Morre Ruy Carlos Ostermann

Por Rodney Brocanelli

Morreu nesta sexta (27) o jornalista e professor (não necessariamente nessa ordem) Ruy Carlos Ostermann. Ele estava internado desde maio no hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Tudo começou com uma dengue. No entanto, o seu estado de saúde veio se agravando nas últimas semanas até o triste desfecho.

Ruy trabalhou para os dois principais grupos de comunicação do Rio Grande do Sul. Ele começou sua carreira nos veículos da Caldas Júnior, primeiramente no jornal Folha da Manhã e depois passou para a Rádio Guaíba, onde trabalhou na equipe de esportes ao lado de nomes como Lauro Quadros, Armindo Antônio Ranzolin e Pedro Carneiro Pereira.

Anos mais tarde, já com a crise na Caldas Júnior, ele se transferiu para o Grupo RBS. Assumiu um cargo de gestão na equipe esportiva da Rádio Gaúcha, sendo comentarista das jornadas esportivas. Apresentou por muitos anos os debates esportivos do Sala de Redação, um dos principais programas da emissora.

Teve uma atração solo, o Gaúcha Entrevista, em que recebia convidados para um bate papo. Essa atração acabou se transformando em um grande evento, no qual ele  recebia personalidades da cultura brasileira para uma conversa, com a participação de uma plateia.

Sua atuação não se limitou apenas as fronteiras do Rio Grande. Ele teve participações notáveis em emissoras de televisão no eixo Rio-SP. Convidado por Armando Nogueira, participou do Bate Bola, debate veiculado especialmente em épocas de Copa do Mundo na TV Globo. Apareceu também no Cartão Verde, da TV Cultura, ao lado de Flavio Prado, José Trajano e Juca Kfouri. Fez parte da mesa do Bem Amigos, comandado no Sportv por Galvão Bueno.

Ruy não abandonou sua formação original e deu aulas de filosofia tanto para estudantes do hoje ensino médio, como na universidade.

O professor contribuiu bastante para tirar a carga de preconceito do ofício de jornalista esportivo. Por muito tempo, considerava-se que esse profissional, especialmente ligado ao futebol, era um alienado, para dizer o mínino.

Além disso, Ruy introduziu um método de trabalho para embasar suas análises. Ele fazia uso de uma planilha, onde anotava as informações do jogo onde em que iria trabalhar. A partir disso, ele fazia apontamentos com dados estatísticos: chutes a gol, desarmes, etc. Essa prática é seguida por muitos profissionais até os dias de hoje.

Em 2024, sua trajetória foi contada no livro “Um Encontro com o Professor”, escrito por Carlos Guimarães, jornalista e professor universitário, hoje gestor do Grupo Bandeirantes de Comunicação em Porto Alegre.

O velório está previsto para acontecer a partir das 10h deste sábado, na Assembleia Leisgativa do Rio Grande do Sul.

“Adivinhe!”: as memórias de Haroldo de Souza, um dos gigantes da narração esportiva

Por Rodney Brocanelli

E mais uma grande obra abordando o rádio esportivo acaba de ser lançada. É o livro de memórias de Haroldo de Souza, que completa 50 anos de narração esportiva em Porto Alegre neste ano de 2024 que caminha para seu final. O título é quilométrico: “Adivinhe! Haroldo de Souza – A memória do narrador dos gaúchos. 50 anos de rádio no Rio Grande do Sul”. A obra tem a participação do jornalista, também narrador esportivo e mestre em comunicação social, Ciro Götz.

Coincidência ou não, “Adivinhe!”, como será chamado aqui, sai poucas semanas depois de outro lançamento importante: “Um Encontro com o Professor”, que aborda a vida do comentarista Ruy Carlos Ostermann, já devidamente resenhado neste espaço: (clique aqui para ler). Aqueles que ainda se importam com o rádio esportivo ou que gostam de conhecer os bastidores da imprensa esportiva têm motivos para comemorar esses dois lançamentos.

Um dado importante é que Haroldo e Ruy fizeram uma dobradinha na Rádio Gaúcha, a partir do ano de 1978. O professor escreveu a orelha do livro do antigo companheiro. “Formamos uma dupla memorável”, escreveu. E não deixa de ser curioso que ambos têm formações completamente distintas. Ruy é um scholar, enquanto que Haroldo foi formado na escola da vida.

“Adivinhe!” é um livro de leitura rápida, dividida em tópicos breves. Além disso, usa dois recursos narrativos. Na abertura, a primeira pessoa é usada para contar seu nascimento, infância, o primeiro casamento e os caminhos que o levaram a se transformar em narrador esportivo. Um encontro com Pedro Luiz e um golpe de esperteza o ajudam conseguir espaço em Belo Horizonte, na Rádio Itatiaia.

Mesmo a Itatiaia já sendo uma emissora tradicional na cobertura do futebol, as coisas não foram fáceis para Haroldo. A falta de dinheiro foi um fantasma durante todo o período em que esteve lá. Além disso, conforme o relato, Januário Carneiro não gostava de sua voz. Oswaldo Faria, o chefe de esportes, é quem segurava as pontas.

Cronologicamente, Haroldo se transferiu para Porto Alegre se transformando em narrador titular da Rádio Gaúcha. No entanto, sua posição privilegiada foi colocada de lado com a chegada de Armindo Antônio Ranzolin, egresso da Guaíba, que assumiu um cargo de chefia. Insatisfeito com a situação, Magrão, como é conhecido, anos mais tarde foi para a própria Guaíba transformando-se no titular das narrações de futebol. Todo esse processo está em “Advinhe!”.

A partir de então, o tom do livro muda e Haroldo assume a narrativa, contando causos de coberturas internacionais, não vamos contar aqui, mas foram Copas do Mundo, Copas Américas, Libertadores e Mundiais de Clubes, estas duas últimas competições com o envolvimento de Grêmio e Internacional.

Haroldo não fala muito de sua passagem breve pela Rádio Bandeirantes. “Tive raros momentos positivos naquela emissora”, escreveu. Além disso, ele cita o nome da pessoa que o dispensou (sem spoiler aqui). O contexto é relativamente conhecido. Derrotado na eleição para vereador em 2012, praticamente no dia seguinte ele é dispensado pela emissora. Faltou escarafunchar um pouco mais essa história.

Em seguida, ele é contratado pela Rádio Grenal e vive um renascimento profissional. A rádio, surgida na década de 2010, fala 24 por dia das coisas de Grêmio e Internacional e mexeu com a concorrência. Guaíba e Bandeirantes que o digam.

Nesse meio tempo, Haroldo conta que recebeu um salário da RBS, após pedir emprego mas, segundo o relato de “Adivinhe!”, seu nome foi vetado. Após uma conversa com Nelson Sirotsky, o narrador passa a receber um salário do grupo por um certo período. (Em tempo: em uma entrevista recente ao De Carona com o Gamba, Nelson disse que foi um empréstimo de R$ 60 mil, pagos em prestações de R$ 5 mil, que não precisava ser devolvido).

“Adivinhe!” também traz os textos escritos por Haroldo para as aberturas de jornadas, aquele momento em que o narrador faz uma introdução da partida que vai ser narrada e da equipe envolvida na cobertura. No entanto, o narrador aproveitava para falar de outras coisas não necessariamente envolvidas com a partida em questão. Era, no fundo, uma crônica radiofônica. Também foram reunidos alguns textos para comentários que ele fez em programas esportivos das emissoras pelas quais passou.

Logo no final, ao menos uma revelação mais pessoal, que vem pela sua atual esposa, Carla. Ela conta as circunstâncias em que se conheceram (outro spoiler que não vamos dar aqui).

“Adivinhe!” foi editado pela Melhorpubi. Uma das formas de adquirir o livro é pelo próprio site da editora: https://melhorpubli.com.br/

Ruy Carlos Ostermann ganha biografia fluida e agradável

Por Rodney Brocanelli

O mês de outubro marcou o lançamento de um dos projetos mais aguardados por amantes do rádio, do futebol e das duas coisas juntas: a biografia do jornalista Ruy Carlos Ostermann, intitulada “Um Encontro com o Professor”, escrita pelo também jornalista Carlos Guimarães. Um evento acontecido no último dia 23 no Book Hall, do Shopping Bourbon em Porto Alegre reuniu biografado, autor, fãs e amigos ilustres.

Ruy é um dos nomes mais notáveis do jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul. Começou sua carreira no impresso passou a escrever na Folha da Tarde, de Porto Alegre. Logo, ingressou na Rádio Guaíba, que era do mesmo grupo, o Caldas Júnior. Também dedicou parte de sua carreira ao Grupo RBS, trabalhando na Rádio Gaúcha e na Zero Hora, até se aposentar. Ele foi um dos poucos a ultrapassar fronteiras e se tornar conhecido no eixo Rio-São Paulo, com participações em programas como Cartão Verde, Bem Amigos.

Outra característica importante é que em um determinado momento, Ruy conseguiu conciliar a sua atividade no jornalismo com os estudos em nível superior. Em 1960, ele ingressa na faculdade de Filosofia da UFRGS. Com isso, ele se credencia a ser professor (daí o fato de que posteriormente ele é chamado de Professor Ruy).

Uma vez formado, ele não guardou o diploma. Deu aulas de Filosofia para alunos do que se convencionou chamar hoje de Ensino Médio. Mais adiante, foi secretário da educação no Rio Grande do Sul, durante a administração do governador Pedro Simon.

Com um currículo desses, Ruy foge do estereótipo que por muitos anos foi dado ao jornalista esportivo: o de uma pessoa alienada do que acontece à sua volta.

O livro é baseado em entrevistas, nas anotações do próprio personagem principal, que por muito tempo alimentou diários, com suas impressões, e nas colunas publicadas nos principais jornais de Porto Alegre ao longo de sua história.

Além da vida de Ruy, está no livro não apenas como pano de fundo, mas devidamente contextualizadas, a rivalidade entre os grupos Caldas Júnior (Guaíba, Folha da Tarde e Correio do Povo) e RBS (Gaúcha e Zero Hora).

A outra rivalidade sulista, muito mais conhecida do grande público, que envolve Grêmio e Internacional, também está bem detalhada. O livro não se propõe a revelar abertamente para qual time seu personagem principal torcia, mas deixa pistas que podem levar a uma conclusão (dica: sigam Paulo Sant’ana).

“Um Encontro com o Professor” também faz uso das famosas planilhas usadas por Ruy para comentar os jogos pelas emissoras de rádio. A estrutura é bastante simples: numa folha de papel, ele anovava os nomes dos jogadores titulares de cada time e, com sinais gráficos, tabulava dados importantes como chances de gols, entre outras informações relevantes, que serviam de base para as suas intervenções.

A estrutura narrativa do livro toma por base as Copas que Ruy cobriu desde 1966. A primeira, sediada na Inglaterra, tem um charme a mais na narrativa, até porque foi sua estreia em coberturas de fôlego deste tipo. Os mundiais de seleções servem também para esmiuçar relações com a família (spoiler: em 1990, ele recebe uma notícia triste; o encarregado de transmiti-la foi o amigo Luis Fernando Veríssimo).

O autor de “Um Encontro com o Professor” é Carlos Guimarães, personagem frequente deste Radioamantes. Com passagens por Guaíba e Gaúcha, hoje ele é coordenador de esportes na Bandeirantes. Outra de suas credenciais é sua movimentação pelo meio acadêmico. O que poderia ser um empecilho (um texto acadêmico demais), não se confirma e o texto é bastante fluido e agradável.

Guima, como é conhecido, não optou apenas por descrever os fatos, mas em muitos momentos participa da narrativa, seja dentro do texto ou por meio de notas de rodapé. Trata-se de um recurso, não um exibicionismo. Quem brilha mesmo é o personagem principal.

Embora, a obra passe muito longe de polêmicas (e elas existem), outra de suas virtudes é a honestidade (embora seja uma palavra desgastada pelo tempo). Os problemas de saúde enfrentados por Ruy especialmente na cobertura da Copa do Mundo de 2010, a última que ele participou de forma mais ativa, aos 71 anos, não foram deixados de lado ou abrandados. Sua intolerância à lactose provocou reações bastante danosas durante o transcurso daquele mundial, inclusive em termos de imagem.

Claro que o livro tem muito mais além do que foi descrito aqui. A infância de Ruy é devidamente esmiuçada e não deixa de ser uma surpresa que o aluno foi muito diferente do professor. Há espaço para também um amor (sim) não correspondido. Uma vida rica, produtiva e que deixa um enorme legado. E ao final da leitura não é possível deixar de concordar com o desfecho. A vida não é uma merda.

Durante carona, Pedro Ernesto Denardin fala sobre desavenças com histórico comentarista

Por Rodney Brocanelli

Em uma participação para lá de especial no webprograma De Carona com o Gamba, veiculado no canal de Filipe Gamba no YouTube, o narrador Pedro Ernesto Denardin, falou (e não foi pouco) sobre o seu relacionamento profissional com o hoje aposentado comentarista Ruy Carlos Ostermann na Rádio Gaúcha.

Tudo começou em uma parte da entrevista em que Gamba perguntou a Pedro Ernesto quem ele levaria na Tia Carmen. Trata-se de uma das casas noturnas de entretenimento adulto mais populares de Porto Alegre. O jornalista listou uma série de personalidades tanto da imprensa e como do futebol e uma delas foi o professor Ruy.

O narrador não levaria o seu ex-colega de jornadas esportivas para o estabelecimento. Pedro disse que não levaria, com a seguinte justificativa: “é intelectual”. Gamba quis saber mais: “como é que foi a tua relação com o professor?”

“Péssima”, foi a resposta do locutor. Mas não ficou apenas nisso. “Brigamos dez vezes”, afirmou, embora não se saiba se isso se trata de um recurso estilístico linguístico ou o número exato de desentendimentos.

Pedro contou algumas breves histórias para ilustrar, uma delas acontecidas na final do campeonato brasileiro de 1996, envolvendo Grêmio x Portuguesa, com a conquista tricolor. Na época, o repórter Farid Germano Filho, por sugestão do narrador armou uma agitação junto aos torcedores com Paulo Sant’anna. O comentarista do Sala de Redação, então participando da jornada, puxou um grito de guerra que mexeu com a galera tricolor.

Segundo o narrador, isso teria gerado uma crise de ciúmes em Ruy que: “olha este palhaço aí”. Isso iniciou um ríspido diálogo entre os dois. “Ó professor, um artista popular, né?”, respondeu Pedro. “Sim e tu também é um artista popular, replicou o comentarista. “Sou e tenho muito prazer”, foi a resposta.

“O clima era mais ou menos esse. A gente já começava a transmissão um odiando o outro”, complementou Pedro.

Outro relato do locutor foi referente a escala de cobertura na Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina. Conforme o relato, Pedro estava na lista de profissionais que iriam viajar, mas Ruy o substituiu por Luis Carlos Prates. No entanto, Prates foi para a Rádio Guaíba e a vaga ficou aberta. “Ele tentou três ou quatro coisas, não conseguiu e o último que ele levou fui eu. Fui para a Copa de 78 por um milagre. Mas começou assim a nossa relação, imagine como eu gostava dele. Que amor. Um beijo, professor”, afirmou.

E mais um dos desentendimentos relatados foi em Copa do Mundo, desta vez a de 2010, na África do Sul. E tudo começou com as críticas de Pedro ao então árbitro brasileiro Carlos Eugênio Simon: “o Simon fazia um monte de cagada quando era juíz, ele foi três vezes à Copa do Mundo porque ele transa bem (N. do R.: atenção quinta série, o termo aqui não tem aquele sentindo que vocês conhecem), agita bem com os chefes e tal”.

Durante um jantar com a participação de diretores do Grupo RBS, o narrador estava fazendo críticas ao árbitro quando Ruy fez um corte bravo: “para de falar do Carlos Simon”. Pedro respondeu também no mesmo tom e complementou: “se precisar, vou dar em ti”.

“Depois passa”, afirmou Pedro.

Ruy Carlos Ostermann hoje está aposentado. É esperado o lançamento de sua biografia, escrita por Carlos Guimarães, comentarista da Rádio Guaíba.

O webprograma

Funciona assim: ele é dividido em duas partes. Na primeira, Filipe Gamba pega seu convidado, o coloca em um carro e faz um passeio pelas ruas de Porto Alegre. Nesse meio tempo, o jornalista conudz (ops!) uma breve entrevista. Um formato ágil.

Em seguida, todos chegam a um lugar que seja significativo na história do entrevistado. No caso de Pedro Ernesto, ele foi levado à casa da Tia Carmen. A própria dona do local participou do programa e ambos bateram um papo. O estabelecimento chegou a ser patrocinador de um dos programas de Pedro na Gaúcha, o Show dos Esportes

Quem quiser conhecer mais desta personagem que agita as noites de Porto Alegre, pode assistir a uma entrevista que ela concedeu ao podcast Dus 2 (clique aqui).

E não deixe de assistir ao episódio completo com Pedro Ernesto Denardin clicando no player abaixo (tire as crianças da sala, especialmente na parte da Mulher Lagarto).