Batalha do Sarriá completa 40 anos; ouça narrações de rádio

Por Rodney Brocanelli (*)

O dia 5 de julho marcou uma das datas mais tristes na história da seleção brasileira de futebol. Jogando no estádio Sarriá, em Barcelona, os comandados de Telê Santana perdiam para a Itália pelo placar de 3 a 2 e davam adeus à Copa que no ano de 1982 era disputada na Espanha. Mesmo com as conquistas de 1994 e 2002, torcedores e jornalistas se perguntam até hoje sobre o que deu errado naquele dia. Bastava apenas um empate para que o Brasil chegasse às semifinais. Mas a Squadra Azurra apareceu pelo caminho. Além de adiar o sonho da conquista do título mundial, aquele resultado serviu para sepultar de vez a prática do futebol arte. Desde então, tivemos apenas alguns lampejos que apareciam de forma individual, graças ao talento de Romário e Ronaldo, cada um em sua época.

O blog Radioamantes leva você de volta ao dia 5 de julho de 1982. A nossa máquina do tempo é o rádio.

O quinto sinal da Rádio Bandeirantes marcava pontualmente 12h15, 16h15, horário local. Fiori Gigliotti anuncia o início da partida.

Para espanto geral, a Itáia saia na frente, logo aos 4 minutos de partida. Defesa brasileira vacilou. Paolo Rossi marcava, de cabeça. José Silvério estava na Jovem Pan.

A resposta brasileira não tardou. Sócrates recebeu um belo lançamento de Zico e avançou até entrar na área. O goleiro Dino Zoff tentou fechar o ângulo. Mas o Doutor, com o sangue frio que lhe era pecuilar, mandou para o gol. Osmar Santos narrou esse lance na Rádio Globo.

Mas Paolo Rossi se aproveitava mais uma vez de uma falha da defesa brasileira para marcar o segundo gol da Itália. O lance pegou muita gente desprevenida. José Silvério narrou esse lance na Jovem Pan.

No segundo tempo, o Brasil veio com tudo para tentar ao menos o empate. Falcão, na época o Rei de Roma, mandou um belo chute de média distância. E um detalhe que a televisão não mostrou: Cerezo, um dos responsáveis pelo lance que originou o segundo gol da Itália, chorou de emoção. José Silvério observou bem esse detalhe na Pan.

Armindo Antônio Ranzolin traduziu na Rádio Guaíba todo o orgulho pelo gol do “compatriota” Falcão.

E mais: a emoção de Willy Gonser, enaltecendo o corta luz de Cerezo, pela Rádio Itatiaia.

Mas aquela não era a tarde do Brasil. Em um escanteio aparentemente inofensivo, a Itália chegaria ao seu terceiro gol. Mais uma vez, Paolo Rossi. Flávio Araújo, então na Rádio Gazeta (SP) não escondeu a decepção.

Na Rádio Nacional, o garotinho ligeiro José Carlos Araújo ficou de queixo caído com o gol de Rossi.

O Brasil quase conseguiu o empate em uma cabeçada do zagueiro Oscar. O goleiro Dino Zoff operou um verdadeiro milagre. José Carlos Araújo, na Rádio Nacional, viu essa bola no gol.

Não teve jeito para o Brasil. O árbitro israelense (o Wikipedia diz que ele tem também nacionalidade romena) Abraham Klein apitou o fim de jogo. A perplexidade tomava conta da torcida brasileira. Fiori Gigliotti traduzia bem esse sentimento na Rádio Bandeirantes.

Passado o impacto da derrota, nada melhor que uma avaliação fria para se concluir em que a seleção brasileira errou. Eis a palavra de João Saldanha, então na Rádio Tupi. A metáfora do macaquinho é impagável.

(*) post atualizado e republicado. O original foi divulgado há dez anos (veja aqui). Estamos mesmo ficando velhos.

Especial da Rádio Globo celebra o centenário do técnico João Saldanha

A Rádio Globo veicula até o dia 14 de agosto a série “Vida que Segue, 100 anos de João Saldanha”. Uma celebração à história do jornalista, escritor e ex-técnico da seleção brasileira, a série de Saldanha é apresentada pelo ator e humorista Hélio de La Peña e conta com 13 episódios. Os cinco primeiros serão veiculados diariamente no programa Papo de Almoço até o dia 7 de julho. Os demais capítulos vão ao ar no mesmo programa às segundas-feiras, até o dia 14 de agosto. O podcast da série completa também estará disponível no aplicativo e no site da nova Rádio Globo.

“Vida que Segue, 100 anos de João Saldanha” conta a história de Saldanha a partir de entrevistas com antigos colegas de trabalho, áudios históricos e uma detalhada pesquisa. Técnico da seleção brasileira, comunista de carteirinha, comentarista que o Brasil consagrou, no rádio, na TV e no jornal, Saldanha foi multiplataforma antes do termo existir. De um estilo inconfundível, em que cativava os ouvintes como se estivessem numa mesa de bar, João é dono de frases célebres. Uma das mais marcantes foi aquela proferida para o presidente Médici, que pediu a escalação de um jogador quando Saldanha era técnico da seleção brasileira. Ao seu estilo, João Saldanha disse: “eu não escalo o ministério e o presidente não escala o time”.

Saldanha

O “Scratch” do Rádio, por João Saldanha

“Meus amigos…” é assim que começo sempre a fazer comentários na Rádio Globo. Por quê? Não sei ao certo. Acho que quando me dirigi pela primeira vez pelo microfone, eu achava que só quem estava me escutando eram meus amigos. E, até hoje, também acho isso. Um ou outro pode estar escutando de raiva.

Mas não é nada disso. O que quero dizer é o seguinte: quando abro comodamente o microfone, pronto em cima da mesa, e ponho o fone no ouvido e digo tal troço: “meus amigos…” é uma moleza- está tudo pronto. É só dar o plá que às vezes sai bom e outras vezes sai uma droga. E de repente alguém me chama, lá de Apucarana ou do Canadá e eu digo: “Brahma na jogada” ou então, simplesmente: “vai…” e entra um cara dando uma notícia de qualquer coisa. Ou por vezes uma gimba de um gol. O ouvinte em casa, com cerveja ao lado, nem se dá muita conta do que está acontecendo. Mas eu conto, dentro do meus limitados conhecimentos da técnica. O negócio é o seguinte: é a nossa retaguarda, anônima, que está funcionando.

Nossos ouvintes já devem ter nos acompanhado, até em doze transmissões de doze diferentes lugares e dentre elas quatro continentes. E o Serginho, lá do Piauí no jogo do Tiradentes chama: “Curi, como vai o Emérson aí… aí… no Raio que o Parta?”

E o Curi entra lá de Viena ou da África do Sul e diz como vai o Emerson. De repente uma voz com som local, de Luanda, dá resultado de algum jogo de time de Portugal que ande por lá. E vem o Rio Grande do Sul com o Luis Mendes que diz sempre que o time gaúcho está jogando mais, mesmo perdendo de quatro a zero. Azar do goleiro, provavelmente. Bem, do Rio, São Paulo, Teresina, África do Sul, Canadá, Europa, de doze locais diferentes e com os trepidantes no meio do troço, a gente vai dizendo “meus amigos” e tirando de letra como se estivesse num papo calmo numa sala de visitas.

Como isto é possível? Bom, aí é que está todo o negócio. O César Luis Calmon, calmamente está lá na Central Técnica olhando todas aquelas luzinhas, verdes, vermelhas e amarelas. O Chico Marques, noutro lugar, o João Humberto, a turma da Ilha no transmissor, o Macedo, o Osmar, o Dalton atento em quem tem de entrar ou sair, o Sorel, o Bigode, o Gauchinho, o Baiano(de Santa Catarina para cima, pra mim é Baiano), o Formiga, a turma da Manutenção, os outros operadores que não digo o nome porque só conheço os apelidos, este time é que permite ao Valdir, ao Curi, ao Lulu, Afonso, Serginho, Porto, Edson, Zé Carlos, a todos nós, apenas termos de abrir a latinha e dizer: “meu amigos…”. É com esta retaguarda com o olhar atento do Comandante Djalma Ferreira, do Mário Luis e do Luís, que no dia seguinte estão lá perguntando: “Pombas… estava dormindo? Como é que você perdeu dois segundos para entrar?” É este o “scratch do Rádio”.”

Comentário: Não sei dizer se este texto é mesmo do João Saldanha ou apenas atribuído a ele, como outros tantos por aí que são creditados a autores como Luis Ferando Veríssimo, entre outros. Se alguém aí tiver alguma informação, basta avisar. De qualquer forma, ele serve como homenagem a Paulo Rafael, chefe de externas e operador de áudio da 105 FM, que morreu no dia de hoje, e a outros profissionais como ele que batalham a fim de  que o áudio das externas chegue limpo até os receptores. (Rodney Brocanelli)

Saiba mais lendo o blog de Anderson Cheni: http://cheninocampo.blogspot.com.br/2014/12/morre-paulo-rafael-da-105-fm.html 

paulo Rafael

5 de julho de 1982. Há 30 anos, Brasil e Itália faziam uma das mais eletrizantes partidas da história das Copas

Por Rodney Brocanelli

O dia 5 de julho marcou uma das datas mais tristes na história da seleção brasileira de futebol. Jogando no estádio Sarriá, em Barcelona, os comandados de Telê Santana perdiam para a Itália pelo placar de 3 a 2 e davam adeus à Copa que no ano de 1982 era disputada na Espanha. Mesmo com as conquistas de 1994 e 2002, torcedores e jornalistas se perguntam até hoje sobre o que deu errado naquele dia. Bastava apenas um empate para que o Brasil chegasse às semifinais. Mas a Squadra Azurra apareceu pelo caminho. Além de adiar o sonho da conquista do título mundial, aquele resultado serviu para sepultar de vez a prática do futebol arte. Desde então, tivemos apenas alguns lampejos que apareciam de forma individual, graças ao talento de Romário e Ronaldo, cada um em sua época.

O blog Radioamantes leva você de volta ao dia 5 de julho de 1982. A nossa máquina do tempo é o rádio.

O quinto sinal da Rádio Bandeirantes marcava pontualmente 12h15, 16h15, horário local. Fiori Gigliotti anuncia o início da partida.

Para espanto geral, a Itáia saia na frente, logo aos 4 minutos de partida. Defesa brasileira vacilou. Paolo Rossi marcava, de cabeça. José Silvério estava na Jovem Pan.

A resposta brasileira não tardou. Sócrates recebeu um belo lançamento de Zico e avançou até entrar na área. O goleiro Dino Zoff tentou fechar o ângulo. Mas o Doutor, com o sangue frio que lhe era pecuilar, mandou para o gol. Osmar Santos narrou esse lance na Rádio Globo.

Mas Paolo Rossi se aproveitava mais uma vez de uma falha da defesa brasileira para marcar o segundo gol da Itália. O lance pegou muita gente desprevenida. José Silvério narrou esse lance na Jovem Pan.

No segundo tempo, o Brasil veio com tudo para tentar ao menos o empate. Falcão, na época o Rei de Roma, mandou um belo chute de média distância. E um detalhe que a televisão não mostrou: Cerezo, um dos responsáveis pelo lance que originou o segundo gol da Itália, chorou de emoção. José Silvério observou bem esse detalhe na Pan.

Armindo Antônio Ranzolin traduziu na Rádio Guaíba todo o orgulho pelo gol do “compatriota” Falção.

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Mas aquela não era a tarde do Brasil. Em um escanteio aparentemente inofensivo, a Itália chegaria ao seu terceiro gol. Mais uma vez, Paolo Rossi. Flávio Araújo, então na Rádio Gazeta (SP) não escondeu a decepção.

Na Rádio Nacional, o garotinho ligeiro José Carlos Araújo ficou de queixo caído com o gol de Rossi.

O Brasil quase conseguiu o empate em uma cabeçada do zagueiro Oscar. O goleiro Dino Zoff operou um verdadeiro milagre. José Carlos Araújo, na Rádio Nacional, viu essa bola no gol.

Não teve jeito para o Brasil. O árbitro israelense (o Wikipedia diz que ele tem também nacionalidade romena) Abraham Klein apitou o fim de jogo. A perplexidade tomava conta da torcida brasileira. Fiori Gigliotti traduzia bem esse sentimento na Rádio Bandeirantes.

Passado o impacto da derrota, nada melhor que uma avaliação fria para se concluir em que a seleção brasileira errou. Eis a palavra de João Saldanha, então na Rádio Tupi. A metáfora do macaquinho é impagável.

21 anos sem João Saldanha

Por Rodney Brocanelli

No dia 12 de julho de 1990, morria o jornalista, radialista e técnico de futebol João Saldanha. Homem ligado a esse esporte, talvez não foi por acaso que sua morte se deu em meio a uma Copa do Mundo, a da Itália. No áudiopost abaixo, relembramos Saldanha através dos depoimentos rápidos de Jorge Kajuru e Armando Nogueira. No final, o registro de um comentário feito logo após a desclassificação do Brasil na Copa da Espanha, em 1982, com a derrota para a Itália por 3 a 2.