. Em um escanteio aparentemente inofensivo, a Itália chegaria ao seu terceiro gol. Mais uma vez, Paolo Rossi. Flávio Araújo, então na Rádio Gazeta (SP) não escondeu a decepção.

Na Rádio Nacional, o garotinho ligeiro José Carlos Araújo ficou de queixo caído com o gol de Rossi.

O Brasil quase conseguiu o empate em uma cabeçada do zagueiro Oscar. O goleiro Dino Zoff operou um verdadeiro milagre. José Carlos Araújo, na Rádio Nacional, viu essa bola no gol.

Não teve jeito para o Brasil. O árbitro israelense (o Wikipedia diz que ele tem também nacionalidade romena) Abraham Klein apitou o fim de jogo. A perplexidade tomava conta da torcida brasileira. Fiori Gigliotti traduzia bem esse sentimento na Rádio Bandeirantes.

Passado o impacto da derrota, nada melhor que uma avaliação fria para se concluir em que a seleção brasileira errou. Eis a palavra de João Saldanha, então na Rádio Tupi. A metáfora do macaquinho é impagável.

Gorducinha x Caramuri: aberta a disputa para dar nome à bola da Copa de 2014

do Laboratório Pop

A campanha que vista batizar a bola da Copa de 2014, que será disputada no Brasil, como Gorduchinha já tem uma concorrente de peso. Nas últimas horas, a mídia deu grande destaque a ideia de Vaubel Mafra, contador de origem amazonense. Sua sugestão é que o nome seja Caramuri. A proposta de Mafra, que também é diretor da Associação Amazonense dos Municípios, já chegou a Adidas e, segundo ele em entrevistas a veículos locais, será analisada pela empresa.

Caramuri é o nome de uma fruta típica da região, cuja colheita acontece de quatro em quatro anos, coincidentemente nos anos em que a Copa é disputada, entre os meses de março e maio.

Existe um viés ambientalista nessa campanha, uma vez que o Caramuri corre o risco de se extinguir. É necessário derrubar a árvore para se conseguir o fruto. A intenção de Mafra é chamar a atenção para esse fato e, quem sabe, instituir uma alternativa para uma esse tipo de colheita.

O LABORATÓRIO POP procurou Delen Bueno, um dos responsáveis pela campanha da bola Gorduchinha para comentar o fato de aparecer uma concorrente para o batismo  da bola de 2014. No entanto, a manifestação foi feita por intermédio do perfil no Facebook: “Mais um nome proposto para a bola da Copa de 2014: Caramuri. Muito bom! Bela proposta. Mas como apaixonados por futebol adoramos uma boa disputa. Isto ajuda a demonstrar como estamos sintonizados no lance”.

O mote da Gorduchinha é homenagear o narrador esportivo Osmar Santos, afastado do rádio e da tv desde que sofreu um acidente automobilístico em 1994, comprometendo sua fala. Um de seus bordões enquanto esteve na ativa era “ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”, usado para descrever lances de perigo.