Por Rodney Brocanelli
Ricardo Boechat, 66 anos, jornalista, apresentador de rádio e televisão, morreu nesta segunda-feira, vítima de um acidente de helicóptero. Ele voltava de uma palestra feita em um evento de uma empresa farmacêutica, em Campinas. A aeronave tentou fazer um pouso de emergência na alça de acesso da rodovia Anhanguera ao Rodoanel, mas foi atingida por um caminhão que deixava o posto de pedágio, pegando fogo logo em seguida. O piloto Ronaldo Quattucci também morreu nesse acidente.
Boechat era âncora da Band News FM, apresentador do Jornal da Band, na TV Bandeirantes, e colunista da revista Isto É. Filho de um diplomata brasileiro e de mãe argentina, ele nasceu em Buenos Aires. Começou a trabalhar com jornalismo no final da década de 1960, no extinto Diário de Notícias. Naquele periódico, conheceu Ibrahim Sued, e foi alçado a ser redator da coluna de Sued, uma das mais importantes da época. Em 1983, se transferiu para O Globo, redigindo uma coluna de notas curtas chamada Swann. Ainda na década de 1980, teve passagens pelos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil.
Voltou ao Globo e em 1997 passou a assinar uma coluna, também de notas curtas, que levava seu nome. Ainda na década de 1990, começou a aparecer com frequência na tela da Rede Globo, ocupando espaços no Bom Dia Brasil e no Jornal da Globo. Deixou o Grupo Globo em 2001, vitimado por uma guerra travada nos bastidores pelo controle de empresas de telefonia.
No mesmo ano, foi trabalhar no Grupo Bandeirantes. No início, chegou a ser diretor de jornalismo no Rio de Janeiro e na recém-criada Band News FM, onde comandava o horário local. Em 2006, veio talvez a grande virada em sua carreira. Transferiu-se para São Paulo a fim de substituir Carlos Nascimento tanto no Jornal da Band, como no noticioso matutino nacional da mesma Band News FM. Passou a ser mais conhecido do público pelo seu trabalho no rádio. Formado na imprensa escrita, como destacamos acima, conseguiu dominar o veículo, graças ao seu carisma e à sua capacidade de improvisar por, as vezes, cerca de 10 minutos sobre qualquer tema. Além disso, sua capacidade de bater bola com colunistas de diversos perfis era admirável. Destaque para as intervenções com José Simão, responsável pelo lado humorístico do jornal. Em pouco tempo, transformou-se em um verdadeiro homem de rádio, alcançando uma popularidade inimaginável na época em que trabalhava em jornal.
Um fator que aproximava Boechat de seus ouvintes era a transparência. Em 2015, teve de se afastar de suas atividades devido à depressão. Quando voltou ao microfone, em agosto daquele ano, fez questão de fazer um pronunciamento sobre o assunto (clique aqui para ver).
Outra característica de Boechat, da qual não podemos fugir de destacar, era o mau humor e a impaciência com as falhas técnicas e de produção, nem sempre por culpa de algum responsável. Na última sexta-feira, foi destaque neste blog e em grandes portais a sua reação ao fato de uma entrevista previamente combinada não ter ido para o ar (clique aqui para ver). Outro fator de irritação para Boechat era a sua agenda atribulada, como deixou transparecer em junho de 2018, quando se zangou com um incidente técnico durante uma transmissão ao vivo no Museu do Amanhã (clique aqui para ver). Para se justificar, ele disse na ocasião “Eu tava brigando fora do ar com o Bruno Venditti, com o Bigode das carrapetas, porque é o seguinte, cara: eu para chegar no Museu do Amanhã, maravilhoso, no horário direitinho – cheguei dois minutos atrasado – eu fiz uma maratona que velho já não devia fazer mais”.
Após a confirmação da notícia da morte de Boechat, o clima na Band News FM foi de profunda consternação. Sheila Magalhães foi responsável por transmiti-la no ar. Eduardo Barão entrou logo em seguida, falando um pouco mais do companheiro e contando bastidores da apuração da notícia que ninguém gostaria de dar. A emissora praticamente saiu do ar para que a equipe pudesse se recompor. Ouça no player abaixo.