Relembre as onze finais de Copa do Mundo narradas por José Silvério

Por Rodney Brocanelli

Faltando uma semana para o começo da Copa de 2022, como não há perspectivas de mudanças aos 45 minutos do segundo tempo, podemos dizer que infelizmente José Silvério não vai participar desta cobertura como narrador. Seria a décima-segunda, em uma tradição iniciada na Copa da Argentina, em 1978. Em todas essas ocasiões, Silvério foi protagonista, narrando pelas rádios Jovem Pan e Bandeirantes. Mais que um lamento, vamos relembrar nesta postagem a bela história escrita por um dos principais narradores brasileiros na maior competição do futebol de seleções, destacando a sua participação nas finais.

1978/Argentina – Foi a primeira Copa de Silvério pela Rádio Jovem Pan, na Argentina. Em outubro de 1977, ele substituiu Osmar Santos, que havia se transferido pela Rádio Globo. Seu prestígio na emissora era tamanho, que ele foi escalado pelo Seu Tuta para fazer a decisão do terceiro lugar, envolvendo Brasil x Itália e a grande final, entre os donos da casa e a Holanda. O que ninguém imaginava é que uma úlcera fosse atrapalhar a transmissão. “Eu narrei a final sangrando, literalmente”, disse. Infelizmente, a Pan não tem o registro da narração de Silvério para a final de 78, cujo placar foi 3 a 1 para a Argentina. Deixamos aqui um depoimento que ele deu ao programa Sofá Bandeirantes.

1982/Espanha – Era uma final em que o Brasil deveria estar. Pelo menos essa era a expectativa de quase 120 milhões e outros milhares de admiradores do futebol. A seleção comandada por Telê Santana, apesar de alguns defeitos, encantou a todos. Só não estava no script a eliminação na partida contra Itália. Bastava apenas um empate, mas o talento de Paolo Rossi e a disciplina tática dos outros jogadores da Azzurra acabaram com o sonho brasileiro. Depois de eliminar a Polôna na semifinal, os italianos se classificaram para a grande final com a Alemanha. Silvério esteve lá pela Jovem Pan e sem incidentes. Placar final: 3 a 1 Itália. Ouça abaixo.

1986/México – Telê Santana novamente comandou a seleção brasileira, com remanescentes da Copa anterior e uma nova geração que surgiu neste período de quatro anos. O começo da campanha não empolgou muito, mas o Brasil avançou para a fase de mata-mata, que voltou a ser implantada após uma pausa em 1974. Nas quartas-de-final, a seleção brasileira foi eliminada nos pênaltis pela seleção francesa. Enquanto isso, um personagem emergia: Maradona. Com gol de mão, gol de placa e uma técnica acima da média, ele colocou a Argentina na final. Por outro lado, a Alemanha também chegou para a disputa do título, repetindo 1982. Placar final: Argentina 3 a 2. Ouça abaixo.

1990/Itália – A Copa marcada pelo início da Era Dunga. Sob o comando de Sebastião Lazzaroni, a seleção brasileira apresentou um futebol que não despertou suspiros. Para piorar, houve problemas com dinheiro de patrocinador, o que fez com que os jogadores convocados não contassem com muita simpatia, sendo considerados mercenários. Mais uma vez quem brilhou foi Maradona. Na partida eliminatória da Argentina contra o Brasil, mesmo cercado por três jogadores, o camisa 10 argentino conseguiu dar um passe para Caniggia fazer o gol da classificação. Os argentinos ainda desclassificaram os donos da casa e chegaram à final. Do outro lado, adivinhem, a Alemanha. Depois de dois revezes, havia chegado a hora dos alemães ficarem com o título. Placar final: 1 a 0. Ouça abaixo.

1994/EUA – Temos aqui a sequência da Era Dunga, com remanescentes da copa anterior. Apesar da desconfiança que surgiu no período das eliminatórias, a seleção brasileira foi crescendo na hora certa (e vale o clichê aqui). Carlos Alberto Parreira talvez tenha feito o seu melhor trabalho como técnico. Romário foi um dos destaques. Outro foi justamente Dunga, execrado após o fracasso na Itália. E por falar no país da Bota (sdds. Silvio Lancellotti), a seleção brasileira enfrentou a seleção italiana na grande final. Uma repetição da decisão de 1970. Silvério estava lá. Pena que o jogo em si não tenha sido a altura de tanta tradição e de tanta coisa envolvida. Mesmo assim, não deixou de ser um marco histórico para o narrador. Ouça abaixo a decisão por tiros livres da marca do pênalti,

1998/França – O período de antecedeu esta Copa foi marcado pela ascensão de Ronaldo. Jogando no futebol europeu, ele se transformou em fenômeno com seus gols impressionantes. Isso fez com que ele se transformasse em uma referência para a seleção brasileira. O time treinado por Zagallo tinha atletas das duas campanhas anteriores e jogadores que já mereciam estar no elenco de 1994. A campanha em si teve altos e baixos, com uma derrota para a Noruega na fase de grupos. Parecia que faltava alguma coisa na seleção brasileira. Mas isso não impediu a chegada em sua segunda final seguida. O adversário era a dona da casa, que tinha uma seleção bem montada. Além da derrota do Brasil para a França, ficou marcado todo o bastidor envolvendo Ronaldo, que passara mal horas antes da final. Até hoje ninguém tem uma explicação definitiva para o que aconteceu. Zidane, que não teve nada a ver com isso, fez dois gols de cabeça. Placar final: 3 a 0. Ouça abaixo.

2002 Coreia-Japão – Mais uma vez a seleção brasileira vive quatro anos de trancos e barrancos. Wanderley Luxemburgo, que começou o ciclo, não permaneceu e foi sucedido por mais dois profissionais (Candinho por um jogo só e Émerson Leão) até a chegada de Luiz Felipe Scolari. Enquanto isso, Ronaldo enfrentava seus problemas. Uma lesão patelar deixou em dúvida até mesmo a sua continuidade no futebol. No entanto, ele se recuperou a tempo e as coisas deram certo na hora certa. De contestado, ele passou à heroi. O Brasil cresceu na competição (olha aí o clichê de novo) e chegou à final sem ser derrotado ou empatar alguma partida. O oponente seria a Alemanha. José Silvério acabara de passar por uma mudança radical em sua carreira. Aproximadamente dois anos antes, ele trocou a Jovem Pan pela concorrente Rádio Bandeirantes. Mal sabia ele que havia feito uma boa escolha. A Pan decidiu não transmitir aquele mundial e fazer uma cobertura alternativa. Silvério esteve presente em todos os jogos do Brasil e pode enfileirar uma série de narrações inesquecíveis diretmanete dos estádios. Placar final: 2 a 0. Ouça abaixo.

2006 – Alemanha – Essa aqui foi a Copa do oba oba para a seleção brasileira. Muitos craques, mas pouquíssimo foco, em especial no período de treinamento. Havia uma nova geração pedindo passagem, mas o que fazer com os craques que vinham dando tão certo nos anos anteriores? Carlos Alberto Parreira não conseguiu solucionar essa questão e o Brasil caiu ainda nas oitavas para a França em uma noite inspiradíssima de Zidane. Silvério fez a sua segunda Copa pela Bandeirantes e ele começava a viver um drama pessoal, com a doença de sua primeira esposa, Sebastiana de Andrade. No ano anterior, o Grupo Bandeirantes colocava no ar a Band News FM, emissora com 24 horas de notícias. A caçula entrou em rede com a Bandeirantes e com isso, as irradiações de Silvério foram mais longe, com outras emissoras que compunham a rede. Itália e França disputaram a grande final, que passou à história não pelo título (mais um) da Azzurra, mas pela cabeçada de Zidane em Materazzi.

2010 – África do Sul – Depois da bagunça, a quase ditadura. A CBF resolveu inovar e alçou ao comando da seleção brasileira o ex-jogador Dunga. A ideia até que era interessante, mas o temperamento do agora treinador não ajudou em nada. Apesar dos títulos na Copa América e da Copa das Confederações, a campanha no Mundial não mostrou qualquer brilho. Para piorar, a indisposição de Dunga com parte da imprensa serviu para que ele angariasse ainda mais antipatia. O Brasil caiu nas quartas com a derrota para a Holanda, que chegaria a final 32 anos após ser batida pela Argentina, em 1978. Do outro lado estava a sensação Espanha. Os espanhóis venceram na prorrogação. Mais uma vez a parceria com a Band News foi repetida. Aquela foi uma Copa fria, não pelos jogos em si, mas pelo fato de seu período de competição coincidir com uma fase de baixíssimas temperaturas naquele país. Isso não afetou Silvério que esteve presente na decisão. Placar final: 1 a 0. Ouça abaixo.

2014/Brasil – Sediar uma Copa do Mundo quase virou um pesadelo para o país do futebol. Um ano antes, às vésperas da Copa das Confederações, protestos começaram a pipocar por diversas partes. A Fifa ficou preocupada por muito pouco o torneio não aconteceu em outro lugar. A seleção brasileira chegou a esta competição sob comando duplo: Luiz Felipe Scolari como treinador e Carlos Alberto Parreira como coordenador. Eles chegaram para substituir Mano Menezes, que fizera um trabalho irregular. À medida em que os jogos aconteciam, a tensão aumentava entre os jogadores brasileiros. Não por fatores externos, mas porque, conforme o jornalista Paulo Vinícius Coelho, ninguém queria cometer erros que pudessem tirar a seleção dos trilhos. Isso ficou mais visível na partida contra o Chile, na qual a classificação só veio na disputa dos tiros livres. Para piorar as coisas, uma grave contusão afastou Neymar na parida das oitavas contra a Colômbia. Não foi uma Copa fácil para Silvério. Durante a transmissão da partida contra Colômbia, ele ficou sem voz e teve de dar lugar a Ulisses Costa. E depois, já recuperado, ele irradiou a derrota para a Alemanha na semifinal pelo placar de 7 a 1, talvez o maior desastre brasileiro na história das Copas. Na outra perna, a Argentina, de Messi, foi tirando de cena os oponentes para chegar à grande final no Maracanã. Quem brilhou foi um jovem atleta, Mario Götze, que fez o gol solitário daquela partida. Placar final: 1 a 0. Ouça abaixo.

2018/Rússia – Mais uma mudança no comando técnico. Dunga era trazido de volta pela CBF. Se em 2010 era uma inovação, o ato foi conservador, desta vez. Mas infelizmente, a jogada não deu certo. O futebol apresentado era paupérrimo, especialmente nas eliminatórias, apesar da continuidade do protagonismo de Neymar. Houve uma mudança de rumo e Tite veio para ajustar as coisas. Se o Brasil deu esperança aos torcedores durante o período pré-Copa, na competição em si novamente o futebol, mais uma vez, não empolgou. Alguns jogadores renderem aquém do esperado. Neymar ficou marcado por suas simulações espalhafatosas, que foram ridicularizadas nas redes sociais. Enquanto Brasil ficava pelo caminho, a França, de Mbappé, e a Croácia, de Modric, chegavam à decisão. Era a décima-primeira Copa de José Silvério, um recorde pessoal. Diferente das outras, a partida final foi empolgante, com seis gols. Os frances conquistaram seu segundo título. Pouco depois do apito final, emocionado, ele disse “cumpri”. Antes de passar o comando da jornada para Milton Neves, ele complementou: “são onze Copas do Mundo transmitidas na final do estádio. Um marco. Obrigado, você ajudou muito. Tchau”. Placar final: 4 a 2. Ouça abaixo.

Dois anos depois, durante a pandemia, a Rádio Bandeirantes resolveu antecipar o fim de contrato com o locutor. Ele até ensaiou um retorno ao rádio, pela Capital, mas o projeto não durou muito, infelizmente. Em entrevistas recentes, ele tem deixado claro que se aposentou. Uma pena que sem fazer ao menos mais uma Copa. Condições para isso existiam, como ele demonstrou. Perde o rádio.

Oscar Ulisses e Nilson Cesar seguem sem narrar conquistas do Brasil em Copas do Mundo

Por Rodney Brocanelli(*)

A Copa do Mundo da Rússia caminha para seu término e pelo menos dois narradores titulares de grandes emissoras de São Paulo seguem sem ter narrado um título mundial do Brasil. São eles: Oscar Ulisses, da Rádio Globo, e Nilson Cesar, da Rádio Jovem Pan. Se não houver qualquer alteração de última hora nas escalas, eles estarão narrando a grande final do próximo domingo, envolvendo França e Croácia por suas emissoras.

No encerramento da transmissão de Brasil x Bélgica, partida válida pelas oitavas-de-final (veja abaixo), Nilson Cesar falou da sua frustração pessoal com a desclassificação brasileira, uma vez que ele tem o sonho de gritar “Brasil Campeão” no microfone da sua emissora. “Nesses 36 anos, apesar de oito Copas aqui na Jovem Pan, não tive essa chance ainda, mas quem sabe no Catar, né? Vamos torcer para que isso possa ocorrer um dia na minha vida”, acrescentou. Nilson Cesar passou a ser titular da narração na Jovem Pan no ano 2000, quando José Silvério se transferiu para a Rádio Bandeirantes. Desde 2006,  ele esteve em todas as finais. A seleção brasileira é que decepcionou.

Quando o Brasil se sagrou pentacampeão mundial na Copa realizada na Coréia/Japão, em 2002, a Jovem Pan não transmitiu aquela competição. A direção da emissora decidiu não desembolsar o valor cobrado pelos direitos de transmissão e optou por seguir um caminho alternativo (saiba mais aqui).

Por outro lado, uma decisão da Rádio Globo acabou fazendo com que Oscar Ulisses, titular das jornadas esportivas da capital paulista  não narrasse o título de 2002. A emissora adquiriu os diretos de transmissão desta Copa. Entretanto, na ocasião, estava vigorando o projeto Rádio Globo Brasil, que uniu em grande parte as programações das emissoras do Rio e de São Paulo. Até então, cada regional fazia a sua cobertura própria. Para aquela edição, a Globo investiu no nome de José Carlos Araújo como narrador das partidas da seleção brasileira.

Oscar Ulisses passou a ser narrador titular da Rádio Globo paulistana a partir de 1995, com o afastamento de Osmar Santos. No entanto, ele esteve no comando da transmissão da final da Copa de 1986, no México, que colocou frente a frente Alemanha e Argentina. A taça ficou com os argentinos, depois da vitória no tempo normal pelo placar de 3 a 2. Osmar narrou essa mesma partida pela TV Globo. Doze anos depois, em 1998, Oscar narrou a final Brasil x França. Entretanto,  Zidane acabou com o sonho de milhares de torcedores brasileiros e, por tabela, com o sonho de Oscar em narrar uma conquista brasileira.

Em 2006, talvez percebendo o equívoco cometida na Copa anterior, a Rádio Globo fez com que José Carlos Araújo e Oscar Ulisses dividissem a narração dos jogos da seleção brasileira. Porém, Zidane apareceu mais uma vez pelo caminho e ele não estava sozinho. Na partida contra o Brasil, válida pelas quartas-de-final, o craque francês cobrou uma falta e Henry completou para o fundo da rede. Nas competições seguintes (2010 e 2014), a Globo refez a divisão das emissoras carioca e paulista. O desempenho brasileiro, entretanto,  não colaborou com Oscar.

Falamos agora de José Silvério e Éder Luiz. Do primeiro, nem é necessário se alongar  muito, uma vez que ele está chegando à sua décima primeira final seguida de Copa do Mundo, narrando os títulos brasileiros obtidos em 1994 (EUA) e 2002 (Coréia/Japão).  Éder Luiz também esteve nessas duas finais. Em 1994, ele transmitiu o jogo pela Rádio Bandeirantes, substituindo Fiori Gigliotti, que não pode empunhar o microfone da emissora por ser candidato a deputado estadual em São Paulo nas eleições daquele ano. Fiori não conseguiu se eleger. Já em 2002, Éder narrou aquela conquista brasileira pela Rádio Transamérica.

(*) Post feito a partir de uma sugestão do jornalista Celso Luís Gallo.

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Afiliada do Grupo Bandeirantes em Orlando (EUA) terá o nome de Brazil Radio

Por Rodney Brocanelli

Na semana passada, noticiamos aqui a entrada do Grupo Bandeirantes no mercado radiofônico dos Estados Unidos por intermédio de uma afiliada na cidade de Orlando (estado da Flórida). Nos últimos dias, uma chamada veiculada pelas emissoras brasileiras do grupo dá mais pistas sobre este projeto. Seu nome será Brazil Radio. A estreia, antes programada para fevereiro, acontecerá em março. A proposta é “conteúdo brasileiro para brasileiros”, com música, notícias e futebol. As frequências usadas serão os 91,3Mhz FM e 810Khz no AM. Ouça a anúncio no player abaixo, numa cortesia de Edu Cesar, do site Papo de Bola.

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Os sons de Bélgica x EUA

Por Rodney Brocanelli

Encerradas as oitavas-de-final da Copa do Mundo, a última classificada foi a Bélgica, que venceu os Estados Unidos pelo placar de 2 a 1, em mais uma partida que foi para a prorrogação. Desta vez, em mais uma cortesia do amigo Aloisio Mathias,  da Rádio Jovem Pan, vamos fazer diferente: reunimos aqui os gols da belga VRT Radio 1 para os gols da seleção de seu país, mas desta vez o gol solitário dos EUA tem o áudio da local AM 710. Ouça no player abaixo

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A medalha de ouro do vôlei brasileiro nas ondas do rádio

Por Rodney Brocanelli

A seleção brasileira feminina de vôlei conquistou o bicampeonato olímpico ao bater os EUA pelo placar de 3 sets a 1 (11/25, 25/17, 25/20 e 25/17). Um feito histórico para a modalidade que foi registrado pelo rádio. Itatiaia, de Belo Horizonte, Gaúcha e Guaíba, de Porto Alegre foram as emissoras que detiveram os direitos de transmissão dos jogos olímpicos de Londres. No player abaixo, é possível ouvir o match point com a narração de Gilberto Junior, pela Rádio Guaíba.

Gol dos EUA. Narração norte-americana

Por Rodney Brocanelli

Ouça no player abaixo o gol de Donovan, que classificou os EUA para a oitavas-de-final da Copa do Mundo. A emissora e o empolgado narrador não foram identificados até o momento.

Update: (24.06.2010 – 15h00) Já temos o nome da emissora responsável pelo áudio: 850 KOA/KSL/KTAR.