No último domingo (30), Rodney Brocanelli, um dos responsáveis pelo blog Radioamantes concedeu uma entrevista ao programa Resenha Final, da Rádio Progresso, de Ijuí (RS), comandado por Fabiano Bernardes. O tema principal foi a cobertura feita pelas emissoras de rádio na Copa Japão-Coreia, de 2002, conquistada pelo Brasil (efeméride que completou 17 anos). Além disso, foram abordados outros temais relacionados ao rádio esportivo contemporâneo (web rádios, transmissões pela internet, entre outros temas). Ouça no player abaixo.
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Memória: a Copa de 2002 nas ondas do rádio
Por Rodney Brocanelli
-A Copa Japão/Coreia de 2002 foi a primeira cuja revenda dos direitos de transmissão ficou a cargo do Grupo Globo. Com isso, muitas emissoras de rádio optaram por não transmitir aquela competição. O valor (US$ 25 mil) foi considerado caro demais na ocasião. Segundo a Folha de S. Paulo, apenas 12 rádios toparam desembolsar a quantia pedida. Com isso, a Jovem Pan resolveu fazer uma cobertura alternativa. Ela contratou grandes nomes do futebol (Luxemburgo, Leão, Zagallo, Candinho, Romário, entre outros) para comentar os jogos do Brasil durante o seu desenrolar. Globo e Bandeirantes até chiaram. A segunda colocou seu departamento jurídico de prontidão, segundo a Folha, para tomar qualquer providência se houvesse uma “transmissão mascarada”. Um anúncio foi até publicado pela Band nos jornais: “Atenção. Aviso ao público: faça como as rádios que não compraram e não pagaram os direitos de transmissão da Copa do Mundo. Ouça os jogos pela Bandeirantes”. Em outra frente, a Pan enviou Wanderley Nogueira para a cobertura do dia-a-dia da seleção. O repórter tinha prioridade total para entrar na programação da emissora. O detalhe: Wanderley não tinha credencial. Isso não chegou a ser um impedimento e o fator sorte contou muito. A seleção brasileira não se hospedou no hotel determinado pela Fifa. A delegação foi para um lugar onde estava hospedado Wanderley. Além disso, os jogadores fizeram seus treinos em locais que não foram indicados pela entidade, outro fator que facilitou o trabalho do repórter. Além disso, a cumplicidade dos atletas com Wanderley ajudou bastante. Cafu e Émerson chegaram a ir até o quarto do repórter para conceder entrevistas.
-José Silvério estava na Rádio Bandeirantes havia quase dois anos. Foi sua primeira Copa como titular na emissora. Na época, algo que chamou a atenção foi o fato de que as narrações de Silvério chegavam bem antes dos gols da seleção brasileira na televisão. Isso contou muitos pontos a favor do locutor, que ganhou a admiração de muitos ouvintes por “antever” um gol de Ronaldo ou Rivaldo. A explicação para o fenômeno é bem simples. Tanto a Rádio Bandeirantes como a TV Globo usaram o satélite para as suas transmissões. Porém, o sinal da Globo chegava frações de segundo mais atrasadas por estarem juntos som e imagem. Para a Bandeirantes, só chegava o áudio, por isso a não demora na entrega. Vale lembrar que estamos falando de tv aberta. O Sportv transmitiu também aquela Copa, mas a tv por assinatura ainda não era tão popularizada no país. José Silvério fez narrações memoráveis dos jogos do Brasil. O gol de Ronaldinho contra a Inglaterra ganhou a melhor descrição possível: “ele enganoooou o muunnnndo”. Dunga foi um dos comentaristas daquela Copa na Bandeirantes. O ex-jogador e técnico (ou ex, quem sabe) esteve ao lado de Silvério nos jogos disputados na Coreia (onde o Brasil ficou na primeira fase) e no Japão. Roberto Avallone, do Brasil, também participou daquelas transmissões. Os repórteres eram Leandro Quessada e Eduardo Castro. Curiosidade: as chamadas do evento na emissora tiveram a voz do ator e dublador Francisco Milani (quem aí lembra do Seu Saraiva, do antigo Zorra Total?)
-O Sistema Globo de Rádio decidiu economizar no que diz respeito aos direitos de transmissão da Copa de 2002 e formou uma equipe só para a cobertura do evento. Antes, as rádios do Rio e de São Paulo tinham autonomia para fazer cada uma as suas transmissões. Além disso, estava em prática o projeto de rede da emissora, que naufragou tempos depois. José Carlos Araújo, então na Globo carioca, foi a voz dos jogos do Brasil para todas as emissoras da rede, incluindo São Paulo. E profissionais das emissoras de todas as praças foram unidos para a transmissão dos outros jogos (offtube ou geladão). Um exemplo: a partida entre China e Costa Rica (adversários do do mesmo grupo do Brasil) foi transmitida pelo Edson Mauro e Rui Fernando, dos estúdios no Rio, Luiz Augusto Maltoni e Osmar Garrafa, de São Paulo. Mauro foi o narrador, com o Maltoni comentando e a dupla Guilherme/Garrafa como os pontas/metas/goleira. A CBN optou por fazer o mesmo tipo de cobertura da Jovem Pan.
– A Transamérica marcou presença nessa cobertura com a equipe liderada por Éder Luiz. Na Grande São Paulo, as rádios América e Difusora, esta de Osasco, também irradiaram a Copa de 2002. A primeira entrou em rede com a Rádio K do Brasil, na época de propriedade de Jorge Kajuru. A segunda entrou em cadeia com a Rádio Sociedade, de Salvador. Da região Nordeste, destacamos a presença da Rádio Jornal, de Recife. A Itatiaia, de Belo Horizonte, Guaíba e Gaúcha, de Porto Alegre marcaram presença. Uma outra rádio de Porto Alegre também esteve presente: a Rádio Pampa. Do Paraná, a única que esteve presente foi a Rádio Paiquerê, de Londrina, como bem lembra Edu Cesar.
Vamos a alguns registros sonoros:
Ronaldo marca o primeiro gol do Brasil na grande final. José Silvério narrou na Rádio Bandeirantes.
Silvério narra o segundo gol de Ronaldo.
Abaixo, é possível ouvir os gols da final entre Brasil x Alemanha com a narração de Haroldo de Souza, então pela Rádio Guaíba.
Ouça a narração de Pedro Ernesto Denardin, da Rádio Gaúcha.
Ouça o gol de Ronaldo (o segundo daquela decisão) narrado por Willy Gonser, da Rádio Itatiaia.
E mais: a narração de Adilson Couto, da Rádio Jornal (PE)
Ouça a narração de José Carlos Araújo, da Rádio Globo.