A Rádio Bandeirantes efetivou nesta última sexta, 1º de outubro, a sua mudança de dial no AM do Rio de Janeiro. Ela migrou dos 1360Khz para os 860Khz. Essa alteração já estava prevista desde setembro de 2020 e já vinha sendo comentada em espaços de discussões para radialistas na Internet. A emissora ganha em termos técnicos com essa migração. Seu sinal poderá chegar bem mais longe, ultrapassando até as fronteiras do estado do Rio.
Os 860Khz pertenceram ao antigo Sistema Globo de Rádio, que colocou no ar, em fases distintas, duas emissoras históricas: a Mundal e a CBN (a partir de 1993). Como não houve interesse em ficar com as frequências do AM (a outra era a da Rádio Globo), e o grupo já tem dois canais próprios em FM, decidiu-se pela devolução à União, em 2018.
Por sua vez, a Bandeirantes está prestes a abrir mão de uma frequência histórica no Rio. Ela abrigou a Rádio Guanabara, que, na época áurea do rádio, ganhou relevância por sua cobertura do futebol, contando em diferentes momentos com nomes históricos da crônica esportiva como Doalcei Camargo, João Saldanha, Mario Vianna, Oduvaldo Cozzi, entre outros.
Atualmente, a emisora parece que está deixada de lado. Grande parte de sua programação é tercerizada. Não há nem mesmo um simples investimento para que seu sinal seja veiculado na Internet por intermédio de um site oficial. Inexistem perfis também oficiais nas principais redes sociais, como Facebook e Twitter. Espera-se que essa alteração no dial possa significar um novo tempo para a Rádio Bandeirantes, do Rio de Janeiro.
Ouça abaixo o anúncio oficial da ida da Bandeirantes para os 860Khz dentro do programa Reclamar Adianta, um dos destaques da atual grade de programação (e que veicula seu programa no YouTube por conta própria).
ATUALIZAÇÃO (10/10 – 19h50) – No dia em que publicamos este post, deixamos aqui o vídeo da edição do dia 01/10/2021 do Reclamar Adianta, transmitido pelo canal oficial do programa. Nele, destacamos o trecho em que é anunciada a migração da Rádio Bandeirantes para os 860Khz. Inexplicavelmente, dias depois, o vídeo foi removido, enquanto outros até mais recentes estão no ar. Ouça e veja abaixo, em seu lugar, o trecho divulgado pelo perfil Enciclopédia do Rádio.
No dia 14 de dezembro de 1963, o Palmeiras vencia o Corinthians pelo placar de 5 a 2 e seguia tranquilo rumo ao título de campeão paulista daquele ano. Flávio Araújo narrou essa partida pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo. A curiosidade radiofônica fica para a participação de Mário Vianna (Vianna com dois enes), célebre comentarista de arbitragem de emissoras do Rio de Janeiro (e ex-árbitro) no registro de um dos gols corinthianos, o segundo, marcado por Lima. A intervenção de Vianna era pertinente: o auxiliar Germinal Alba (não citado na narração) levantou a bandeirinha indicando impedimento do atleta do Corinthians. O árbitro Armando Marques validou o gol. A edição do dia 5 de dezembro de 1963 do jornal O Estado de S. Paulo, por sua vez, disse que não houve impedimento. Vamos ficar com essa dúvida, pois até agora não foram encontradas imagens dessa partida.
Chama a atenção essa participação de Mário Vianna (Vianna com dois “ennes”) na transmissão da Rádio Bandeirantes. Em 1963, ele atuava na Rádio Guanabara. Naquela época, a emissora fazia rede com a Bandeirantes para a transmissão do tradicional jornal Primeira Hora. Alguns anos antes, em 1957, Vianna (com dois enes) trabalhou na cidade de São Paulo como treinador do Palmeiras, em uma breve passagem. Ouça abaixo o registro de Mário Vianna na Rádio Bandeirantes.
Por Rodney Brocanelli (com a colaboração da equipe Webfutmundi)
Chico Anysio, morto nesta sexta-feira aos 80 anos, começou sua carreira no rádio. É célebre a história de que ele sempre ficou na segunda colocação em testes para locutor, derrotado por Silvio Santos. Mesmo assim, ele conseguiu seu espaço no veículo. Começou na Rádio Guanabara (atual Bandeirantes), nos anos 40, e lá desempenhou várias funções: ator, redator, locutor e comentarista esportivo. Mudou-se para a Rádio Mayrink Veiga algum tempo depois e nessa emissora criou um de seus tipos mais famosos: o professor Raymundo.
Como era de se esperar, Chico migrou para a televisão, veículo no qual ele conquistou o sucesso nacional e admiração dos fãs. Contudo, ele nunca deixou o rádio de lado. Um de seus personagens era uma verdadeira homenagem à estética e as figuras que fizeram este veículo ser o que é: Roberval Taylor.
Abaixo, Roberval dá as últimas do esporte.
No programa de Roberval não poderia faltar o horóscopo.
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Mas teve gente que não gostou muito desse personagem. O grande Helio Ribeiro achou que Roberval Taylor era uma paródia não muito lisonjeira ao seu estilo de fazer rádio. Quem conta mais detalhes é Sérgio Mattar, em texto extraído de seu blog.
Um certo dia, nos corredores da Rádio Bandeirantes de São Paulo, um acontecimento singular, foi a visita que Chico Anysio de Paula fez à Hélio Ribeiro, no estúdio A, durante o programa de maior audiência da rádio brasileira: “O Poder da Mensagem“.
Ribeiro com seus cabelos ondulados comprimia-os com enormes fones de ouvido plugados em um grande rádio portátil instalado ao lado de seu microfone. Sua voz personalíssima, ecoava naquele momento sobre a voz melodiosa de Frank Sinatra, versando nada mais do que “All the way”.
Os velhos “olhos azuis” como era tratado o bom e velho Frank, irmanava-se ao dueto maravilhoso, na tradução simultânea do talento e criatividade de Hélio Ribeiro.
Neste exato momento adentra ao estúdio o genial Chico Anysio que, apesar de não conhecer Hélio pessoalmente se pôs ao seu lado, e sem nenhum constrangimento passou a imitá-lo. Tal e qual.
Terminada a música, com tradução do Hélio Ribeiro, houve a apresentação recíproca entre Chico e Hélio e aí, rolou um papo fenomenal intercalado por outras música e traduções, além, do “filosofar poético” do “O Poder da Mensagem”.
Após as despedidas Chico retorna ao Rio e a “vidinha” segue na sua normalidade.
A Rede Globo lança um novo programa no ar com forte alarido e participação de grande elenco do humorismo nacional… “Chico City”.
Programa idealizado por Chico Anysio colocava suas personagens em atividade plena. Seus coadjuvantes faziam a escada para Chico deitar e rolar.
De repente, um fato novo, uma personagem nova, uma voz nova na cidade de Chico, era um Chico diferente, “aquele” Chico do estúdio do “Poder da Mensagem”.
Surgia “Roberval Taylor” ou a caricatura de Hélio Ribeiro elevada a potência “n”.
Foi uma balbúrdia nacional. O meio artístico entrou em ebulição. Hélio Ribeiro que entendeu “Roberval Taylor” como uma ofensa ao seu trabalho e desempenho, disparou pelas ondas médias da Rádio Bandeirantes uma ofensiva à Chico Anysio.
Evidentemente, Chico que, quis homenageá-lo ao criar “Roberval Taylor”, se pôs a satirizar mais ainda a sua criação.
Por um tempo o “mal-estar” entre ambos pairava. Um dia, por iniciativa de amigos comuns de Chico e Hélio, foi improvisado um encontro no mesmo estúdio A, no mesmo horário do “Poder da Mensagem”, para a desfeita daquele tremendo mal entendido.
De fato, apesar de, temperamentos difíceis e personalidades fortes, tanto Hélio como Chico deram grandes gargalhadas e efusivos abraços, colocando um ponto final naquele equívoco que pairava na genialidade daquelas cabeças.
Chico, com o concentimento do Hélio Ribeiro, continuou com seu “Roberval Taylor” melhor e… com mais um fã de carteirinha.
Está aí uma ótima oportunidade para a Rádio Bandeirantes, na figura de Milton Parron, recuperar o áudio desse programa histórico reunindo dois gênios.
Abaixo, uma tradução toda especial de Roberval Talyor à musa do Karmanguia batido.
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Chico teve uma relação estreita com o rádio esportivo. Nos anos 90, chegou a ser comentarista nas transmissões de futebol na Rádio Tupi, do Rio de Janeiro. No livro Paixão pelo Rádio”, do Rodrigo Taves, José Carlos Araújo, narrador da Rádio Globo (RJ) deu seu depoimento sobre o humorista:
“(…) Chico Anysio puxa pela memória um grande amigo, a quem deu conselhos no início da carreira e convidou algumas vezes para participar de seu programa “Chico City”, na TV Globo. E solta um elogio:
“Existem três grandes locutores: Zé Carlos, Osmar Santos e Luís Penido. Cheguei a comentar dois jogos com o Osmar, cheguei a trabalhar com o Penido, mas nunca trabalhei com Zé Carlos, o melhor de todos. Gostaria de ter recebido um convite, sinto-me frustrado por nunca ter comentado um jogo com ele”.
Garotinho pensa o mesmo. Para ele, Chico é um dos três maiores artistas que o ajudaram. (…) E dele, guarda um ensinamento sábio, passado quando se conheceram nos anos 60 no estúdio da Rádio Globo: “A maior fonte de criação é o povo e, em contato com o povo, você aprende muito”.
“Sempre fomos chegados. Eu queria fazer um “Coalhada” (um dos grandes personagens de Chico) com ele, mas não teve jeito, não sei porque não foi possível. O vejo sempre aos domingos, gosto muito dele como pessoa e profissional também”, relata Chico.
(…) A relação de Garotinho com Chico Anysio sempre foi muito boa. Bruno Mazzeo, filho do humorista, foi um dos “torcedores do futuro” quando criança, e Chico já nem se lembra mais dos inúmeros bordões que sugeriu a Zé Carlos, mas sabe que sempre deu muitas ideias.
“Os bordões fazem o locutor, têm de existir. O Zé Carlos tem e usa na hora exata, não atrasa um segundo, você não perde um lance com ele. É um dos poucos que consegue inserir a propaganda sem você perder o jogo, o que é uma coisa difícil. Zé Carlos é um espetáculo!”, finaliza Chico”.
E o salário, ó!…
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O Show do Apolinho, na Rádio Tupi (RJ), veiculou uma reportagem especial sobre a perda de Chico Anysio.
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No programa Ensaio, da TV Cultura, Chico falou dessas suas passagens pelo rádio.
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Um de seus personagens mais marcantes, Alberto Roberto, em ação, entrevistando Galvão Bueno, que parece ter se divertido muito com essa participação em um quadro dos primórdios do Zorra Total.