Anotações sobre a cobertura dos Jogos Olímpicos pelo rádio

Por Rodney Brocanelli (*)

De todas as emissoras de rádio que transmitiram os Jogos Olímpicos de Paris, a que mais se destacou foi a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre. Tal como já havia feito em outras competições, a emissora investiu na reportagem, colocando seus profissionais nas arenas e estádios não só onde estavam os atletas brasileiros.

Essa estratégia de cobertura gerou grandes momentos. Um deles foi a entrevista com Novak Djokovic. Ao ver a bandeira do Brasil no uniforme usado pelo repórter Rodrigo Oliveira, o tenista mandou um abraço para a “galera” brasileira e ainda citou Guga Kuerten.

Outro momento, também protagonizado por Oliveira foi na entrevista com Augusto Akio, medalha de bronze no Skate Park. Assim que soube que o jornalista era gaúcho, o atleta lhe deu um abraço e fez uma declaração emocionada de solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul: “Força, Rio Grande do Sul. Força mesmo. De verdade”.

Essa prioridade na reportagem fez com na final individual da ginástica artística, dois repórteres fossem escalados. Alice Bastos Neves e o já citado Oliveira ficaram em posições diferentes da zona mista. Alice “pressionou a saída de bola”, Rodrigo “ficou de líbero”, conforme a definição feita por ele na transmissão.

A cobertura ostensiva da Gaúcha não significou a derrubada de sua programação normal. Um exemplo: a semifinal do tênis de mesa, que teve a participação de Hugo Calderano, aconteceu bem no horário do Timeline Gaúcha. Com isso, os apresentadores Kelly Matos, Luciano Potter e Paulo Germano entraram para valer na transmissão, que contou com o quase onipresente Rodrigo Oliveira diretamente do local da disputa.

Outro exemplo aconteceu no Super Sábado, que mesclou cobertura do dia olímpico (foi justamente no sábado a fala já citada de Djokovic) , entrevistas e músicas ao vivo. Uma misturinha bem boa.

Sei que o destaque para Gaúcha vai ficar grande (entretanto ela merece), mas outro ponto positivo de suas transmissões foi a participação de Adriana Alves, coordenadora técnica da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), explicando didaticamente todos os movimentos de Rebeca Andrade, Simone Biles e das outras ginastas.

Outras emissoras também não abriram mão de sua programação normal. A Bandeirantes manteve toda sua grade, em especial a do período matutino. Quando havia alguma competição importante, era acionada a Central Olímpica, com os narradores Pedro Ramiro e Pedro Martelli, e o comentarista poliesportivo Marcelo Romano (uma grata surpresa).

Para este radiomante, foi difícil achar a cobertura da Transamérica. Na grande final dos 400m da natação masculina, com Guilherme “Cachorrão” Costa, em um sábado, a expectativa era ouvir Álvaro José. Entretanto, bem naquele momento, a emissora estava com a sua programação musical normal. A emissora, pelo jeito, priorizou os esportes coletivos e o foco não esteve apenas nas participações brasileiras. Na manhã deste domingo, houve a transmissão da final do vôlei feminino, envolvendo Itália x EUA, com a narração de Thomaz Rafael e comentários de William Carvalho, ex-jogador, medalhista olímpico e atual técnico.

Mal chegou à CBN e o narrador Rodrigo Bitar já participou de uma cobertura de fôlego. Ele narrou os principais jogos da seleção brasileira feminina até a grande final. Com Leonardo Dahi, ele fez duas finais seguidas, uma da ginástica e a do judô por equipes, além de outras participações importantes. A final do judô teve uma curiosidade bem legal: Bruno Faria, repórter da equipe esportiva de São Paulo, atuou como comentarista não por acaso. Ele praticou a modalidade, sendo federado por nove anos. Ou seja, procurando bem, dá para achar especialista jornalista.

Ainda sobre a CBN, importante notar que, ao contrário do que aconteceu em Tóquio 2021, a Globo Rio não participou desta cobertura.

Mario Henrique Caixa, da Itatiaia, talvez seja um dos poucos narradores titulares que não fica limitado apenas ao futebol, ou melhor apenas ao Atlético-MG. De Paris, ele narrou as partidas de vôlei masculino e feminino, além de fazer a grande final do futebol feminino.

Marcelo do Ó, da Band News FM, foi outro titular que fez outras modalidades. No entanto, seu perfil é muito mais poliesportivo (e com grande competência). Éder Luiz, na Transamérica, fez Brasil x EUA pelo futebol feminino e ainda teve gogó para narrar os instantes finais de Brasil x Turquia pelo vôlei feminino.

Como já escrito em outras ocasiões, uma pena que uma cobertura como essa não deixa legado. Certamente, não voltaremos a ter uma transmissão de tênis de mesa na Rádio Bandeirantes. As emissoras seguirão priorizando o futebol em seu cardápio, como em outras vezes.

Em comparação aos jogos de Tóquio, em 2021, tivemos mais rádios transmitindo os eventos de Paris 2024. Há três anos, apenas Gaúcha e Globo/CBN tiveram os direitos de transmissão. Naquela época, vivamos ainda sob a sombra da Covid-19, em termos sanitários e econômicos. Bom ouvir o Grupo Bandeirantes de volta, assim como Itatiaia e Transamérica.

Los Angeles é logo ali. Baseado no que aconteceu em 1984, o fuso horário poderá ajudar a uma cobertura mais extensiva do rádio por que os eventos principais acontecerão no período noturno. O único fator que poderá atrapalhar é o futebol doméstico. A inauguração está prevista para o dia 14 de julho de 2028. Começou a contagem regressiva!

(*) este post não seria possível sem o auxílio luxuoso de Edu Cesar, do Papo de Bola

2024.08.05 – Jogos Olímpicos Paris 2024 – Ginastica artistica – A ginasta brasileira Rebeca Andrade conquista a medalha de ouro na final do solo. Foto: Alexandre Loureiro/COB.

E o tênis de mesa chegou ao rádio…

Por Rodney Brocanelli

A presença de Hugo Calderano na semifinal do tênis de mesa fez com que pelo menos duas emissoras de rádio abrissem espaço para uma modalidade esportiva que não costuma fazer parte do cardápio de transmissões. As rádios Gaúcha e Bandeirantes dedicaram generosos espaços para levar o ouvinte informações sobre a importante participação do atleta brasileiro.

A emissora de Porto Alegre usou boa parte de seu tradicional Timeline Gaúcha para a transmissão. Rodrigo Oliveira (o Petite Question) esteve in loco na arena onde ocorreu a disputa, intervindo sempre que a pontuação era atualizada. Além dele, Luciano Potter, Kelly Mattos e Paulo Germano participaram do estúdio em Porto Alegre com comentários e uma certa torcida. José Alberto Andrade, de algum lugar de Paris, também fez intervenções importantes.

Já a Bandeirantes, dentro do Manhã Bandeirantes, fez uma transmissão mais radiofônica mesmo, com Pedro Ramiro descrevendo os lances e os comentários de Marcelo Romano, especialista em esportes olímpicos.

Hugo Calderano perdeu a partida contra o sueco Truls Moregard por 4 sets a 2. Com isso, o mesatenista brasileiro vai disputar a medalha de bronze contra o francês Felix Lébrun. A disputa está prevista para começar as 08h30, horário de Brasília. Espera-se que com transmissão não apenas das duas emissoras citadas acima, mas das outras que têm os direitos de transmissão desta edição dos Jogos Olímpicos. 

2024.08.02 – Jogos Olímpicos Paris 2024 – Tênis de mesa masculino – Hugo Calderano enfrenta o sueco Truls Moregard pela semifinal. – Foto: Luiza Moraes/COB

Bastidores do Corinthians geram climão na transmissão do clássico contra o São Paulo na Rádio Bandeirantes

Por Rodney Brocanelli(*)

A transmissão da partida Corinthians x São Paulo, disputada na Arena Corinthians e válida pelo campeonato brasileiro de 2024, pela Rádio Bandeirantes foi mais quente que o próprio jogo, cujo placar final foi um empate em 2 a 2. Um verdadeiro climão. O comentarista (ou será torcedor?) Ronaldo Giovanelli, ex-goleiro do clube alvinegro não deixou de demonstrar sua insatisfação no ar assim que o repórter Pedro Ramiro deu o seu destaque na jornada.

Cobrindo o time da casa nessa jornada esportiva, Ramiro disse que “pode estourar uma bomba muito em breve sobre um suposto esquema de lavagem de dinheiro”. Ronaldo prontamente interveio e questionou: “vem cá, e o São Paulo não vai falar nada que deve pro Rogério Ceni, que deve pro Dorival Júnior, que deve pro Daniel (Alves) que deve pro CET (sic) mais de 25 milhões? Só vai falar do Corinthians, só vai falar mal do Corinthians?”

Ulisses Costa retomou o comando da transmissão e pediu um destaque para Paulo do Valle, que cobria o São Paulo. O repórter foi interrompido pelo narrador: “fala das dívidas do São Paulo”. Ronaldo continuou inflamado: “é, fala das dívidas aí, é só o Corinthians?”.

Do Valle então pediu um tempo, enquanto que Ronaldo passou a falar de nomes e valores. Depois, o repórter listou os profissionais que tem dinheiro a receber da equipe do Morumbi e não mais falou.

Na sequencia do vídeo ao qual o Radioamantes teve acesso e está disponível no final deste texto, Ulisses e Ronaldo aparecem debatendo e o comentarista (ou será torcedor?) novamente marcou posição: “a chamada aqui hoje foi falando da dívida do Corinthians, do São Paulo foi falando do time, quer dizer tem que ser igual, eu penso assim”.

Mais alguns instantes de discussão entre Ulisses e Ronaldo se seguiram, até que Claudio Zaidan, o outro comentarista desta jornada , entrou no ar já sem paciência: “nooooosa senhoraaaa”. Em seguida, passou a explicar como funciona a dinâmica do jornalismo: “o repórter fala do Corinthians e traz a informação que é mais relevante”. Não adiantou e nova discussão no ar. Ronaldo e mandou: “eu não entendo, o corintiano não entende”.

Após a partida, Ronaldo pediu desculpas pela intensidade no começo da transmissão, mas ainda seguiu defendendo a sua tese. O âncora Ricardo Capriotti tentou argumentar, mas foi interrompido: “hoje aqui o Corinthians merecia ser analisado pelo lado tático(…) por isso que eu briguei. Isso que a gente vem fazer aqui”. Pelo menos o comentarista acha que os responsáveis pelo malfeito devem ser presos. “Eu fiquei muito triste de ver a gente comentar num jogo…só falar de bastidores do Corinthians”, falou.

Capriotti então se manifestou lembrando que é o coordenador de esportes da Rádio Bandeirantes e seguiu: “Nós aqui na Bandeirantes temos a obrigação de levar todas as informações pro nosso ouvinte, as boas, as ruins. E a reportagem Bandeirantes prima por isso diariamente e historicamente. Nós tivemos aqui grandes repórteres e temos hoje grandes repórteres que primam por isso e vão continuar fazendo esse trabalho brilhante. Então aqui a gente noticia tudo(…) no noticiário do Corinthians é muito mais fora de campo do que dentro dele”.

Ronaldo concordou, mas com uma justificativa: “pro (programa do) Datena”. E acrescentou: “eu me senti desconfortável de fazer o jogo, eu achei que ia fazer o jogo. Aí eu fico à disposição da diretoria.

Seguiu Capriotti: “nós estamos aqui como jornalistas, como profissionais, nós não estamos aqui como torcedores e como jornalistas, a nossa missão é sempre essa: analisar e levar a notícia com correção. Então aqui hoje você, como analista, você pode analisar da maneira que você quiser”. O ex-goleiro interrompe: “não, eu sou torcedor também(…) eu tou aqui como torcedor também, faço uma análise dentro de campo. A minha visão é outra de futebol, agora se for para bater tem que bater em todo mundo” (eis a resposta).

Mais uma discussão se seguiu, até que Paulo do Valle entrou na conversa: “você atacou a nossa integridade no ar, Ronaldo”. O comentarista discordou e de novo muita falação no ar.

(*) agradecimentos ao jornalista Luis Augusto Símon.

Ouça nos players abaixo.

A transmissão completa está no player abaixo.