Por Rodney Brocanelli
Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o seu Tuta, morto aos 92 anos nesta segunda (04) conseguiu criar duas rádios. Explicando: no final dos anos 1960, a Rádio Panamericana era uma emissora “que estava sem rumo, sem faturamento, sem nada”, conforme palavras dele próprio ao livro “Jovem Pan, 50 anos”, lançado em 1994, pela Editora Maltese.
A partir de uma ideia do pai e então proprietário, Paulo Machado de Carvalho, a estação mudou de nome para Jovem Pan, a fim de aproveitar o sucesso do programa Jovem Guarda, da TV Record, comandado por Roberto Carlos.
Nesse processo de reformulação, a rádio se escorou em dois pilares. Um deles, a cobertura do futebol. O outro foi aproveitar a audiência a popularidade dos astros e estrelas da tevê e criar programas para eles na Pan.
Ele conta: “(…) eu fui buscar o pessoal da TV Record para fazer programas na Jovem Pan. Vieram o Roberto Carlos, o Erasmo Carlos, a Wanderléia, o Agnaldo Rayol, Cidinha Campos, Hebe Camargo, Elis Regina, Jair Rodrigues, Miriam Batucada e muitos outros. A gente começou a fazer programas de 15 minutos, de meia-hora e até de uma hora, dependendo do artista”.
Os resultados, segundo Tuta, não tardaram a aparecer:
“A rádio começou a ficar conhecida. As pessoas queriam saber das coisas dos grandes ídolos da música popular brasileira e da TV Record. E tudo isso estava na Jovem Pan”.
A outra rádio veio depois: “(…) com o passar do tempo, a gente começou a colocar jornalismo. Eu sempre achei o jornalismo importante. Primeiro, criamos a Equipe Sete e Trinta”, depois o Jornal de Integração Nacional e, por fim o Jornal da Manhã (…) Primeiro, colocamos uma viatura de reportagem nas ruas. Depois duas. O número de viaturas foi crescendo. Hoje (1994) são 14, que estão em todos os lugares da cidade, informando sempre”.
Uma característica marcante desta Jovem Pan foi a prestação de serviço, iniciada com a Sala do Povo, comandada por Augusto Tovar, fazendo um atendimento constante ao ouvinte, encaminhando queixas às autoridades competentes e, depois, recebendo soluções. Isso depois foi ampliado e aperfeiçoado com as informações sobre trânsito e estradas.
Outro exemplo dessa prestação de serviço foi acompanhada durante os incêndios dos edifícios Andraus e Joelma, no centro de São Paulo. Durante a cobertura das tragédias, a Pan não se limitou apenas a acompanhar os fatos, mas passou a auxiliar a Defesa Civil, fazendo uma conexão de informações. No caso do Joelma, Muitos ouvintes chegaram a ligar para a redação da Pan e informar onde estavam as vitimas.
Não bastasse tudo isso, a Pan serviu de porta voz oficial do Corpo de Bombeiros para solicitar caminhões-pipa para ajudar no abastecimento de água.
Outras ideias pontuais de Tuta também deram o que falar. Em 2002, a Jovem Pan decidiu como forma de protesto não comprar os direitos de transmissão da Copa do Mundo a ser disputada naquele ano tanto na Coreia como no Japão. Era a primeira vez que que Rede Globo seria responsável pela venda e o preço foi muito salgado.
Para não ficar totalmente de fora, a emissora se escorou em dois pilares. Um deles foi o trabalho do enviado especial Wanderley Nogueira, que acompanhou o dia-a-dia da seleção brasileira. O outro foi o investimento em uma equipe de comentaristas ilustres. Técnicos de futebol, entre ele Wanderley Luxemburgo, Zagallo, Leão, entre outros, e jogadores como Romário, deixado de fora da convocação final.
Todos eles iram participar de uma espécie de mesa redonda ao vivo, durante os jogos da seleção. Não haveria narração, apenas opinião dessas figuras e dos integrantes da equipe de esportes da emissora.
O resultado: a cobertura da Jovem Pan teve audiência e gerou muita repercussão nas outras mídias, especialmente a impressa e também na incipiente Internet, cujos portais de notícias e blogs davam seus primeiros passos.
Outra inovação: mudar o jeito como se informa o tempo de jogo durante uma transmissão esportiva. Enquanto as outras emissoras informam o tempo crescente (de 1min. até 45min.), a rádio do seu Tuta resolveu ir na contagem decrescente e os narradores da emissora informavam quanto falta para o fim de jogo.
Tuta se afastou do dia-a-dia da emissora em 2014. Grande parte do que foi implantado por ele foi sendo modificada aos poucos. A prestação de serviços foi deixada de lado e em seu lugar o jornalismo opinativo veio ganhando força cada vez mais. Isso se expandiu para a emissora de televisão que hoje opera na tv por assinatura, criada sob as bases da rádio.
O esporte, por sua vez, teve seu espaço migrado para o YouTube. Apesar da presença de alguns veteranos da época de Tuta e ter audiência, a quantidade de horas no ar e a qualidade nem se compara aos anos 1970, 1980 e 1990.
A ausência de Tuta foi muito sentida por velhos companheiros. Um deles, Joseval Peixoto, em 2015, relembrou várias ideias que o patrão teve e que ele, Joseval, ajudou a executar na emissora, como a cobertura do carnaval e o sermão da Paixão, marcas registradas da Pan. “É um grande vazio a ausência do Tuta aqui na Jovem Pan”, disse o apresentador na ocasião. Ouça abaixo.





