Há dez anos, o jornalismo perdia um de seus expoentes. Joelmir Beting, homem de jornal, rádio e televisão, que com sua linguagem simples procurou descomplicar os meandros da economia. Seu início de carreira foi no jornalismo esportivo, trabalhando nos jornais Diário Popular e O Esporte. Quando percebeu que não iria conciliar a paixão pelo Palmeiras com a sua área de atuação, decidiu muda de área, em 1962.
Após ter passado pela Jovem Pan e rádio e tv Gazeta, Joelmir trabalhou muitos anos na Rádio Bandeirantes, como comentarista e depois integrante do Jornal Gente (ou Jornal da Bandeirantes Gente, como José Paulo de Andrade gostava de dizer). Nesse período, ele foi fazer o antigo Jornal Bandeirantes, na TV Bandeirantes.
Em 1985, ele se transferiu para a TV Globo e se destacou como comentarista do Jornal Nacional. Paralelamente às suas aparições nos meios eletrônicos, o jornalista manteve colunas nos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo. Retornou ao Grupo Bandeirantes em 2004. No rádio, voltou a fazer parte da bancada do Gente e em televisão, coapresentou o Jornal da Band e comandou o Canal Livre.
O anúncio de sua morte proporcionou um dos momentos mais tocantes da história do rádio. Ele foi feito ao vivo por um de seus filhos, Mauro Beting, que estava no ar pela Rádio Bandeirantes, trabalhando como comentarista da transmissão de São Paulo 0 x 0 Universidad Católica, partida que começara no dia anterior 28 de novembro de 2012 e era válida pela Copa Sul-americana.
Corria o Terceiro Tempo da madrugada do dia 28. O programa seguia seu ritmo normal. Houve espaço até para uma série de alfinetadas entre o apresentador Milton Neves e o então goleiro do São Paulo, Rogério Ceni (ouça aqui). Pouco depois, chegou a triste notícia. Mauro foi encarregado de informá-la aos ouvintes e à grande legião de fãs de Joelmir. Ouça abaixo.
Em março de 2011, Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o seu Tuta, concedeu uma entrevista, mas em outra emissora que não a Rádio Jovem Pan. Ele foi o convidado especial do Jornal Gente, da concorrente Rádio Bandeirantes. “O senhor vai ser usado para combater a audiência da sua própria rádio, o senhor concorda?”, perguntou José Paulo de Andrade logo no início da conversa. “Eu concordo porque sexta-feira é um dia fraco para nós”, respondeu Tuta, provocando algumas risadas ouvidas no estúdio em que ocorreu a gravação.
Além do já citado Zé Paulo, participaram da entrevista Salomão Ésper, Joelmir Beting e Rafael Colombo. Ela foi dividida em dois blocos, totalizando pouco mais de meia hora. Para um convidado tão ilustre e em circunstâncias especiais, o tempo poderia ter sido bem maior.
Na pauta, temas como futebol, e o são-paulino Zé Paulo é surpreendido com a revelação de que Tuta torce pelo Santos, muito por causa de Pelé e também devido às cobranças a seu pai, Paulo Machado de Carvalho, por um título paulista perdido pelo São Paulo (é citado o ano 1949, mas nesse ano, o tricolor foi campeão, assim como em 1948; talvez, repetindo talvez, o ano seja 1950, em que o Palmeiras foi campeão e Tuta falou em um tricampeonato).
E por falar em craques, o homem que foi responsável pelos destinos da Pan por muitos anos contou que já jogou ao lado de Leônidas da Silva nos históricos campeonatos internos das Emissoras Unidas (da qual a Jovem Pan fez parte).
Outro assunto foi a questão do off tube nas transmissões esportivas. No ano de 2011, a Jovem Pan tinha por política realmente não mandar profissionais para jogos em locais distantes da capital. No entanto, ela compensava isso de outra forma, contratando um repórter local. “A gente pega o repórter lá, que é mais barato”, afirmou.
Outra pergunta de Zé Paulo foi sobre se houve algum tipo de mágoa de Tuta por ter saído do primeiro projeto de televisão, a Jovem Pan TV, que operou no canal 16 UHF, em grande parte da década de 1990. “Ele (citando o sócio ou um dos sócios naquela empreitada), não sei porquê até hoje, encrencou comigo, não queria, então ele fez de tudo para enterrar a televisão. Ficou uma mágoa da pessoa, mas com certeza a televisão daria certo”, falou.
Houve tempo para histórias de bastidores sobre sociedade entre Paulo Machado de Carvalho e Silvio Santos, na TV Record.
Tuta Carvalho passou a ser o dono da Jovem Pan, após a emissora receber uma sondagem de compra de um emissário do Diário Popular. O valor apresentado na época foi de 12 milhões, que assustou o comprador. Como a TV Record não estava em um bom momento, Tuta decidiu ele mesmo adquirir a rádio e negociou com os irmãos, com sucesso. “Quando saí da tv, eu fui trabalhar numa coisa que é só minha”, falou.
A última pergunta, de Rafael Colombo, foi sobre o futuro do rádio. Naquela época, ainda não era uma realidade o uso da Internet como uma linha auxiliar de transmissão de programas e eventos. Tuta falou que o FM iria substituir o AM, no que ele estava certo, de certa forma. Nos últimos meses, o FM estendido (saiba mais aqui) já é uma realidade e só falta ser popularizado.
No entanto, ele não acreditava no rádio digital, uma solução que já foi pensada para dar uma sobrevida a faixa de amplitude modulada. “o rádio digital que existe hoje não pega, é péssimo. Pro AM. Pro FM, ele funciona(…) Tem 15.000 emissoras nos Estados Unidos. Só 100 fazem rádio digital”, disse.
Tuta deixou o comando da Rádio Jovem Pan, em 2014. Ouça sua entrevista à Rádio Bandeirantes no player abaixo.
Em entrevista ao podcast Tomando Uma Com, o jornalista Mauro Beting falou bastante sobre sua demissão da Rádio Bandeirantes, acontecida em 2013, mas que não durou nem 24 horas após a enorme comoção nas redes sociais que a notícia causou e também de uma grande reviravolta, graças a uma atitude de Milton Neves.
Segundo Mauro, em agosto de 2013, ele fora chamado para uma reunião com o alto comando da Rádio Bandeirantes formado por José Carlos Carboni (já falecido) e Mario Baccei (então vice-presidente das rádios do Grupo Bandeirantes). A convocação partiu de um grande amigo seu e então colega: Sergio Patrick. Sem nada desconfiar, o comentarista até ficou animado com o convite e até pensou em dar algumas ideias para a rádio. Naquela época, Mauro já estava namorando (do ponto de vista profissional) o Fox Sports.
Assim que Mauro chegou a sede do Grupo Bandeirantes e apertou o elevador, ele recebeu uma chamada pelo telefone do locutor Walker Blaz (Primeira Hora). A ligação era, na verdade, uma despedida. Blaz havia sido demitido algumas horas antes. A ficha caiu. A reunião que iria se iniciar dali a poucos instantes não seria propriamente sobre trabalho.
“A gente te adora, você é o cara mais premiado da Rádio Bandeirantes, mas estamos sem dinheiro. É agosto, não tem dinheiro e o grupo inteiro precisa cortar 10%, e a gente está cortando (você) pelo salário”. Esse foi o resumo o discurso vindo da direção e ainda com um detalhe: “Era você ou o Neto, mas o Neto faz merchan. O Neto traz mais dinheiro e você não aceita…”
Houve ainda uma promessa de recontratação em janeiro de 2014, com a expectativa de uma entrada maior de recursos financeiros no Grupo Bandeirantes. Reunião terminada, Mauro foi para sua casa e uma das primeiras coisas que fez foi cancelar uma reforma. Depois, ele postou um texto de despedida no Facebook e desligou o celular por aproximadamente 50 minutos.
Foi exatamente o tempo para que a notícia ganhasse uma enorme dimensão. Assim que ligou novamente seu telefone, o o jornalista recebeu uma ligação do primo Erich Beting com a notícia de que ele, Mauro, havia entrando nos Trending Topics brasileiros do Twitter. A partir de então, vários veículos de comunicação passaram a entrar em contato, como por exemplo o UOL, para saber mais detalhes e buscar declarações, e de outros com convites para reuniões com possíveis convites de trabalho. Nesse meio tempo, o nome de Mauro Beting conseguiu destaque nos Trending Topics mundiais do Twitter.
Milton Neves, que dispensa maiores apresentações, conseguiu ligar para Mauro “Que sacanagem, ô..”, disse. No papo, o apresentador soube quanto o colega ganhava na Rádio Bandeirantes e fez uma proposta: a de separar a verba de um de seus patrocinadores para pagar seu salário e fazer com que o comentarista continuasse na emissora.
A ideia de Milton foi aceita pela emissora e a demissão conseguiu ser revertida. Mauro desmarcou as reuniões para ouvir propostas de outros veículos e iria acertar as coisas em uma nova reunião para o dia seguinte. Entretanto, a indignação dos internautas com a notícia inicial só aumentava com a divulgação da informação de que houve uma opção entre Mauro e Neto. Fustigado pelas redes sociais, o ex-jogador respondeu à altura e até chegou a colocar à disposição a sua condição de comentarista da Rádio Bandeirantes.
Todas essas questões foram contornadas. Mauro ficou. Neto também ficou (não sem quase ser demitido de fato).
Mauro Beting relata que recebeu uma ligação de Johnny Saad presidente do Grupo Bandeirantes, que havia ficado insatisfeito com a saída de seu funcionário, até por todo a relação histórica da família Beting com a empresa. Nunca é demais lembrar que Joelmir Beting, pai de Mauro, trabalhou na empresa por dois períodos: de 1974 a 1985 e de 2003 a 2012. “Que bela jogada de marketing”, disse Johnny em tom de brincadeira. “Alguém aqui fez”, respondeu Mauro.
Aproximadamente um mês depois, houve a cerimônia de entrega do Prêmio Comunique-se, que premia profissionais da imprensa nas mídias escrita e falada. Mauro concorria na duas e acabou levando os dois troféus. Para completar a noite, o José Silvério conquistou o troféu na categoria de melhor narrador. Silvério perdera a sua primeira esposa havia poucas semanas. Esse fato mais a demissão/retorno de Mauro fez com que a noite fosse de muita emoção.
No discurso, Mauro foi polido e agradeceu à equipe técnica da emissora. Entretanto, ao podcast ele disse ter pensado em dizer algo forte sobre a situação que vivera na Rádio Bandeirantes. “É a primeira vez que eu vou dizer: o diabinho chegou e ‘fala logo, fala logo pro teu chefe que te demitiu, que ele tava te demitindo e (depois) ganhou o Prêmio Comunique-se’. Não falei. Agradeci como sempre(…) E tou falando agora: ‘não vou falar'”.
Mesmo assim, sobrou uma farpa: “então vice-presidente da Rádio Bandeirantes, eu entendo que você tinha de cortar, acho que você poderia ter feito de outro jeito, mas enfim, mas aí cortou e tal. Mas assim, também não vou falar que agora “chupa”(…), mas no fundo, acho que Dalai Lama naquela hora falaria ‘chupa'(…) Essa é a grande conquista da minha vida”, disse.
Mauro Beting ficou na Rádio Bandeirantes por aproximadamente mais dois anos; Em 2015, ele deixou a emissora, a pedido, por causa de sua atuação na Fox Sports. Naquele mesmo ano, acertou com a Rádio Jovem Pan, emissora de rádio onde está até hoje.
Nos últimos dias, iniciou-se um grande debate a respeito de uma velha questão: jornalista esportivo pode torcer para seu time de futebol? Suas reações na mesa do bar ou em redes sociais respingam na empresa onde esse profissional trabalha? Vale trazer para toda essa discussão o depoimento de Joelmir Beting. Em entrevista ao programa Sofá Bandeirantes, veiculado em novembro de 2008, Beting contou em que circunstâncias ele trocou de especialização. Da área esportiva, ele passou para a cobertura do dia-a-dia da economia. Ouça no player abaixo.
O blog Radioamantes publica a sua retrospectiva do ano de 2012 no meio rádio. Um ano marcado pela mudança. E pelas perdas irreparáveis. Basta clicar nos links abaixo.
Morreu na madrugada desta quinta-feira, dia 29, o comentarista da Band, Joelmir Beting, aos 75 anos. Ele estava internado desde o dia 22 de outubro no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e, no domingo, sofreu um acidente vascular encefálico hemorrágico.
Palmeirense de coração, Joelmir atuava como comentarista de economia no “Jornal da Band” e na Rádio Bandeirantes. Ele também era um dos apresentadores do Canal Livre.
Perfil Joelmir José Beting nasceu em Tambaú, interior de São Paulo, em 21 de dezembro de 1936, onde permaneceu até 1955. Neste período, chegou a trabalhar como boia-fria, aos sete anos de idade. Em 1957, Joelmir – encorajado pelo Padre Donizetti Tavares de Lima, a quem se referia como “guru espiritual e profissional” – começou a estudar sociologia na USP (Universidade de São Paulo) para “fazer carreira no jornalismo”.
No jornalismo, iniciou na editoria de esportes, ainda durante a faculdade de sociologia, em 1957. Trabalhou na cobertura de futebol nos jornais “O Esporte” e “Diário Popular” e também na rádio Panamericana, que posteriormente virou Jovem Pan.
Economia Em 1962, sociólogo formado, trocou o jornalismo esportivo pelo econômico. Inicialmente, como redator de estudos de viabilidade econômica para projetos desenvolvidos por uma consultoria de São Paulo.
Quatro anos depois, foi convidado a lançar uma editoria de Automóveis no caderno de classificados da Folha de S.Paulo. Em 1968, Joelmir foi “premiado”, como ele mesmo afirmava, com o cargo de editor de economia da Folha de S.Paulo. Em 7 de janeiro de 1970, lançou sua coluna diária, que foi publicada durante anos por uma centena de jornais brasileiros, com o timbre da Agência Estado.
Em 1991, o profissional iniciou nova fase no jornal “O Estado de S.Paulo”. Em texto publicado por Joelmir em seu site, ele descreveu a coluna como o pau-da-barraca profissional. “Com ela, desbravei o economês, vulgarizei a informação econômica, fui chamado nos meios acadêmicos enciumados de ‘Chacrinha da Economia’, virei patrono e paraninfo de 157 turmas de formandos em Economia, Administração, Engenharia, Agronomia, Direito”.
Multimídia A coluna foi mantida até 30 de janeiro de 2004. No mesmo ano que ela foi lançada, em 1970, Joelmir também começou a passar informações diárias sobre economia nas rádios Bandeirantes, CBN, Jovem Pan e Gazeta. E também na TV Bandeirantes, Gazeta, Record e Globo, a partir de 1985 até julho de 2003.
Em março de 2004 voltou para a TV Bandeirantes, onde permaneceu até hoje como comentarista econômico nas rádios BandNews FM e Rádio Bandeirantes, e também do Jornal da Band, na TV. Também era um dos âncoras do programa de entrevistas Canal Livre.
Joelmir foi um jornalista multimídia. Escreveu os livros “Na Prática a Teoria é Outra” (1973) e “Os Juros Subversivos” (1985) e dezenas de ensaios para revistas semanais. Além disso, o jornalista foi conferencista no Brasil e no exterior. Realizava palestras em empresas, convenções, simpósios, congressos e seminários. Era onde se reencontrava, como ele dizia, com a profissão que pretendia seguir nos tempos da USP: o magistério.
Em seu site, ele se descrevia como uma pessoa que trabalhava e estudava 15 horas por dia, assim como na infância. Joelmir era casado com Lucila, desde 1963, e pai de dois filhos Gianfranco, publicitário e webmaster, e Mauro, comentarista esportivo de jornal e televisão.
Comentário: A notícia da morte de Joelmir foi divulgada pelo comentarista Mauro Beting, um de seus filhos, durante o Terceiro Tempo, da Rádio Bandeirantes. Emocionado, Mauro leu um longo texto em homenagem ao pai. Logo após o anúncio, o programa passou a exibir a reprise de uma entrevista recente de Joelmir à Milton Neves.
Nos últimos dias, Mauro vinha postando em seu perfil no Facebook, várias homenagens ao pai em forma de textos e fotos. Lendo todas elas, foi impossível não lembrar da canção de Cat Stevens: “Father and Son”. (Rodney Brocanelli)
Em seu blog, no Lance!, Mauro publicou o texto em homenagem ao pai. Leia abaixo: