Por Rodney Brocanelli
Morreu na noite deste sábado (03) o musicólogo Zuza Homem de Mello. E o termo cabe bem para definir sua atuação profissional ao longo de todos esse anos. Segundo o dicionário, é “aquele que se dedica ao estudo ou trata de musicologia” e ainda “indivíduo que se ocupa da música”. Zuza morreu enquanto dormia, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Tinha 87 anos. Velório e enterro serão restritos aos familiares.
No rádio Zuza teve um programa de sucesso na Rádio Jovem Pan. Chamava-se “Programa do Zuza” e uma de suas intenções era ensinar o público a ouvir música, resgatando nomes esquecidos e divulgando compositores e intérpretes ainda sem espaço na grande mídia e grandes gravadoras. Sua estreia ocorreu no dia 1º de março de 1977 e a edição derradeira foi veiculada no dia 5 de fevereiro de 1988.
“Minha preocupação era justamente mostrar a criação musical dificilmente promovida, como divulgar novos valores, orientado por princípios muito próprios. Valia aquilo em que eu acreditava”. Está declaração de Zuza está publicada no livro Jovem Pan 50 Anos, escrito por Álvaro Alves de Faria.
Ainda na Pan, nos anos 1970, Zuza ajudou a produzir algumas vinhetas que permaneceram no ar por muito tempos. Anos mais tarde, ele desenvolveria esse mesmo tipo de trabalho para a Rádio Band News FM.
Recentemente, Zuza esteve no ar com o programa “Playlist do Zuza”, veiculado pela Rádio USP e retransmitido pela Rádio MEC, produzido em parceria com o Instituto Moreira Salles. Sua proposta consistia em “apresentar a diversidade da música popular brasileira com base na experiência de mais de seis décadas de carreira do apresentador Zuza Homem de Mello”.
Veja abaixo o texto que Zuza Homem de Mello leu em sua despedida da Rádio Jovem Pan, na última edição do “Programa do Zuza”. Reproduzido do livro já citado Jovem Pan 50 Anos, editado pela Maltese, em 1994.
“A partir de hoje o “Programa do Zuza dá uma parada. Geralmente quando isso é noticiado a primeira impressão que se dá logo é imaginar que houve algum desentendimento. Nada disso. O sentimento de amizade e a ligação profissional continuam intactos entre o Zuza e a Rádio Jovem Pan. Tanto que a gente vai ter ainda a oportunidade de estar com vocês na Jovem Pan que – é bom frisar – sempre me deu através do Tuta, seu diretor-presidente, uma condição de liberdade total, razão direta de se poder realizar sempre o que foi imaginado nesses 11 anos. O Tuta foi fundamental para o “Programa do Zuza. De minha parte, devo dizer-lhes que há vários projetos em andamento, ligados à música, naturalmente para os quais preciso dar a atenção que exigem. A eles é que eu pretendo me dedicar nos próximos meses. Nestes 10 anos, onze meses e cinco dias, foram quase três mil programas, com um número em torno de 28 mil músicas escolhidas dia a dia para vocês. Sempre toquei aquilo que achei que devia tocar e pela audiência parece que muita gente gostou. Chegaram a dizer que aprenderam a ouvir música sintonizando este programa. Era exatamente isso que eu pretendia no dia 1º de março de 1977, quando o “Programa do Zuza” foi ao ar pela primeira vez. Isso me deixa imensamente gratificado e me dá a certeza de ter feito alguma coisa pela minha querida música, que também corre nas veias de vocês. Guardo com a seriedade de um documento as palavras e idéias dos músicos, cantores e compositores que estiveram com a gente, desde os mais consagrados aos mais conhecidos e iniciantes. Todo mundo ligado à música de alguma forma teve espaço no “Programa do Zuza”, com plena liberdade de falar na Jovem Pan. Agradeço a todos os companheiros da Jovem Pan de quem muitas vezes dependi para que o programa pudesse se realizar como foi imaginado, em especial ao Odalvo Menezes, Ricardo Sanches e Nilson Lacerda. Este programa de hoje simboliza a virada de uma página e é assim que eu gostaria que vocês entendessem, como um ciclo, como um livro que se iniciou em março de 77 e termina hoje. O “Programa do Zuza” vai sai do ar agora. Como diria o inesquecível Vinícius de Morais: ‘A benção, saravá'”
