Na última segunda (16), o perfil Vozes do Gol no Facebook trouxe uma triste informação para quem gosta e acompanha a memória do rádio e do futebol. A Rádio Bandeirantes, de Porto Alegre, não tem mais os registros de áudio de suas transmissões esportivas devido a ação de um vírus de computador. Isso significa que todos os registros anteriores ao ano de 2007 não existem mais.
Na prática, não existe mais o áudio da Batalha dos Aflitos, a famosa e insólita partida disputada em 2005 entre Náutico e Grêmio que terminou com o acesso do tricolor à série A, narrada por Marcos Couto. Também foi para o beleléu a transmissão de Barcelona x Internacional, a grande final do Mundial Interclubes de 2006 que terminou com a vitória colorada e que teve a narração de Daniel Oliveira (ouça abaixo).
Para não dizer que não sobrou alguma coisa, existem pequenos trechos dessas duas jornadas esportivas, preservados graças a iniciativa pessoal de internautas anônimos.
Sabe-se que a preservação de registros em áudio é cara e trabalhosa. No passado, era complicado manter fitas de rolo e fitas cassete. Os arquivos digitais vieram para facilitar as coisas. A edição é um processo muito mais simples e o armazenamento também. Porém, os cuidados não podem ser deixados de lado. Computadores, HDs externos e até mesmo pen drives ainda são vulneráveis. As famosas “nuvens” servem como uma opção viável embora a capacidade de armazenamento a um preço que seja considerado um investimento tenha de ser negociada com as empresas que prestam esse serviço.
O perfil Vozes do Gol, mantido por Ciro Götz, não dá maiores detalhes sobre o que aconteceu. Mas podemos traduzir o acontecido na Bandeirantes, de Porto Alegre, com a frase que dá título a este post. Parte da memória do rádio de Porto Alegre (e do futebol também, por que não dizer?) foi vítima de um vírus chamado descaso.
Em um longa entrevista ao programa Bebendo e Falando, que é que é veiculado dentro do canal d’O Bairrista no YouTube, o comunicador Duda Garbi (ex-Rádio Atlântida e ex-Rádio Gaúcha) iniciou um debate que deverá interessar bastante aos torcedores do Grêmio: qual é a melhor narração da Batalha dos Aflitos, marca pela qual é conhecida a partida entre Naútico x Grêmio, válida pela série B do campeonato brasileiro de 2005? O vencedor daquele confronto garantiria seu acesso à primeira divisão no ano seguinte. E o tricolor gaúcho garantiu sua vaga de uma forma atípica (veja mais aqui).
Para ele a melhor narração de todos os acontecimentos da Batalha dos Aflitos não foi a da Rádio Gaúcha. “Vou falar aqui uma coisa que o Pedro Ernesto vai ficar puto. A melhor narração da Batalha dos Aflitos é do Marcos Couto. Só que jamais vão dar esse crédito. Jamais. Mas pode procurar(….) eu amo o Pedro(…)Só porque eu tô bebado, senão jamais falaria isso”, disse fazendo jus ao nome do programa (ouça abaixo).
No começo deste século, o jornalista trabalhou na Rádio Bandeirantes local, prioritariamente como estagiário da equipe de esportes, e lá conviveu com alguns integrantes históricos do “timaço”: Claudio Cabral, Alexandre Praetzel. Cristiano Silva, João Carlos Belmonte, Daniel Oliveira, entre outros.
Naquela época, Duda ainda não era o Duda. Ele era conhecido no ar como Eduardo Mancuso. Pela emissora, participou de algumas grandes coberturas, como por exemplo a própria Batalha dos Aflitos, na qual atuou como repórter de torcida diretamente de uma casa de eventos em Porto Alegre.
Nessa entrevista, Duda falou com grande carinho por essa passagem de sua carreira. “Depois do trabalho na Band, tu pode trabalhar na serraria, tu faz o que quiser. Eu agradeço a Deus por ter passado pela Band”, afirmou.
Duda falou também sobre sua vida profissional no Grupo RBS, de Porto Alegre, e seus projetos futuros para conteúdos multiplataforma. Um deles, é uma web série na qual ele vai vivenciar o dia-a-dia como jogador de futebol profissional dentro do São José, clube que disputa a primeira divisão do futebol do Rio Grande do Sul (saiba mais aqui).
Nesta semana, o torcedor gremista comemorou os 15 anos de uma página heroica de sua história: a Batalha dos Aflitos. Marca com a qual ficou conhecia a partida entre Náutico x Grêmio, disputada em 26 de novembro de 2005, válida pela série B do campeonato brasileiro. A importância daquele jogo se resume ao fato de que seu vencedor garantiria a passagem para a primeira divisão no ano seguinte. Quem perdesse, amargaria mais um ano na divisão de acesso. Tudo o que o torcedor do tricolor gaúcho não queria que acontecesse. Entretanto, os acontecimentos verificados em seu desenrolar transformaram aquele jogo em um acontecimento épico. Um resumo de tudo o que houve poder ser lido aqui.
O rádio esportivo de Porto Alegre ajudou muito na transformação da Batalha dos Aflitos em algo para lá de especial. Na ocasião, as quatro principais emissoras da cidade enviaram suas equipes até Recife. Naquela época, os narradores ainda viajavam para a transmissão das partidas de futebol. Pela Rádio Bandeirantes local, foram destacados o locutor Marcos Couto e o repórter Ribeiro Neto. 15 anos depois, Marcão, como é conhecido concedeu uma breve entrevista ao programa Esporte e Noticia em que relembrou alguns bastidores.
Durante o papo, Marcos Couto contou que foi a jornada em que ele passou mais tempo em um estádio. Ele chegou aos Aflitos às 09h e só saiu de lá às 21h. A decisão de ir cedo aconteceu em uma conversa com o repórter Ribeiro Neto. Chegando lá, ele percebeu que o local em que iria ficar era diferente do que foi mostrado pela administração no dia anterior, “um espaço aberto, isolado, junto as cadeiras numeradas da área coberta”, disse ele.
Naquele dia, ele se alimentou apenas das maçãs que levou durante todo o tempo. Claro que não poderiam faltas garrafas de água. Foram oito, segundo ele.
Porém, Marcão não deixou de passar por alguns apuros durante a cobertura. Um deles foi justamente o fato de sua posição de transmissão ser atingida por um copo de cerveja jogado por algum torcedor. Isso fez com que ele perdesse os textos comerciais, anotações das escalações, lembretes, enfim, coisas que ele usou e usaria na transmissão. Outras coisas foram jogadas nele. A saída encontrada para não se desconcentrar foi narrar o mais alto que podia.
Algo que foi marcante em sua narração foi lembrar de uma fala do comentarista Claudio Cabral dizendo que não confiava em batedor de pênaltis canhoto, apenas Rivelino e Maradona. Isso porque em um determinado momento, foi marcado uma infração dentro da área para o Náutico. O jogador Ademar foi escalado para a cobrança e de pé esquerdo. Galatto, o goleiro gremista da ocasião, defendeu. A premonição de Marcão, se é que se pode dizer assim, deu certo.
Em seguida, o meia Anderson, do tricolor gaúcho, partiu em velocidade e conseguiu o inimaginável: o gol que garantiu a vitória dos gaúchos. “”E realmente foi (um bólido), o Andershow tu não via os pézinhos dele na grama, ele voou em direção ao gol do Náutico”, afirmou Marcos Couto. O lance deixou a torcida local atônita com o que acontecera. “”Silencio, silencio absoluto no estádio. E a reação era o povo querer a abertura do estádio (para ir embora”, afirmou.
Apenas na volta para casa é que foi percebida a repercussão daquela transmissão. “Eu só fui me dar conta (que a narração do gol foi marcante) quando eu e o Ribeiro Neto desembarcamos em Porto Alegre, e as pessoas começaram a comentar”, disse. Sem dúvida, um dos grandes momentos do narrador na emissora em que está até hoje e pelo qual ele se sente muito grato: “Me sinto muito feliz por esse momento e por poder continuar na Bandeirantes relembrando sempre esse momento”, falou.
Ouça abaixo a entrevista concedida por Marcos Couto à equipe do Esporte e Notícia: Sergio Boaz, Paulo Pires e João Batista Filho.