Morre Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Seu Tuta, fundador da Jovem Pan

Por Marcos Lauro

Morreu na tarde desta segunda-feira (4/11) Seu Tuta, como era conhecido o empresário Antonio Augusto Amaral de Carvalho. O fundador da Jovem Pan tinha 93 anos de idade e, segundo o portal da emissora, estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

“Na década de 1960, na TV Record, criou os festivais, que além de marcarem época, contribuíram para a explosão de movimentos como a Tropicália e a Jovem Guarda”, destaca também o portal, ressaltando a importância da sua trajetória não apenas para a empresa, mas para a radiodifusão brasileira. “Ele foi responsável, ainda, pelas primeiras transmissões esportivas ao vivo a partir de estádios fora do eixo Rio-São Paulo”, continua o site.

Em 2009, Seu Tuta lançou sua autobiografia, “Ninguém Faz Sucesso Sozinho”, ditada pelo próprio e escrita por José Nêumanne Pinto. O livro ganhou o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual este integrante do Radioamantes fez parte na ocasião. A nota de bastidores fica para o longo discurso de agradecimento de Seu Tuta na noite de entrega dos prêmios, para desespero da organização que não sabia como tirar o dono da Jovem Pan do palco para que a celebração continuasse.

Ainda na ocasião, escrevi sobre o livro para o antigo blog “Rádio Base” e reproduzo abaixo:

Uma conversa com Tuta

De filho do dono da empresa a dono que tem filhos (e netos) na empresa. Antonio Augusto Amaral de Carvalho (A. A. A. de Carvalho ou simplesmente Tuta), conta sua trajetória no recém-lançado “Ninguém Faz Sucesso Sozinho”, livro ditado por ele e com texto final/edição do jornalista José Nêumanne Pinto.

E, logo de cara, digo que a missão foi cumprida. Se a intenção foi publicar um bate papo com Tuta, foi isso que saiu. Por vezes, temos a impressão de estarmos no sofá com o radialista, ouvindo suas histórias pessoais e profissionais, os erros e os acertos e os companheiros que participaram da sua história. Para reforçar essa impressão, a ordem da história não é exatamente cronológica. Até segue um esqueleto, uma estrutura que vem lá da TV Record de seu pai, Paulo Machado de Carvalho (o Marechal da Vitória) e termina na Jovem Pan Online, mas como uma história puxa outra, os acontecimentos vão surgindo conforme as lembranças. Afinal, é uma conversa, certo?

Quem vê Tuta somente como aquele senhorzinho pacato, pode até se surpreender com o livro. Sobram farpas para o Barão, Wilson Fittipaldi, que saiu da Pan após uma briga “por dinheiro”. Já o subcapítulo “Descrédito no ser humano” é dedicado ao jornalista Milton Neves. Acho que, só pelo título, não é preciso explicar. Mas quem leva as principais e mais ferrenhas críticas é o empresário João Carlos Di Gênio.

Seu parceiro no projeto da TV Jovem Pan, uma concessão UHF obtida por Tuta, Di Gênio é criticado por ter acabado com o empreendimento da pior forma possível: colocando os funcionários contra Tuta, com reclamações trabalhistas indevidas. No livro, obviamente, só há a versão do radialista, na qual ele sai como o grande injustiçado. E a versão é reforçada por um de seus filhos, Marcelo Leopoldo e Silva de Carvalho, em depoimento. O curioso é que, de parceiro, Di Gênio se tornou um dos principais concorrentes de Tuta com a Mix FM.

E por falar em filhos, todos eles estão na Pan com o pai. Talvez o mais “famoso” seja Tutinha, que é o responsável pela Jovem Pan FM e criador e programas e personagens como Djalma Jorge e Pânico. Nos depoimentos dos filhos, conhecemos um Tuta ciumento e bastante bravo com a prole, muito diferente do que é com os netos (alguns já na Pan também).

Ao final do livro, listas para os curiosos. Todos os profissionais que já passaram ou que estão na Jovem Pan e seu tempo de permanência. Assim, sabemos que Cláudio Carsughi já presta bons serviços à emissora há 39 anos. Elpídio Reali Junior, há 40. José Nêumanne Pinto (o editor desta obra), há 12. E assim por diante.

Tuta não para quieto. Praticamente não ocupa sua sala, fica circulando pelos corredores da emissora, vendo o que está acontecendo, opinando e, sim, dando ordens. É uma das suas funções. E, com esse livro, podemos perceber que se cada rádio tivesse um Tuta pelos corredores, o nosso meio não estaria assim, tão abandonado e tão desvalorizado.

Tem gravações de rádios do Recife dos anos 1970/1980? Kleber Mendonça quer falar com você

Por Marcos Lauro

O diretor de cinema Kleber Mendonça Filho (Bacurau, Aquarius, O Som Ao Redor) fez uma publicação em seu perfil do Facebook com um pedido muito comum entre os profissionais do audiovisual: para uma próxima produção, ainda não divulgada, Kleber precisa de gravações de rádios da cidade de Recife, preferencialmente dos anos 1970.

Esse tipo de pedido é comum, mas dificilmente tem seu fim com êxito quando o profissional de pesquisa procura as emissoras. Poucas delas têm um acervo próprio organizado e que compreende toda a sua existência. Quanto mais antigo o arquivo procurado, mais difícil.

Nesse caso, o audiovisual conta quase sempre com a colaboração dos próprios profissionais do rádio, que por conta própria se gravavam ou gravavam os colegas, e também dos fãs de rádio, que acumularam fitas e fitas de gravações durante a vida. Como exemplo: a produção do filme Carandiru (2003, Hector Babenco) precisava de gravações de rádios do começo dos anos 1990 para ambientar algumas cenas, já que o som do rádio era muito presente nos corredores do presídio. O filme acabou contando com a ajuda de colaboradores da Rádioficina, que se mobilizaram para cederem seus acervos pessoais.

Enfim, se você tem gravações de rádios do Recife, entre em contato com Kleber por meio do seu Facebook oficial. O audiovisual brasileiro agradece.

Raridade: Oasis na rádio Brasil 2000

Por Marcos Lauro

Eu já não sei se foi real ou se é alguma peça que me prega a minha memória (que já era mais ou menos antes da COVID), mas eu me lembro do dia dessa gravação. Então, vou contar aqui o que está na minha memória. Se for mentira, só vai servir para tornar a história da gravação melhor.

Em março de 1998, a banda britânica Oasis passava pela América do Sul e no dia 21 foi a vez de São Paulo receber os malas, digo, irmãos Gallagher. Não fui ao show, mas acompanhava o movimento. Fico feliz em ver os fãs se organizando para grandes shows, mesmo que eu não vá e não seja tão fã assim. É bom ver os amigos empolgados.

Aí vem a parte da memória: o show acabou, a madrugada já avançava e eu me preparava pra dormir (sempre ouvindo a Brasil 2000) quando João Carlos Godas (o Tatola) “invade” o estúdio e diz: “Tenho aqui o show do Oasis inteiro, gravado num MD, e vou pôr no ar. Ouve aí”. E lá se foi a intenção de dormir mais ou menos cedo.

Em fita, com no máximo 60 minutos, tive que dividir o show em duas partes e, claro, não coube o show todo – que durou cerca de 1h40. Mas fica o registro pela memória, de um tempo em que os shows eram transmitidos pelas rádios e a gente ouvia.

A primeira parte (lado A da fita):

A segunda parte (lado B da fita):

O setlist completo das duas partes:

A

Be Here Now
Stand by me
Supersonic
Roll with It
D’you Know what I mean?

B

Don’t go Away
Wonderwall
Live Forever
I’m the Walrus
Cigarettes & Alcohol

Raridade: Dia Municipal do Rock na Brasil 2000

Por Marcos Lauro

No começo de junho, publiquei aqui nesse espaço uma raridade retirada de uma fita: o grupo Ira! ao vivo na rádio Brasil 2000 em 1998. Se você não ouviu, está aqui nesse link. Agora é a vez de outro achado do mesmo acervo.

Em setembro de 1997, a rádio Brasil 2000 organizou um festival na Praça Charles Miller, bem em frente ao estádio (então municipal) do Pacaembu. A iniciativa servia para reforçar as tentativas do, na época, vereador Turco Loco (PSDB) de valorizar bandas nacionais. E não estranhe: em São Paulo, o Dia Municipal do Rock foi instituido no dia 21 de setembro, diferente da data mundial, que é 13 de julho. Antes dessa data, o vereador havia proposto uma lei que obrigava produtores de shows internacionais a colocarem bandas nacionais nas aberturas – ideia que pegou em Porto Alegre e funciona até hoje. Aqui em São Paulo, a proposta foi barrada pelo prefeito Celso Pitta (PPB).

Mas voltando à Praça Charles Miller: A Brasil 2000 chamou um time de peso para comemorar o tal Dia Municipal do Rock: Arnaldo Antunes, Dr. Sin, O Rappa, Charlie Brown Jr. e uma participação mais que especial da banda australiana Men at Work, que estava no Brasil para uma turnê de dez show e “passou” pelo palco para um show surpresa. Aqui em São Paulo, eles já haviam tocado por duas noites no Olympia.

Ouça no player abaixo a primeira parte do especial:

No próximo player, a segunda parte do especial:

Abaixo, o setlist completo:

Parte 1
Arnaldo Antunes – O Silêncio
Arnaldo Antunes – O Poder
Dr. Sin – Down in the Trenches
Dr. Sin – Futebol, Mulher e Rock ‘n’ Roll
O Rappa – Hey Joe O Rappa – A Feira

Parte 2
Men at Work – Who Can it be Now?
Men at Work – Down Under
Men at Work – Overkill
Charlie Brown Jr. – O Côro vai Comê
Charlie Brown Jr. – Proibida pra Mim
Charlie Brown Jr. – Killing in the Name
Charlie Brown Jr. – Tudo o que Ela Gosta de Escutar

Show gravado no dia 21/9/1997 e transmitido pela Rádio Brasil 2000 no dia 27/9/1997.

Raridade: Ira! ao vivo na Brasil 2000 em 1998

Por Marcos Lauro

Eu tinha essa mania de gravar programação de rádios, principalmente esses programas especiais. Coisas que iam ao ar uma vez e você não sabia se ia ter reprise – ainda mais nos anos 1990, quando a internet ainda engatinhava comercialmente no Brasil, a gente nem pensava nessa opção “depois eu ouço no site”. Nâo tinha. Perdeu, já era.

Acabou que nesse processo constante de mudança de mídias, não consegui digitalizar muitas das fitas que gravei de rádios. Nessa semana, fui mexer na pastinha com alguns desses mp3 e me deparei com uma raridade: uma apresentação ao vivo da banda Ira! na rádio Brasil 2000 em 1998, no programa Brasileiros e Brasileiras – que como o nome entrega, era dedicado ao rock nacional em todas as suas vertentes. Me falha a memória se todas as edições eram ao vivo com banda no estúdio, mas essa é. Ira! em sua formação clássica (Nasi, Scandurra, Gaspa e Jung) numa época em que a banda estava próxima das experimentações eletrônicas, como entrega a primeira música da primeira parte, “Às Vezes, De Vem em Quando”:

Sim, tem chiado – a rádio Brasil 2000 não pegava exatamente bem na Santa Cecília, onde eu morava na época. Quando chovia, piorava – quando não caía de vez. E o programa era bem direto mesmo, praticamente sem vinhetas entre as músicas, sem locutor “levantando a galera”, nada. Apenas a banda no estúdio. E eu em casa.

Essa foi uma época musicalmente controversa para o Ira! por conta dessas experimentações eletrônicas, que não eram bem aceitas por parte dos fãs. Numa apresentação no programa Bem Brasil, facilmente encontrável no YouTube, parte da platéia se vira de costas para o palco enquando o grupo toca uma das faixas desse álbum, o Você Não Sabe Quem Eu Sou. Durante a música “Justiça Militar, Justiça Civil (Liquidação de Verão)”, a mais tecno do disco, dá pra ouvir o guitarrista Scandurra gritando ao microfone a frase “OPEN YOUR MINDS” (“Abram suas mentes”). Nem todos abriram.

Na segunda parte da nossa raridade, vem um Ira! mais roqueiro:

O setlist completo das duas partes da apresentação:

Ira! ao vivo no programa Brasileiros e Brasileiras
Rádio Brasil 2000 – 1998

Parte I

1 – As Vezes de vez em Quando
2 – Correnteza
3 – Tantas Nuvens
4 – Vou me Encontrar
5 – Miss Lexotan 6 mg Garota
6 – Eu Não Sei
7 – Nada Além

Parte II

1 – Me Perco Nesse Tempo
2 – Você Não Sabe Quem Eu Sou
3 – É Assim Que Me Querem
4 – Você Não Serve Pra Mim

Águia de Ouro divulga o samba em homenagem ao rádio para o Carnaval 2024

Por Marcos Lauro

Nesse último final de semana, a escola de samba Águia de Ouro divulgou o samba escolhido para representar a agremiação no Carnaval de 2024. A música “Águia de Ouro nas ondas do rádio” será cantada no Anhembi a plenos pulmões pelos intérpretes Douglinhas Aguiar e Serginho do Porto.

Como já noticiado aqui no Radioamantes, a Águia de Ouro faz uma homenagem ao rádio e escolheu Eli Correia para personificar a radiocomunicação. O próprio Homem Sorriso do Rádio fez a apresentação do samba vencedor na festa realizada na quadra da escola.

Abaixo, a letra do samba. Logo no primeiro verso, a música lembra do Padre Landell de Moura, brasileiro inventor do rádio. Num dos refrães, o conhecido grito de guerra, “Oi, Gente!”, de Eli Correia, está presente:

O PADRE CRIADOR ABENÇOADOO
NA CIÊNCIA E NA FÉ, INJUSTIÇADO
O GUARANI, O VIOLINO ANUNCIOU
NO CENTENÁRIO QUE O BRADO RESSOOU
AO POVO ILETRADO, SABEDORIA E ESPERANÇA AO ESCUTAR

É GOL…É GOOL…É GOL…
A TORCIDA VAI DELIRAR (OLÊ OLÁ)
ERA… FEITA DE OURO, O NOSSO TESOURO
O DOM DE CANTAR (LALAIA)

PALAVRA, O SOM QUE TOCA A ALMA
UNINDO A NAÇÃO NUM SÓ LUGAR
A CRENÇA EM MARIA É SAGRADA
A NOSSA ORAÇÃO NOS SALVARÁ
CHOREI FEITO AMANTE APAIXONADO
DANCEI E VOCÊ FOI O MEU PAR
ÁGUIA DE OURO: A SUA ESTAÇÃO
LIGADA NO MEU CORAÇÃO
ESSE AMOR NÃO SE ACABOU
E NO FUTURO ASSIM SERÁ!!

ALÔ ALÔ! É HORA DE SINTONIZAR
O SHOW VAI COMEÇAR!
OIII GENTE… O “SORRISO DO RÁDIO” ESTÁ AÍ
VILA POMPÉIA VEM PRA SACUDIR!!!

Veja também o vídeo do momento do anúncio, registrado pelo site Carnavalesco:

A Águia de Ouro será a quinta escola a desfilar na segunda noite do grupo Especial do Carnaval Paulistano, no dia 10 de fevereiro.

Escola de samba Águia de Ouro faz homenagem ao rádio no Carnaval 2024

Por Marcos Lauro

Com sede na Pompeia, bairro da Zona Oeste da capital paulista, a escola de samba Águia de Ouro escolheu o enredo para o próximo Carnaval, em 2024: a agremiação homenageia o rádio no desfile que está marcado para o dia 10 de fevereiro, sábado de Carnaval. A Águia de Ouro será a quinta escola a entrar no sambódromo do Anhembi, logo após a Gaviões da Fiel, no Grupo Especial.

Na última segunda-feira (17/7), a escola apresentou a sinopse do enredo. Esse é o material serve para que os compositores possam fazer os sambas-enredo sobre o tema proposto. O melhor, escolhido internamente, vai para a avenida.

Na sinopse, que você pode ler abaixo, tem um panorama sobre o histórico do rádio no Brasil, desde a sua primeira transmissão oficial e a sua invenção pelo padre Landell de Moura. O texto segue brincando com os formatos de programas de rádio e com a agilidade do veículo. Eli Correia é o único comunicador citado nominalmente e que será homenageado pela escola.

Veja a sinopse e, abaixo, um vídeo das redes de Eli Correia sobre a Águia de Ouro:

SINOPSE

 “O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre.”
(Edgard Roquette Pinto)

 Oi gente!

 Alô ouvintes! Salve Comunidade aguerrida da Pompeia!

 Está no ar o Programa “Nas Ondas do Rádio”, da sua Estação Águia de Ouro, em perfeita sintonia pra tocar seu coração!

 Esse Carnaval traz um Especial pra viajar no túnel do tempo, e mais do que contar a história, avivar a memória e reviver momentos antológicos do rádio através do nosso festejo popular mais genuíno.

 A necessidade de se comunicar, o impulso da criação, o ímpeto de realizar. A origem, o desenvolvimento e o aprimoramento do rádio são fruto da obstinação do Homem para expandir a sua capacidade de comunicação.

 A cerimônia de comemoração do centenário da independência do Brasil, ocorrida em 07 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, foi a primeira transmissão radiofônica oficial do país. Autofalantes ecoavam o discurso presidencial de Epitácio Pessoa e a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, direto do palco do Teatro Municipal. Episódio marcante, a solenidade foi uma demonstração pública efetiva do grande feito que era a comunicação através de transmissores e receptores, evidenciando o papel precursor e de “divisor de águas” dignamente atribuído ao rádio.

 A missão de derrubar as barreiras da distância através do som desafiou pesquisadores e inventores visionários. Dentre eles, Padre Landell de Moura, homem santo e cientista dito bruxo, que driblou o dilema entre a Fé e a Ciência, e heroicamente realizou a primeira transmissão da palavra falada e sem fios no Brasil.

 De lá pra cá, a fala solitária alcança uma multidão. Tantas vezes o rádio é a única companhia… O acesso à informação se torna sagrado quando a palavra que não pode ser lida é ouvida, e a mensagem decodificada. Um alento para uma legião de analfabetos invisíveis, sensíveis à luz da inclusão.

 Oxigênio e fôlego para os combatentes abatidos pela dor da guerra e seus familiares; a disseminação da informação divulgada nos noticiários e reportagens a promover elucidação; o alvoroço e o rebuliço provocado pelas arrebatadoras radionovelas; o grito de gol incontido, extravasado no êxtase da torcida em vibrante comemoração; a consagração dos tempos áureos legitimada na chamada “Era de Ouro”.

 A potência das vozes promove encantamento, explosão de talentos, anônimos alcançam o estrelato, surgimento de divas, musas, ídolos. As vozes que enfeitiçam com o dom de cantar revelam o desabrochar de uma dinastia de reis e rainhas. Em meio à múltiplas utilidades e funções, o estouro da Rádio Nacional e o tesouro sublime que é a representatividade de uma personalidade como Carmem Miranda despontando no cenário cultural.

 Programas de humor trazem leveza ao dia através do riso que anestesia, o radinho de pilha se torna um clássico da preferência popular, A Voz do Brasil anuncia posicionamentos e considerações dos poderes políticos institucionais importantes de se notificar. Já a Hora do Angelus, é um bálsamo para as atribulações. Devotos em oração elevam seus pensamentos pedindo por bênçãos e proteção e clamando à Nossa Senhora: “Ave Maria! Rogai por nós!”.

 Companheiro inseparável das donas de casa, é distração em meio aos afazeres domésticos e conselheiro dos corações apaixonados e dos amantes errantes, que confidenciam seus romances, dramas, aventuras e declarações em açucaradas cartas de amor.

 Locutores e comunicadores profissionais seguem sendo elementos fundamentais para que o rádio se fortaleça cada vez mais enquanto um instrumento de extrema relevância para o jornalismo, a música, as artes, o entretenimento, o acesso à cidadania. Homenagem merecida é enaltecer o trabalho do ilustre radialista Eli Corrêa, o Sorriso do Rádio, incluindo nessa viagem a coroação de sua carreira, seu carisma e do Clube da Amizade.

 “Vamos sorrir! Vamos cantar!”. A internet e a rede wi-fi podem ser o início de uma nova era… Com a evolução surpreendente da tecnologia, quem arrisca um palpite sobre o futuro que virá?

 Na Avenida onde os sonhos ganham vida, há de ser comovente ouvir o coro da nossa gente bradando que o rádio é veículo imprescindível e terminantemente veio pra ficar!

Águia de Ouro – enredo 2024 – sinopse

No vídeo abaixo, Eli Correia, vereador em São Paulo pelo partido União Brasil, mostra a flâmula da Águia de Ouro em seu gabinete:

Revista Zumbido lança edição especial sobre rádio

A revista online Zumbido, produzida pelo Selo SESC, lançou mais uma edição especial. E desta vez o tema é rádio.

São oito textos, ricamente ilustrados, sobre o veículo, cada um com um estilo e uma abordagem. Tem reportagem, crônica, lista com indicações do que ler, ver e ouvir e até ficção:

No seu radinho
Um passeio pelas frequências radiofônicas do Brasil. Por Nina Rocha

A irreverência tem seu lugar no dial
Os 37 anos de carreira de Alexandre Hovoruski têm como marcas o rádio feito com bom humor e os ótimos resultados de audiência. Por Marcos Lauro

A Maldita que entrou para a história
O oásis radiofônico que marcou uma geração nos anos 1980 e foi pioneiro da “rádio rock”. Por Fabiane Pereira

A Jamaica brasileira nas ondas do rádio
As rádios e o reggae no Maranhão têm uma relação muito importante (e, não, não é porque as músicas chegavam por ondas curtas do Caribe). Por Karla Freire

A complexa existência (e resistência) das rádios comunitárias
Uma breve análise da história das rádios comunitárias — e os interesses que atravessam suas existências legais. Por Dora Guerra

O velho (rádio) e eu
De ouvinte fanático de rádio a apresentador de podcast, Matias Pinto conta sua trajetória entre as ondas e a internet. Por Matias Pinto

Rebobinando
Divagações sobre um certo aparelho que ajudou a escrever uma história de amor entre um adolescente e a rádio. Por Jean Paz

ZumZumZum — Rádio
O que a equipe do Selo Sesc recomenda sobre o tema da edição #4 da Zumbido

Zumbido, uma publicação Selo SESC

Jovem Pan e a monetização do inaceitável

Por Marcos Lauro

A edição mais recente do programa Greg News foi sobre a Jovem Pan. Na última sexta (24), a premiada atração da HBO, que vai ao ar semanalmente no canal fechado e no YouTube sempre com um tema específico, dedicou seus quase 30 minutos de duração à emissora, suas empresas coligadas e sua equipe de comentaristas.

De maneira didática, o apresentador Gregório Duvivier foi escalando as questões problemáticas que envolvem a Jovem Pan desde a sua fundação, oriunda da Panamericana S.A., até o mais recente episódio que envolveu a concessão do canal 32 UHF, que já abrigou a revolucionária MTV e hoje, de maneira irregular e ilegal, corre o risco de ir parar nas mãos de Tutinha. O programa, como já citado, é bastante didático e está, na íntegra, logo abaixo:

O programa é completo e não há muito o que acrescentar a ele. A visão panorâmica mostra o ponto em que chegamos em alguns processos de comunicação, onde o inaceitável é tratado como conteúdo. Aqui nesse texto, de 2018, expliquei a estratégia de programas com o Pânico de recortar trechos impactantes do dia para atrair visualizações no YouTube e, consequentemente, monetização. Nessa atualização mais recente da Jovem Pan, desde 2015, outro tipo de conteúdo mal-feito e nocivo ganha monetização: o político. Claro que isso não difere do que é feito em centenas de outros canais obscuros e que também ganham dinheiro com isso. Mas esses canais não carregam um nome que já foi referência no fazer rádio aqui no Brasil, um nome que já foi criador de tendências musicais e comportamentais, que já fez rir de forma genuína e descompromissada.

A Jovem Pan, como qualquer outra empresa de comunicação, fala a linguagem do dinheiro. Mas com um certo cuidado e preocupação com reputação e relevância, é possível pesar bem as decisões. Temos centenas de bons exemplos pelo Brasil, de empresas de comunicação que conseguem diminuir o peso do dinheiro no seu resultado final, no que é apresentado ao público, e fazem um bom trabalho. E não falo aqui de imparcialidade, essa lenda urbana que persegue o jornalismo há tantos anos. É possível ter lado e ser honesto. Mas Tutinha e sua Jovem Pan desistiram desse caminho – e já faz muito tempo. Tudo pelo dinheiro.

“A Maldita”, história da Fluminense FM, estreia em documentário

Por Marcos Lauro

Selma Boiron, locutora da Fluminense FM - Foto: Divulgação
Selma Boiron, locutora da Fluminense FM – Foto: Divulgação

Foi ao ar nessa quarta-feira (14), no Canal Brasil, o documentário “A Maldita”, da diretora Tetê Mattos. O filme já teve sua versão em curta metragem lançada em 2007 e agora ganha sua versão maior com depoimentos de artistas, entrevistas com profissionais que fizeram parte da equipe e outros detalhes que tornam a história ainda mais interessante.

A Fluminense foi a primeira rádio segmentada no rock no Rio de Janeiro. Com uma linguagem jovem, mas que respeitava a inteligência do ouvinte, a rádio soube abraçar a geração 1980 de uma forma única, que vencia até a pobreza técnica do seu transmissor – ouvintes cariocas chegavam a ir de carro até o Aterro do Flamengo, onde o sinal chegava bem, só pra ficar ouvindo a rádio e participar da programação.

Além de mostrar o pioneirismo da equipe, o filme presta uma grande homenagem ao ouvinte-fã da rádio. Boa parte da documentação exibida na tela vem dos arquivos desses ouvintes – um deles anotava num caderno a programação da rádio e o setlist de todos os shows em que ia. Outra ouvinte, ainda, guarda uma carta-resposta que recebeu da emissora.

Outro detalhe do filme é a leitura das cartas. Entre um depoimento e outro, uma imagem de arquivo e outra, cartas dos ouvintes são lidas em off para mostrar a relação de colaboração que existia. Ouvintes, além de elogiarem a programação, davam dicas, pediam música e, de fato, participavam da rádio por carta. Alguns faziam mais: iam até a emissora (algo raro para a época) e trabalhavam. Um deles é o cantor e compositor BNegão, que ia até a rádio para atender ligações de ouvintes e conviver com os locutores da época.

“A Maldita” é um filme que mostra a importância de um veículo de comunicação que de fato se comunica com seu público. Mesmo quem não ouviu na época ou nem mesmo é do Rio de Janeiro/Niterói, vai sentir a força que tinha uma rádio desse tipo em tempos pré-internet.

Para ver o documentário “A Maldita”, consulte a programação do Canal Brasil para pegar uma das reprises.

Rapper Pregador Luo recebe ameaça de coordenador de rádio gospel

Por Marcos Lauro

Pregador Luo é um dos artistas mais respeitados do rap nacional. Evangélico, ele representa parte importante do rap gospel e tem grande público fora das igrejas também – simplesmente pelo fato das suas músicas serem boas, bem produzidas e bem escritas. Pregador Luo chegou até a fazer trilha para lutas de MMA há algum tempo.

O rapper ficou afastado da cena por motivos pessoas e voltou. Acabou de lançar um EP com três músicas e está bastante ativo nas redes, demonstrando sua visão sobre a situação atual do país de forma bem clara e objetiva. E hoje ele recebeu uma ameaça de uma pessoa que se apresenta como coordenador de uma rádio gospel.

Olha aí como funciona o coração e a mente de ALGUMAS das pessoas que se dizem do bem, cristãs, se rotulam da direita e são partidárias do governo. Além de insultos, ofensas e xigamentos que recebi em um post no qual questionei a atitude do governo, recebi essa ameaça do coordenador de uma das maiores rádios gospel do país. E eu não fiz nada pessoal para ele. Espero que minhas músicas encontrem outro caminho pra chegar até vocês, e na real, eu dependo de Deus não de homens”, disse o artista em um post no Facebook que acompanha uma reprodução da ameaça, abaixo:

Mantemos o recorte feito pelo artista, com a ocultação da identificação do profissional e da emissora.

Ouça o EP Ele É Muito Mais:

Depois de 22 anos, Gislaine Martins e Ricardo Sam deixam a Transamérica

Por Marcos Lauro

No rumo das mudanças pelas quais a Rede Transamérica passa, essa sexta-feira reservou uma notícia inesperada e que acaba com uma das duplas de maior sucesso no rádio paulistano. Gislaine Martins, Gerente Artística, e Ricardo Sam, Coordenador Artístico, foram dispensados da emissora neste dia 12 de julho. Além dos cargos ocupados, a dupla também apresentava o matinal “2 em 1”.

Curiosamente, a trajetória dos dois na Transamérica começou e terminou no mesmo dia: os dois foram contratados no dia 3 de fevereiro de 1997. “Também trampou com operadora de mesa para a galera do Café com Bobagem e comandou o Transreporter. Em 2005, ao lado de Sam, embarcou de cabeça na apresentação do ‘2 em 1’”, diz um texto no site da emissora na ocasião da comemoração dos 20 anos de casa.

Sobre Ricardo Sam, o texto lembra também que o profissional já esteve à frente de programas como T-Rock, Nitroglicerina, Naftalina e Quarta Pirata.

O entrosamento entre Gislaine Martins e Ricardo Sam brincou muito com a criatividade e curiosidade do ouvinte da Transamérica a ponto de muitos jurarem que os dois formam um casal real – e, no ar, com algumas provocações, Gislaine e Sam alimentavam esses rumores. Hoje, ao digitar o nome de qualquer um dos dois no Google, a pergunta “são casados?” aparece entre as cinco pesquisas mais feitas.

A Transamérica segue fazendo mudanças na grade, contratando novos nomes e caminha no sentido de uma “adultização” da sua programação pop. Radioamantes ainda não conseguiu apurar os nomes dos novos Gerente e Coordenador artísticos da emissora.

Gislaine Martins e Ricardo Sam - reprodução/site Transamérica
Gislaine Martins e Ricardo Sam – reprodução/site Transamérica

Pedro Trucão assume as madrugadas da Transamérica

Pedro Trucão - Foto: Pietralcantara/Wiki

Por Marcos Lauro

O radialista e ex-repórter do clássico programa Siga Bem Caminhoneiro, que fez história no SBT, Pedro Trucão, é a novidade da rádio Transamérica. A voz conhecida dos caminhoneiros de todo o país entra no ar no dia 1º de agosto.

Pedro da Silva Lopes tem 65 anos e um extenso currículo como comunicador. Sua atração mais recente no rádio foi o programa Fazendo Rastros Pelo Brasil, que ia ao ar em dois horários pela Rádio Capital. Trucão já passou também pelas rádios Tropical, Globo e Tupi AM, entre outras.

Na Transamérica, Trucão entra no ar pelas redes Pop e Hits das 4h às 6h da manhã. O clima deve ser muito parecido com o que o radialista faz atualmente: muito bate-papo e a situação das estradas pelo Brasil. Trucão já soma mais de 40 anos de serviços prestados na comunicação.

A Transamérica Pop passa por transformações. Algumas, mais sutis, já podem ser ouvidas no ar – hoje, os locutores estão apenas anunciando e desanunciando músicas, de forma sóbria e menos afetada do que numa rádio jovem comum. Um sinal de “adultização” da Transamérica Pop.

Zé Nogueira, o contador de histórias

Por Marcos Lauro

O produtor Zé Nogueira como Einstein - Foto: Reprodução/Facebook
O produtor Zé Nogueira como Einstein – Foto: Reprodução/Facebook

Faleceu no inicio desta quinta-feira (30), aos 89 anos, o produtor José Nogueira Neto. Zé Nogueira, como era conhecido, trabalhou na Rádio Eldorado por cerca de 40 anos e acompanhou as mudanças da emissora – de local e de estilo. Além disso, foi também produtor de shows e eventos e trabalhou com gente como Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Elis Regina, Toquinho, João Donato, Paulinho da Viola e Frank Sinatra – este último, quando coordenava os shows do night club do Maksoud Plaza e o hotel estava no seu auge em termos de programação e requinte. Era um luxo! Também acompanhou Ella Fitzgerald em sua passagem por São Paulo, usando seu fusquinha como meio de locomoção da cantora.

Trabalhar com Zé Nogueira na redação da rádio era uma festa. Aos 80 e tantos anos, ainda produzia (e muito bem) alguns programas como “A Cara do Jazz” (com apresentação de Paulo Caruso) e o “Adega Musical”, do sommelier Manoel Beato. História de bastidores: era tradição beber vinho durante as gravações desse programa, até que a direção baixou uma ordem que proibia alimentos e líquidos dentro dos estúdios. Zé Nogueira bateu o pé e argumentou que não fazia sentido fazer um programa sobre vinhos e afins sem beber. Conquistou o direito de serem os únicos com essa permissão e a tradição seguiu.

Estar com Zé Nogueira no dia a dia era ver, do nada, ele te trazendo uma carta carinhosa que a Elis Regina escreveu pra ele logo depois de dar um esporro no velhinho – Zé já tinha cabelos grisalhos há muito tempo. O causo: Depois de um show, Elis foi comer com os músicos e Bôscoli estava cansado, resolveu voltar para o hotel. Zé resolveu acompanha-lo. Os dois foram para o quarto do casal Bôscoli-Elis e resolveram dar uma encostadinha pra descansar… pegaram no sono. Eis que Elis chega, pega aqueles dois homens deitados em sua cama e começa a berrar, expulsando Zé do quarto. Depois veio a cartinha, com direito a coração desenhado. Essa carta ainda existe, foi guardada por Zé Nogueira assim como muitos outros itens – a exposição sobre Adoniran no Farol Santander, em São Paulo, contou com itens cedidos pelo produtor, assim como uma exposição anterior sobre Elis, organizada pelos herdeiros.

Sem querer, Zé já me abriu portas e suavizou caminhos com pelo menos dois artistas famosos por serem avessos a entrevistas: um porque tinha Zé como um padrinho e outro porque foi apresentado a Chico Buarque pelo Zé. É um nome que abre corações e mentes.

A redação com Zé tinha trabalho, mas também tinhas essas histórias que beiravam o surreal e um espírito jovem, quase de criança – como quando Zé se candidatou a um cargo na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) do Grupo estado e saiu pelo prédio com um cartaz todo improvisado escrito “VOTEM EM MIM”. Ganhou, claro E depois ficava tirando sarro dele mesmo: “Se esse prédio pegar fogo, fiquem tranquilos que esse velhinho aqui é o brigadista”.

Zé me ensinou até que o grito de “chupa!” nos estádios de futebol não tem conotação sexual alguma. Quando jovem, ele se lembra que provocavam outras torcidas de times que não saíram vencedores com gritos de “Perderam! Fiquem aí chupando o dedo!”. Nessa mania que a gente tem de ficar diminuindo as coisas, virou o “chupa!” de hoje. E, me desculpe, mas eu acredito num senhor que nadou num rio Tietê limpo com os amigos.

Zé Nogueira se foi, mas as histórias ficam, vivíssimas. Amigos têm horas e horas de áudios com entrevistas com o Zé contando dezenas dessas histórias do universo da música e do rádio. Ainda não sabem o que fazer com esse material, mas pode ser que tudo fique imortalizado em breve. Vamos torcer.

Gil Gomes morre aos 78 anos

Por Marcos Lauro

Pouco menos de dois meses depois da morte de Zé Bettio, o rádio AM perde mais uma de suas grandes figuras. Gil Gomes morreu na madrugada dessa terça-feria (16/10) no hospital São Paulo. Diferente de Zé Bettio, avesso a outras mídias, Gil Gomes migrou para a TV e chegou a assinar colunas em jornais populares além de gravar sua voz marcante na história do dial brasileiro.

Diferente de muitos outros jornalistas policiais, Gil Gomes se preocupava com o lado humano de todos os envolvidos nas histórias que narrava. Enquanto outras vozes se preocupavam em julgar acusados no ar, Gil Gomes contava as histórias de maneira respeitosa, dando vazão a sua verve narrativa. O ouvinte se via nas cenas narradas e na presença dos envolvidos.

Em 2017, tive a honra de entrevistar Gil Gomes para o podcast Rádiofobia, de Leo Lopes. Bom para entender um pouco mais o universo desse incrível narrador. Para ouvir, clique na imagem abaixo.