Revista Zumbido lança edição especial sobre rádio

A revista online Zumbido, produzida pelo Selo SESC, lançou mais uma edição especial. E desta vez o tema é rádio.

São oito textos, ricamente ilustrados, sobre o veículo, cada um com um estilo e uma abordagem. Tem reportagem, crônica, lista com indicações do que ler, ver e ouvir e até ficção:

No seu radinho
Um passeio pelas frequências radiofônicas do Brasil. Por Nina Rocha

A irreverência tem seu lugar no dial
Os 37 anos de carreira de Alexandre Hovoruski têm como marcas o rádio feito com bom humor e os ótimos resultados de audiência. Por Marcos Lauro

A Maldita que entrou para a história
O oásis radiofônico que marcou uma geração nos anos 1980 e foi pioneiro da “rádio rock”. Por Fabiane Pereira

A Jamaica brasileira nas ondas do rádio
As rádios e o reggae no Maranhão têm uma relação muito importante (e, não, não é porque as músicas chegavam por ondas curtas do Caribe). Por Karla Freire

A complexa existência (e resistência) das rádios comunitárias
Uma breve análise da história das rádios comunitárias — e os interesses que atravessam suas existências legais. Por Dora Guerra

O velho (rádio) e eu
De ouvinte fanático de rádio a apresentador de podcast, Matias Pinto conta sua trajetória entre as ondas e a internet. Por Matias Pinto

Rebobinando
Divagações sobre um certo aparelho que ajudou a escrever uma história de amor entre um adolescente e a rádio. Por Jean Paz

ZumZumZum — Rádio
O que a equipe do Selo Sesc recomenda sobre o tema da edição #4 da Zumbido

Zumbido, uma publicação Selo SESC

Jovem Pan e a monetização do inaceitável

Por Marcos Lauro

A edição mais recente do programa Greg News foi sobre a Jovem Pan. Na última sexta (24), a premiada atração da HBO, que vai ao ar semanalmente no canal fechado e no YouTube sempre com um tema específico, dedicou seus quase 30 minutos de duração à emissora, suas empresas coligadas e sua equipe de comentaristas.

De maneira didática, o apresentador Gregório Duvivier foi escalando as questões problemáticas que envolvem a Jovem Pan desde a sua fundação, oriunda da Panamericana S.A., até o mais recente episódio que envolveu a concessão do canal 32 UHF, que já abrigou a revolucionária MTV e hoje, de maneira irregular e ilegal, corre o risco de ir parar nas mãos de Tutinha. O programa, como já citado, é bastante didático e está, na íntegra, logo abaixo:

O programa é completo e não há muito o que acrescentar a ele. A visão panorâmica mostra o ponto em que chegamos em alguns processos de comunicação, onde o inaceitável é tratado como conteúdo. Aqui nesse texto, de 2018, expliquei a estratégia de programas com o Pânico de recortar trechos impactantes do dia para atrair visualizações no YouTube e, consequentemente, monetização. Nessa atualização mais recente da Jovem Pan, desde 2015, outro tipo de conteúdo mal-feito e nocivo ganha monetização: o político. Claro que isso não difere do que é feito em centenas de outros canais obscuros e que também ganham dinheiro com isso. Mas esses canais não carregam um nome que já foi referência no fazer rádio aqui no Brasil, um nome que já foi criador de tendências musicais e comportamentais, que já fez rir de forma genuína e descompromissada.

A Jovem Pan, como qualquer outra empresa de comunicação, fala a linguagem do dinheiro. Mas com um certo cuidado e preocupação com reputação e relevância, é possível pesar bem as decisões. Temos centenas de bons exemplos pelo Brasil, de empresas de comunicação que conseguem diminuir o peso do dinheiro no seu resultado final, no que é apresentado ao público, e fazem um bom trabalho. E não falo aqui de imparcialidade, essa lenda urbana que persegue o jornalismo há tantos anos. É possível ter lado e ser honesto. Mas Tutinha e sua Jovem Pan desistiram desse caminho – e já faz muito tempo. Tudo pelo dinheiro.

“A Maldita”, história da Fluminense FM, estreia em documentário

Por Marcos Lauro

Selma Boiron, locutora da Fluminense FM - Foto: Divulgação
Selma Boiron, locutora da Fluminense FM – Foto: Divulgação

Foi ao ar nessa quarta-feira (14), no Canal Brasil, o documentário “A Maldita”, da diretora Tetê Mattos. O filme já teve sua versão em curta metragem lançada em 2007 e agora ganha sua versão maior com depoimentos de artistas, entrevistas com profissionais que fizeram parte da equipe e outros detalhes que tornam a história ainda mais interessante.

A Fluminense foi a primeira rádio segmentada no rock no Rio de Janeiro. Com uma linguagem jovem, mas que respeitava a inteligência do ouvinte, a rádio soube abraçar a geração 1980 de uma forma única, que vencia até a pobreza técnica do seu transmissor – ouvintes cariocas chegavam a ir de carro até o Aterro do Flamengo, onde o sinal chegava bem, só pra ficar ouvindo a rádio e participar da programação.

Além de mostrar o pioneirismo da equipe, o filme presta uma grande homenagem ao ouvinte-fã da rádio. Boa parte da documentação exibida na tela vem dos arquivos desses ouvintes – um deles anotava num caderno a programação da rádio e o setlist de todos os shows em que ia. Outra ouvinte, ainda, guarda uma carta-resposta que recebeu da emissora.

Outro detalhe do filme é a leitura das cartas. Entre um depoimento e outro, uma imagem de arquivo e outra, cartas dos ouvintes são lidas em off para mostrar a relação de colaboração que existia. Ouvintes, além de elogiarem a programação, davam dicas, pediam música e, de fato, participavam da rádio por carta. Alguns faziam mais: iam até a emissora (algo raro para a época) e trabalhavam. Um deles é o cantor e compositor BNegão, que ia até a rádio para atender ligações de ouvintes e conviver com os locutores da época.

“A Maldita” é um filme que mostra a importância de um veículo de comunicação que de fato se comunica com seu público. Mesmo quem não ouviu na época ou nem mesmo é do Rio de Janeiro/Niterói, vai sentir a força que tinha uma rádio desse tipo em tempos pré-internet.

Para ver o documentário “A Maldita”, consulte a programação do Canal Brasil para pegar uma das reprises.

Rapper Pregador Luo recebe ameaça de coordenador de rádio gospel

Por Marcos Lauro

Pregador Luo é um dos artistas mais respeitados do rap nacional. Evangélico, ele representa parte importante do rap gospel e tem grande público fora das igrejas também – simplesmente pelo fato das suas músicas serem boas, bem produzidas e bem escritas. Pregador Luo chegou até a fazer trilha para lutas de MMA há algum tempo.

O rapper ficou afastado da cena por motivos pessoas e voltou. Acabou de lançar um EP com três músicas e está bastante ativo nas redes, demonstrando sua visão sobre a situação atual do país de forma bem clara e objetiva. E hoje ele recebeu uma ameaça de uma pessoa que se apresenta como coordenador de uma rádio gospel.

Olha aí como funciona o coração e a mente de ALGUMAS das pessoas que se dizem do bem, cristãs, se rotulam da direita e são partidárias do governo. Além de insultos, ofensas e xigamentos que recebi em um post no qual questionei a atitude do governo, recebi essa ameaça do coordenador de uma das maiores rádios gospel do país. E eu não fiz nada pessoal para ele. Espero que minhas músicas encontrem outro caminho pra chegar até vocês, e na real, eu dependo de Deus não de homens”, disse o artista em um post no Facebook que acompanha uma reprodução da ameaça, abaixo:

Mantemos o recorte feito pelo artista, com a ocultação da identificação do profissional e da emissora.

Ouça o EP Ele É Muito Mais:

Depois de 22 anos, Gislaine Martins e Ricardo Sam deixam a Transamérica

Por Marcos Lauro

No rumo das mudanças pelas quais a Rede Transamérica passa, essa sexta-feira reservou uma notícia inesperada e que acaba com uma das duplas de maior sucesso no rádio paulistano. Gislaine Martins, Gerente Artística, e Ricardo Sam, Coordenador Artístico, foram dispensados da emissora neste dia 12 de julho. Além dos cargos ocupados, a dupla também apresentava o matinal “2 em 1”.

Curiosamente, a trajetória dos dois na Transamérica começou e terminou no mesmo dia: os dois foram contratados no dia 3 de fevereiro de 1997. “Também trampou com operadora de mesa para a galera do Café com Bobagem e comandou o Transreporter. Em 2005, ao lado de Sam, embarcou de cabeça na apresentação do ‘2 em 1’”, diz um texto no site da emissora na ocasião da comemoração dos 20 anos de casa.

Sobre Ricardo Sam, o texto lembra também que o profissional já esteve à frente de programas como T-Rock, Nitroglicerina, Naftalina e Quarta Pirata.

O entrosamento entre Gislaine Martins e Ricardo Sam brincou muito com a criatividade e curiosidade do ouvinte da Transamérica a ponto de muitos jurarem que os dois formam um casal real – e, no ar, com algumas provocações, Gislaine e Sam alimentavam esses rumores. Hoje, ao digitar o nome de qualquer um dos dois no Google, a pergunta “são casados?” aparece entre as cinco pesquisas mais feitas.

A Transamérica segue fazendo mudanças na grade, contratando novos nomes e caminha no sentido de uma “adultização” da sua programação pop. Radioamantes ainda não conseguiu apurar os nomes dos novos Gerente e Coordenador artísticos da emissora.

Gislaine Martins e Ricardo Sam - reprodução/site Transamérica
Gislaine Martins e Ricardo Sam – reprodução/site Transamérica

Pedro Trucão assume as madrugadas da Transamérica

Pedro Trucão - Foto: Pietralcantara/Wiki

Por Marcos Lauro

O radialista e ex-repórter do clássico programa Siga Bem Caminhoneiro, que fez história no SBT, Pedro Trucão, é a novidade da rádio Transamérica. A voz conhecida dos caminhoneiros de todo o país entra no ar no dia 1º de agosto.

Pedro da Silva Lopes tem 65 anos e um extenso currículo como comunicador. Sua atração mais recente no rádio foi o programa Fazendo Rastros Pelo Brasil, que ia ao ar em dois horários pela Rádio Capital. Trucão já passou também pelas rádios Tropical, Globo e Tupi AM, entre outras.

Na Transamérica, Trucão entra no ar pelas redes Pop e Hits das 4h às 6h da manhã. O clima deve ser muito parecido com o que o radialista faz atualmente: muito bate-papo e a situação das estradas pelo Brasil. Trucão já soma mais de 40 anos de serviços prestados na comunicação.

A Transamérica Pop passa por transformações. Algumas, mais sutis, já podem ser ouvidas no ar – hoje, os locutores estão apenas anunciando e desanunciando músicas, de forma sóbria e menos afetada do que numa rádio jovem comum. Um sinal de “adultização” da Transamérica Pop.

Zé Nogueira, o contador de histórias

Por Marcos Lauro

O produtor Zé Nogueira como Einstein - Foto: Reprodução/Facebook
O produtor Zé Nogueira como Einstein – Foto: Reprodução/Facebook

Faleceu no inicio desta quinta-feira (30), aos 89 anos, o produtor José Nogueira Neto. Zé Nogueira, como era conhecido, trabalhou na Rádio Eldorado por cerca de 40 anos e acompanhou as mudanças da emissora – de local e de estilo. Além disso, foi também produtor de shows e eventos e trabalhou com gente como Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Elis Regina, Toquinho, João Donato, Paulinho da Viola e Frank Sinatra – este último, quando coordenava os shows do night club do Maksoud Plaza e o hotel estava no seu auge em termos de programação e requinte. Era um luxo! Também acompanhou Ella Fitzgerald em sua passagem por São Paulo, usando seu fusquinha como meio de locomoção da cantora.

Trabalhar com Zé Nogueira na redação da rádio era uma festa. Aos 80 e tantos anos, ainda produzia (e muito bem) alguns programas como “A Cara do Jazz” (com apresentação de Paulo Caruso) e o “Adega Musical”, do sommelier Manoel Beato. História de bastidores: era tradição beber vinho durante as gravações desse programa, até que a direção baixou uma ordem que proibia alimentos e líquidos dentro dos estúdios. Zé Nogueira bateu o pé e argumentou que não fazia sentido fazer um programa sobre vinhos e afins sem beber. Conquistou o direito de serem os únicos com essa permissão e a tradição seguiu.

Estar com Zé Nogueira no dia a dia era ver, do nada, ele te trazendo uma carta carinhosa que a Elis Regina escreveu pra ele logo depois de dar um esporro no velhinho – Zé já tinha cabelos grisalhos há muito tempo. O causo: Depois de um show, Elis foi comer com os músicos e Bôscoli estava cansado, resolveu voltar para o hotel. Zé resolveu acompanha-lo. Os dois foram para o quarto do casal Bôscoli-Elis e resolveram dar uma encostadinha pra descansar… pegaram no sono. Eis que Elis chega, pega aqueles dois homens deitados em sua cama e começa a berrar, expulsando Zé do quarto. Depois veio a cartinha, com direito a coração desenhado. Essa carta ainda existe, foi guardada por Zé Nogueira assim como muitos outros itens – a exposição sobre Adoniran no Farol Santander, em São Paulo, contou com itens cedidos pelo produtor, assim como uma exposição anterior sobre Elis, organizada pelos herdeiros.

Sem querer, Zé já me abriu portas e suavizou caminhos com pelo menos dois artistas famosos por serem avessos a entrevistas: um porque tinha Zé como um padrinho e outro porque foi apresentado a Chico Buarque pelo Zé. É um nome que abre corações e mentes.

A redação com Zé tinha trabalho, mas também tinhas essas histórias que beiravam o surreal e um espírito jovem, quase de criança – como quando Zé se candidatou a um cargo na Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) do Grupo estado e saiu pelo prédio com um cartaz todo improvisado escrito “VOTEM EM MIM”. Ganhou, claro E depois ficava tirando sarro dele mesmo: “Se esse prédio pegar fogo, fiquem tranquilos que esse velhinho aqui é o brigadista”.

Zé me ensinou até que o grito de “chupa!” nos estádios de futebol não tem conotação sexual alguma. Quando jovem, ele se lembra que provocavam outras torcidas de times que não saíram vencedores com gritos de “Perderam! Fiquem aí chupando o dedo!”. Nessa mania que a gente tem de ficar diminuindo as coisas, virou o “chupa!” de hoje. E, me desculpe, mas eu acredito num senhor que nadou num rio Tietê limpo com os amigos.

Zé Nogueira se foi, mas as histórias ficam, vivíssimas. Amigos têm horas e horas de áudios com entrevistas com o Zé contando dezenas dessas histórias do universo da música e do rádio. Ainda não sabem o que fazer com esse material, mas pode ser que tudo fique imortalizado em breve. Vamos torcer.

Gil Gomes morre aos 78 anos

Por Marcos Lauro

Pouco menos de dois meses depois da morte de Zé Bettio, o rádio AM perde mais uma de suas grandes figuras. Gil Gomes morreu na madrugada dessa terça-feria (16/10) no hospital São Paulo. Diferente de Zé Bettio, avesso a outras mídias, Gil Gomes migrou para a TV e chegou a assinar colunas em jornais populares além de gravar sua voz marcante na história do dial brasileiro.

Diferente de muitos outros jornalistas policiais, Gil Gomes se preocupava com o lado humano de todos os envolvidos nas histórias que narrava. Enquanto outras vozes se preocupavam em julgar acusados no ar, Gil Gomes contava as histórias de maneira respeitosa, dando vazão a sua verve narrativa. O ouvinte se via nas cenas narradas e na presença dos envolvidos.

Em 2017, tive a honra de entrevistar Gil Gomes para o podcast Rádiofobia, de Leo Lopes. Bom para entender um pouco mais o universo desse incrível narrador. Para ouvir, clique na imagem abaixo.

Zé Bettio hits

Por Marcos Lauro

Conforme noticiado neste blog, o rádio perdeu uma das suas figuras mais folclóricas. Aos 92 anos, Zé Bettio morreu da forma simples como sempre viveu: dormindo e sendo enterrado no mesmo dia, sem alarde.

Durante sua carreira, lançou mais de 20 álbuns por gravadoras como Chantecler, Copacabana, Beverly e CBS. Discos como “A Charanga do Zé”, de 1981, e “O Bailão do Mexe-Mexe”, de 1994, ressaltam a sanfona como seu instrumento preferido e, assim como seus programas de rádio, trazem o ar do campo e do sertão para quem ouve.

Além disso, Zé Bettio também colaborou para a discografia de muitos artistas de peso. Milionário e José Rico, Waldick Soriano, Tonico e Tinoco e Trio Parada Dura, entre outros, gravaram composições do radialista. Revezando canções tristes de amor com outras que carregam aquele bom humor característico do sertanejo, Zé Bettio colaborou também com a carreira de artistas que carregam aqueles nomes que vez ou outra pintam pela internet em formato de meme e a gente pensa que é mentira. Entre eles tem Poeta e Trovador, Solevante e Soleny, Felizardo e Vitorioso, Canário e Passarinho e Sagitário e Capricórnio.

Clique na imagem abaixo, da estilosa dupla Leo Canhoto e Robertinho, e ouça a playlist com 33 músicas compostas por Zé Bettio:

Zé Bettio hits
Zé Bettio hits

 

Podcast Boteco especial sobre a Copa da Rússia

Por Marcos Lauro

O podcast Boteco encerra sua segunda temporada com um especial sobre a Copa do Mundo. Um pouco diferente do formato original, ou seja, sem música e com 100% de bate-papo, o programa convidou o jornalista e escritor Chico Bicudo para fazer uma panorâmica sobre não apenas a Copa do Mundo que está para começar, mas também sobre o futebol brasileiro, seus problemas e algumas soluções. Chico Bicudo é autor de “Crônicas Boleiras”, entre outras obras sobre o futebol.

Para ouvir esta edição, clique no player abaixo:

Todas as 15 edições da segunda temporada, assim como as 33 da primeira, estão no site www.marcoslauro.jor.br. A intenção é voltar com a terceira temporada ainda em 2018 nesse formato mais falado – até porque a legislação brasileira ainda não tem posição sobre o uso de músicas em podcasts, o que transforma em risco o uso de fonogramas. O Boteco é uma produção Orfeu Digital, agência especializada em marketing digital e conteúdo online.

O Pânico virou uma vítima do próprio nome

Por Marcos Lauro

Sou ouvinte do programa Pânico, da Jovem Pan, desde o meio da década de 1990, pouco depois da sua criação, em 1993. Também peguei ótimos momentos do programa que foi praticamente o seu antecessor e inspiração, o Djalma Jorge Show, e acabei ouvindo a rede num dos seus melhores momentos: Ritmo da Noite, As 7 Melhores… programas que viraram coletâneas e eram vistos nas ruas, nas prateleiras das lojas de discos. Minha relação com o Pânico sempre foi de fã – Emilio Surita é referência pra minha locução até hoje e acredito que seja pra 9 a cada 10 locutores que eu conheço. O cara é de uma geração que ensinou locutores de todo o Brasil a se relacionar com um público jovem, até então novidade pra um rádio que alcançava gente mais adulta. Me lembro de levar um walkman pro escritório onde eu trabalhava para poder ouvir o Pânico no almoço e tinha que me esforçar pra não rir alto no trabalho. Saiu o CD do Pânico, com letras de Rosana Hermann e arranjos de Maestro Billy, gente que me orgulho de conhecer e me relacionar hoje em dia, que tenho até hoje – não comprei na época, mas ganhei de uma amiga que tinha o CD em casa, meio jogado e desvalorizado num canto. Na cara de pau, pedi e ela me deu. Está bem guardado na minha coleção de CDs.

A gente vai ficando mais adulto e os interesses mudam, mas posso dizer que nunca deixei de ouvir o Pânico. Posso ter me distanciado durante algum tempo por conta das correrias do dia a dia (o programa é das 12h às 14h, não é um horário fácil pra parar tudo e ouvir), mas sempre retomo, me atualizo sobre as trocas de elenco e novidades. O programa mudou muito nos últimos tempos, especialmente depois que foi para a TV.

O programa (no rádio, não estou falando sobre o Pânico na TV, que era outra coisa) foi construído sobre factóides e personagens que exploravam os seus limites. Tanto é que integrantes já saíram do programa rompidos com o elenco e até processando Tutinha, dono da Jovem Pan e responsável pela marca. Então, é uma regra para qualquer um que queira participar do Pânico: a brincadeira não tem limites. Combinando ou não antes de entrar no ar, nenhum membro vai titubear na hora de expor suas fraquezas e tripudiar. Tudo por conta do humor, que não tem e não deve ter limites impostos por ninguém além daqueles que o praticam. Quem ouve e acha graça, fica. Quem acha apelativo, muda de rádio e não enche o saco (como Emilio fala ainda, até hoje, quando alguém questiona algo sobre o programa). Faz parte do show.

A Jovem Pan, hoje, tem um lado político na sua cobertura dita jornalística. E isso é positivo, a partir do momento em que você tem as cartas na mesa, sem blefes. O público merece saber as opiniões dos profissionais que ouve, concordando ou não. Mas o perigo atual – e motivo da decadência do Pânico – é essa mistura entre a posição política e humor.

O humor é uma ferramenta política. Mesmo o humorista que diz não querer saber de política está fazendo política – a de ser alienado por opção e transmitir isso no seu trabalho (vale lembrar que a palavra “alienado” não carrega, necessariamente, um sentido negativo… é uma condição). Sendo assim, quando um humorista adota um discurso extremamente reacionário e violento e inclui no seu trabalho, ele humaniza esse discurso e o torna palatável. E o Carioca, no programa desde 1998, se tornou esse cara que humaniza o discurso reacionário de uma maneira bem poderosa. Só para citar um exemplo do Pânico na TV (que se reflete em sua postura no rádio): Quando ele imitava a ex-presidente Dilma Rousseff, ela sempre estava brava, em situações que beiravam o ridículo (quando não o eram) e insinuando dúvidas sobre sua sexualidade. Agora, nos últimos tempos de programa na TV, Carioca fazia uma imitação do deputado Jair Bolsonaro: sempre sorrindo, contando piadas, com um jeito bonachão e conversando com a população nas ruas. Ou seja, Carioca reflete no seu trabalho de artista as suas opiniões pessoais, que hoje explicita durante o programa no rádio. Em praticamente todas as entrevistas, Carioca dá um jeito de cutucar o entrevistado com frases fortes, opiniões duvidosas e tom de voz alto, o que chega a ser falta de educação – afinal, a pessoa foi convidada para estar ali.

Do outro lado, Amanda Ramalho. No programa desde 2003, a ex-ouvinte representa a ala “esquerdista” – termo dito sempre de forma pejorativa. Mais uma vez e reforçando o que foi dito no início do texto: o Pânico é formado por personagens. Aqui não analiso as pessoas (não conheço o Carioca pessoalmente, por exemplo), mas sim o que elas transmitem durante o programa. Amanda se mostra acuada e inquieta quando Carioca começa a vociferar as suas opiniões e parte para o confronto direto – no YouTube há o trecho de uma das “brigas” da dupla.

Carioca testa os limites de alguns convidados e se esquece de que as pessoas não fazem parte do seu joguinho. Ele quer provocar um estresse real em quem está lá apenas pra falar sobre o seu trabalho.

Perceba que todas as “tretas” estão bem editadinhas e publicadas no canal oficial do programa no YouTube. Ou seja, a Jovem Pan fatura com o conteúdo e não está muito interessada em saber se a repercussão vai ser negativa ou positiva.

Emilio tenta fazer um papel apaziguador no ar quando pega os extremos e dá uma suavizada no discurso, mas não adianta muito. E não deve ser para adiantar mesmo, já que, como segunda voz do programa, atrás apenas de Tutinha, ele teria liberdade para tirar integrantes que não estivesse atuando de uma maneira correta com os convidados e seus colegas de bancada.

No fundo, é triste que o programa tenha virado isso. Em vez de um programa de humor, um gerador de estresse. Com a audiência da emissora em baixa quando comparada aos tempos áureos, é o clique e a quantidade de views no YouTube que valem. O Pânico virou vítima do próprio nome.

Podcast em plataformas de streaming? Já é possível

Por Marcos Lauro

O nome “podcast” surgiu em 2004, quando um jornalista da BBC juntou as palavras “broadcast” (relacionada à produção/transmissão de conteúdo) e “iPod”. A partir daquele momento, existiu algo além do rádio e da mídia física para que alguém pudesse ouvir conteúdo em áudio onde bem entendesse. Era, desse ponto de vista, uma nova forma de se fazer rádio – sem o poder do ao vivo, mas com a mesma mobilidade e intensidade.

No meu caso, comecei a fazer podcasts em 2007 – alguns listados aqui. Estava afastado há um tempo do formato, mas recebi um convite interessante: fazer um podcast para ser distribuído em plataformas de streaming.

A possibilidade já existe há mais de um ano e existem alguns poucos exemplos fora do Brasil – a maioria produzida pelas próprias plataformas, como Spotify, Deezer e Apple Music. Aqui no país, nem as plataformas se interessaram, excluindo um ou outra entrevista com bandas e artistas, sem periodicidade.

A partir do convite, desenvolvi o Boteco do Marcos Lauro, um projeto para falar sobre música num ambiente descontraído e de forma leve. O podcast (ou streamcast, como também é chamado) está na segunda edição e a novidade é poder ouvir no Spotify ou na Deezer. As duas plataformas aceitam contas gratuitas. Ou seja, assim como os servidores tradicionais de podcast, o acesso é livre.

A distribuição é da ONErpm. Clique na imagem abaixo, escolha a sua plataforma preferida e ouça. O tema do programa lançado nessa sexta (28/04) é música instrumental, com nomes que vão de João Donato a Dave Brubeck:

Para ouvir a edição de estreia, é só acessar o meu perfil na plataforma que você escolheu e ver as playlist públicas.

Rádios populares: um oásis de criatividade no dial nos finais de semana

Por Marcos Lauro

O final de semana é um período complicado para muitas emissoras de FM. Com equipes reduzidas (muitas vezes estão na rádio, inteira, apenas o locutor do horário), a playlist não foge do convencional, os poucos programas são gravados e não há vontade – e muito menos braço – para se tentar fazer algo de diferente.

Mas há esperança. E ela está nas rádios populares. Muitas vezes, parece que o final de semana é mais cheio de atrações do que os dias úteis de tantas ações comerciais na rua, programas ao vivo (alguns repletos de merchans, um bom termômetro para sucesso comercial) e, o que mais importa para o ouvinte, criatividade e diversidade. Destaco, especialmente, duas emissoras: Transcontinental e 105 FM.

As pessoas estão cada vez menos respeitando barreiras musicais e ouvem de tudo. Então, já se foi o tempo em que uma rádio popular era marcada por tocar apenas samba ou sertanejo – ou pagode e axé, como era na fase áurea de Rádio Cidade, Gazeta e afins. A Transcontinental FM, emissora de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, tem o samba como ênfase, mas, especialmente no final de semana, abre espaço para o funk (duas horas no sábado e no domingo) e a black music e a cultura dos DJs com o programa do DJ Luciano, grande nome da equipe Chic Show e de bailes como o Musicaliando.

O DJ Luciano é um perfil interessante de comunicador. Ele começou muito cedo no rádio, com oito anos de idade (!!!) quando foi convidado pelo Luizão, da Chico Show, para apresentar um programa na Rádio Bandeirantes – e a graça era justamente essa, um programa de black music/som dos bailes apresentado por crianças. A partir disso, mesmo com essa idade, se tornou DJ. Anos depois já estava produzindo grupos de rap como Ataliba e a Firma e Detentos do Rap, entre muitos outros. Hoje, ele apresenta o Black Songs, na Transcontinental, todos os sábados e domingos das 18h às 21h, com o programa dividido em blocos: as lentas, samba rock, hip-hop e funk-soul. Como locutor, consegue ser carismático sem a sensação de falsidade, aquele “sorriso fabricado” que muito locutor de rádio popular tem: quando alguém pede alguma música que ele não tem ou acha que não tem a ver com o programa, ele fala sem pestanejar. A sinceridade acaba conquistando os ouvintes.

Da mesma forma que toca as antigas dos bailes, DJ Luciano também se esforça pra tocar coisas novas, informar sobre os artistas e provocar a curiosidade do ouvinte. As três horas do programa passam sem nem perceber. E quando acaba, entra no ar o Mistura Trans, que faz jus ao nome: toca de tudo. Mesmo. Isso é rádio popular.

De Jundiaí, um pouquinho mais longe de São Paulo, vem o sinal da 105 FM. Com uma programação mais focada no samba e uma forte programação esportiva, que acaba tomando um grande espaço da música, a emissora também aposta na diversidade em seus programas apresentados por grandes nomes.

A Festa do DJ Hum é o programa apresentado por um dos mais veteranos DJs de hip hop do Brasil – que fazia dupla com o rapper Thaíde. Seu estilo é bem parecido com o de Big Boy, que fez história no Rio de Janeiro nos anos 1970 – até o tom de voz é um pouco parecido. DJ Hum também divide seu programa de duas horas por blocos de interesse, das lentas às novidades do hip-hop nacional. Produtor, ele também aproveita para tocar os artistas com quem trabalha, falar sobre seus discos e afins. DJ está no ar no sábado, das 14h às 16h.

No domingo, das 12h às 15h, entra no ar o DJ Eazy Nylon com o programa Black 105. Assim como o DJ Luciano, da Transcontinental, Nylon é um grande nome da equipe de bailes Chic Show e também começou como DJ muito cedo. O programa de Nylon, além de contar com a sua seleção, é mais aberto a pedidos de ouvintes.

Também aos domingos, depois da rodada e de todos os debates do futebol, entra no ar o Balanço Rap, programa de Ice Blue, integrante dos Racionais MC’s, que divide o microfone com o locutor Fabio Rogerio – que faz o Espaço Rap durante a semana. Mais focado em hip hop, Blue traz amigos do rap para bate papo e toca novidades do gênero. Quando a agenda dos Racionais não permite, Ice Blue dá lugar a DJs e sets mixados.

Há vida no final de semana radiofônico, especialmente para quem está atrás de novidades e que não deseja ficar preso a um único estilo musical.  Essas rádios fazem o primordial, que, em determinado momento, foi esquecido – seja pela falta de vontade de donos de emissoras ou pelas equipes reduzidas: estão na rua, com ações comerciais, criativas, e estão no ar com uma boa programação, que respeita a diversidade sonora que chega aos ouvidos do público comumente chamado de “popular”.

Uma playlist para quem tem saudade do rádio AM dos anos 1980

Por Marcos Lauro

Já que não temos mais o rádio AM dos anos 1980, a gente improvisa na internet.

Montei uma playlist no Spotify para quem tem seus 30, 40 anos e cresceu nos anos 1980 ouvindo rádio AM. Comunicadores como Paulo Barbosa, Zé Bettio e, especialmente, Eli Correa tocavam sucessos nacionais e internacionais que formaram uma geração inteira – além de também fazerem o gosto da geração anterior.

A playlist começa com três músicas significativas do programa do Eli Correa: “El Presidente”, de Herb Alpert & The Tijuana Brass já serviu como abertura, assim como “See See Rider”, de Elvis Presley. Já “Que Saudade De Você”, de Odair José, serviu de inspiração para que o comunicador criasse o quadro homônimo, com a leitura de cartas dos ouvintes. A atração existe até hoje e ainda é líder de audiência no horário.

Ouça:

 

Se você achar que faltou alguma música, coloque nos comentários que eu incluo.

Obs.: E nem entrei no universo do sertanejo, que também tocava muito. Motivo para a próxima playlist. 🙂

Faixa do FM vai acabar em 2017… na Noruega

Por Marcos Lauro

DAB

É oficial! Segundo comunicado do Ministério da Cultura da Noruega, divulgado na semana passada, as rádios do país deixarão de transmitir em FM em 13 de dezembro de 2017. A partir desta data, os noruegueses adotam o DAB (Digital Audio Broadcasting) como padrão definitivo.

Hoje o DAB tem 22 canais de alcance nacional na Noruega, contra cinco do FM, e tem capacidade para mais 20. O sistema funciona dessa forma desde 2007.

O país é dividido em seis regiões e a mudança será gradual, região por região, a partir de 11 de janeiro de 2017. NRK, P4 Group e SBS Radio, três das redes de rádio norueguesas, vão encerrar suas transmissões no FM, simultaneamente, em duas regiões e já há data prevista para as outras quatro.

Hoje, 56% dos noruegueses usam rádio digital com frequência e 55% das casas tem pelo menos um aparelho compatível com o DAB. 20% dos automóveis têm aparelhos DAB. E os quase oito milhões de aparelhos FM que existem no país poderão ser adaptados para o meio digital ou então reciclados.

Com essa  mudança, a Noruega será o primeiro país do mundo a abandonar oficialmente a faixa FM para o rádio comercial.