Escola de samba Águia de Ouro faz homenagem ao rádio no Carnaval 2024

Por Marcos Lauro

Com sede na Pompeia, bairro da Zona Oeste da capital paulista, a escola de samba Águia de Ouro escolheu o enredo para o próximo Carnaval, em 2024: a agremiação homenageia o rádio no desfile que está marcado para o dia 10 de fevereiro, sábado de Carnaval. A Águia de Ouro será a quinta escola a entrar no sambódromo do Anhembi, logo após a Gaviões da Fiel, no Grupo Especial.

Na última segunda-feira (17/7), a escola apresentou a sinopse do enredo. Esse é o material serve para que os compositores possam fazer os sambas-enredo sobre o tema proposto. O melhor, escolhido internamente, vai para a avenida.

Na sinopse, que você pode ler abaixo, tem um panorama sobre o histórico do rádio no Brasil, desde a sua primeira transmissão oficial e a sua invenção pelo padre Landell de Moura. O texto segue brincando com os formatos de programas de rádio e com a agilidade do veículo. Eli Correia é o único comunicador citado nominalmente e que será homenageado pela escola.

Veja a sinopse e, abaixo, um vídeo das redes de Eli Correia sobre a Águia de Ouro:

SINOPSE

 “O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre.”
(Edgard Roquette Pinto)

 Oi gente!

 Alô ouvintes! Salve Comunidade aguerrida da Pompeia!

 Está no ar o Programa “Nas Ondas do Rádio”, da sua Estação Águia de Ouro, em perfeita sintonia pra tocar seu coração!

 Esse Carnaval traz um Especial pra viajar no túnel do tempo, e mais do que contar a história, avivar a memória e reviver momentos antológicos do rádio através do nosso festejo popular mais genuíno.

 A necessidade de se comunicar, o impulso da criação, o ímpeto de realizar. A origem, o desenvolvimento e o aprimoramento do rádio são fruto da obstinação do Homem para expandir a sua capacidade de comunicação.

 A cerimônia de comemoração do centenário da independência do Brasil, ocorrida em 07 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, foi a primeira transmissão radiofônica oficial do país. Autofalantes ecoavam o discurso presidencial de Epitácio Pessoa e a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, direto do palco do Teatro Municipal. Episódio marcante, a solenidade foi uma demonstração pública efetiva do grande feito que era a comunicação através de transmissores e receptores, evidenciando o papel precursor e de “divisor de águas” dignamente atribuído ao rádio.

 A missão de derrubar as barreiras da distância através do som desafiou pesquisadores e inventores visionários. Dentre eles, Padre Landell de Moura, homem santo e cientista dito bruxo, que driblou o dilema entre a Fé e a Ciência, e heroicamente realizou a primeira transmissão da palavra falada e sem fios no Brasil.

 De lá pra cá, a fala solitária alcança uma multidão. Tantas vezes o rádio é a única companhia… O acesso à informação se torna sagrado quando a palavra que não pode ser lida é ouvida, e a mensagem decodificada. Um alento para uma legião de analfabetos invisíveis, sensíveis à luz da inclusão.

 Oxigênio e fôlego para os combatentes abatidos pela dor da guerra e seus familiares; a disseminação da informação divulgada nos noticiários e reportagens a promover elucidação; o alvoroço e o rebuliço provocado pelas arrebatadoras radionovelas; o grito de gol incontido, extravasado no êxtase da torcida em vibrante comemoração; a consagração dos tempos áureos legitimada na chamada “Era de Ouro”.

 A potência das vozes promove encantamento, explosão de talentos, anônimos alcançam o estrelato, surgimento de divas, musas, ídolos. As vozes que enfeitiçam com o dom de cantar revelam o desabrochar de uma dinastia de reis e rainhas. Em meio à múltiplas utilidades e funções, o estouro da Rádio Nacional e o tesouro sublime que é a representatividade de uma personalidade como Carmem Miranda despontando no cenário cultural.

 Programas de humor trazem leveza ao dia através do riso que anestesia, o radinho de pilha se torna um clássico da preferência popular, A Voz do Brasil anuncia posicionamentos e considerações dos poderes políticos institucionais importantes de se notificar. Já a Hora do Angelus, é um bálsamo para as atribulações. Devotos em oração elevam seus pensamentos pedindo por bênçãos e proteção e clamando à Nossa Senhora: “Ave Maria! Rogai por nós!”.

 Companheiro inseparável das donas de casa, é distração em meio aos afazeres domésticos e conselheiro dos corações apaixonados e dos amantes errantes, que confidenciam seus romances, dramas, aventuras e declarações em açucaradas cartas de amor.

 Locutores e comunicadores profissionais seguem sendo elementos fundamentais para que o rádio se fortaleça cada vez mais enquanto um instrumento de extrema relevância para o jornalismo, a música, as artes, o entretenimento, o acesso à cidadania. Homenagem merecida é enaltecer o trabalho do ilustre radialista Eli Corrêa, o Sorriso do Rádio, incluindo nessa viagem a coroação de sua carreira, seu carisma e do Clube da Amizade.

 “Vamos sorrir! Vamos cantar!”. A internet e a rede wi-fi podem ser o início de uma nova era… Com a evolução surpreendente da tecnologia, quem arrisca um palpite sobre o futuro que virá?

 Na Avenida onde os sonhos ganham vida, há de ser comovente ouvir o coro da nossa gente bradando que o rádio é veículo imprescindível e terminantemente veio pra ficar!

Águia de Ouro – enredo 2024 – sinopse

No vídeo abaixo, Eli Correia, vereador em São Paulo pelo partido União Brasil, mostra a flâmula da Águia de Ouro em seu gabinete:

Rádios populares: um oásis de criatividade no dial nos finais de semana

Por Marcos Lauro

O final de semana é um período complicado para muitas emissoras de FM. Com equipes reduzidas (muitas vezes estão na rádio, inteira, apenas o locutor do horário), a playlist não foge do convencional, os poucos programas são gravados e não há vontade – e muito menos braço – para se tentar fazer algo de diferente.

Mas há esperança. E ela está nas rádios populares. Muitas vezes, parece que o final de semana é mais cheio de atrações do que os dias úteis de tantas ações comerciais na rua, programas ao vivo (alguns repletos de merchans, um bom termômetro para sucesso comercial) e, o que mais importa para o ouvinte, criatividade e diversidade. Destaco, especialmente, duas emissoras: Transcontinental e 105 FM.

As pessoas estão cada vez menos respeitando barreiras musicais e ouvem de tudo. Então, já se foi o tempo em que uma rádio popular era marcada por tocar apenas samba ou sertanejo – ou pagode e axé, como era na fase áurea de Rádio Cidade, Gazeta e afins. A Transcontinental FM, emissora de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, tem o samba como ênfase, mas, especialmente no final de semana, abre espaço para o funk (duas horas no sábado e no domingo) e a black music e a cultura dos DJs com o programa do DJ Luciano, grande nome da equipe Chic Show e de bailes como o Musicaliando.

O DJ Luciano é um perfil interessante de comunicador. Ele começou muito cedo no rádio, com oito anos de idade (!!!) quando foi convidado pelo Luizão, da Chico Show, para apresentar um programa na Rádio Bandeirantes – e a graça era justamente essa, um programa de black music/som dos bailes apresentado por crianças. A partir disso, mesmo com essa idade, se tornou DJ. Anos depois já estava produzindo grupos de rap como Ataliba e a Firma e Detentos do Rap, entre muitos outros. Hoje, ele apresenta o Black Songs, na Transcontinental, todos os sábados e domingos das 18h às 21h, com o programa dividido em blocos: as lentas, samba rock, hip-hop e funk-soul. Como locutor, consegue ser carismático sem a sensação de falsidade, aquele “sorriso fabricado” que muito locutor de rádio popular tem: quando alguém pede alguma música que ele não tem ou acha que não tem a ver com o programa, ele fala sem pestanejar. A sinceridade acaba conquistando os ouvintes.

Da mesma forma que toca as antigas dos bailes, DJ Luciano também se esforça pra tocar coisas novas, informar sobre os artistas e provocar a curiosidade do ouvinte. As três horas do programa passam sem nem perceber. E quando acaba, entra no ar o Mistura Trans, que faz jus ao nome: toca de tudo. Mesmo. Isso é rádio popular.

De Jundiaí, um pouquinho mais longe de São Paulo, vem o sinal da 105 FM. Com uma programação mais focada no samba e uma forte programação esportiva, que acaba tomando um grande espaço da música, a emissora também aposta na diversidade em seus programas apresentados por grandes nomes.

A Festa do DJ Hum é o programa apresentado por um dos mais veteranos DJs de hip hop do Brasil – que fazia dupla com o rapper Thaíde. Seu estilo é bem parecido com o de Big Boy, que fez história no Rio de Janeiro nos anos 1970 – até o tom de voz é um pouco parecido. DJ Hum também divide seu programa de duas horas por blocos de interesse, das lentas às novidades do hip-hop nacional. Produtor, ele também aproveita para tocar os artistas com quem trabalha, falar sobre seus discos e afins. DJ está no ar no sábado, das 14h às 16h.

No domingo, das 12h às 15h, entra no ar o DJ Eazy Nylon com o programa Black 105. Assim como o DJ Luciano, da Transcontinental, Nylon é um grande nome da equipe de bailes Chic Show e também começou como DJ muito cedo. O programa de Nylon, além de contar com a sua seleção, é mais aberto a pedidos de ouvintes.

Também aos domingos, depois da rodada e de todos os debates do futebol, entra no ar o Balanço Rap, programa de Ice Blue, integrante dos Racionais MC’s, que divide o microfone com o locutor Fabio Rogerio – que faz o Espaço Rap durante a semana. Mais focado em hip hop, Blue traz amigos do rap para bate papo e toca novidades do gênero. Quando a agenda dos Racionais não permite, Ice Blue dá lugar a DJs e sets mixados.

Há vida no final de semana radiofônico, especialmente para quem está atrás de novidades e que não deseja ficar preso a um único estilo musical.  Essas rádios fazem o primordial, que, em determinado momento, foi esquecido – seja pela falta de vontade de donos de emissoras ou pelas equipes reduzidas: estão na rua, com ações comerciais, criativas, e estão no ar com uma boa programação, que respeita a diversidade sonora que chega aos ouvidos do público comumente chamado de “popular”.