No dia 15 de setembro de 1980, Haroldo de Andrade iniciava seu programa na Rádio Globo (RJ) com o tradicional quadro Bom Dia. Para quem não lembra ou não sabe, era um pequeno editorial sobre algum tema escolhido por ele e sua produção ao som de Favorite Theme From Tchaikovsky’s First Piano Concerto, performada pela orquestra de Ray Connif. O Bom Dia daquela ocasião era uma homenagem a um companheiro de programa, morto dois dias antes: Fernando Leite Mendes.
Mendes foi jornalista, cronista e apresentador de televisão. No rádio, participava dos Debates Populares, um dos quadros mais relevantes do programa de Haroldo de Andrade. Em jornal, trabalhou na histórica Última Hora, cobrindo as coisas da política e anos depois passou a escrever crônicas, gênro que era muito popular em jornal, especialmente entre nas décadas de 1950 e 1970. Estudiosos dizem que ele não fazia feio diante dos grandes nomes do gênero.
Entretanto, foi nos meios eletrônicos que Mendes ganhou mais notoriedade. Além da já citada participação nos Debates Populares, em televisão, Mendes fez parte da equipe do Aqui e Agora, da TV Tupi, do Rio de Janeiro, dirigido por Wilton Franco (não confundir com o Aqui Agora, que o SBT lançou com sucesso nos anos 1990). Com a crise da emissora , migrou com a equipe de Franco para a TVS Canal 11, no programa O Povo na TV. Muito antes, nos anos 1960, fez parte da equipe de jornalismo da TV Globo.
Fernando Leite Mendes morreu em 13 de setembro de 1980, um sábado, vítima de um infarto, aos 49 anos. Foi enterrado no dia seguinte, na cidade de Salvador (BA).
O texto lido por Haroldo de Andrade em seu Bom Dia é de autoria de Áureo Ameno. Ouça abaixo.
A ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) está distribuindo em formato digital a quem possa interessar uma versão atualizado do livro TV Tupi, do Tamanho do Brasil. Escrita por Elmo Francofort e Maurício Viel, a obra foi lançada originalmente em 2020, por ocasião dos 70 anos da televisão brasileira, cujo marco é inauguração da TV Tupi, de São Paulo.
O livro tem o mérito de ser profundamente didático, abordando aspectos técnicos e históricos do rádio e da televisão, estabelecendo uma série de eventos que vão desembocar na primeira transmissão televisiva no dia 18 de setembro de 1950.
A divisão de temas por capítulos facilita a leitura. Entretanto, um problema salta aos olhos. Ainda falando sobre rádio, é dedicado um capítulo exclusivo para a Rádio Difusora, de São Paulo (960Khz). É bem verdade que sua programação foi importante para a história do rádio, estabelecendo uma linguagem jovem que se perpetuou nos anos seguintes e vigora até os dias de hoje.
A trajetória da Rádio Tupi (1040Khz), com isso, não teve o mesmo destaque. Os autores escrevem que ela: “(…) tinha uma programação mais tradicional, voltada para os homens, se aprofundando nas coberturas esportivas com a famosa Equipe 1040, na loteria esportiva, no jornalismo e na música sertaneja”.
Não valeria a pena ter esmiuçado mais todo esse trabalho feito na cobertura do futebol, que garantiu uma boa base de ouvintes para a Tupi? Além do mais, a emissora alterou seu perfil, investindo em comunicadores, alguns deles com ótimo trânsito entre o público feminino como Eli Corrêa. Outros nomes célebres desse período podem ser destacados como Hélio Ribeiro e Barros de Alencar.
O livro tem o cuidado de procurar informar a situação do acervo de fitas tanto da TV Tupi, de São Paulo, como da TV Tupi, do Rio. Em determinados momentos da história, as duas praças produziram bastante conteúdo e brigaram entre si para ser a cabeça de rede. No entanto, não se sabe se o acervo de fitas da Rádio Tupi, de São Paulo, ainda existe e, se existe, qual foi o destino dado a ele.
Se não houve esse preocupação de contar um a história da Rádio Tupi, de São Paulo, o mesmo se aplica a hoje Super Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, que hoje é um canhão de audiência. Em vários trechos, a obra informa que a concessão da emissora carioca esteve sempre em dia mesmo durante a crise, mas não informados detalhes de como isso foi possível.
A Rádio Tupi, de São Paulo, só é mais citada em seu instantes finais. O livro aborda a permuta de frequência com a Rádio Capital, que transmitia em 560Khz. Mesmo sendo “a primeira em seu rádio”, as dificuldades persistiram e em 15 de setembro de 1984 sua falência foi decretada. Em 2 de outubro de 1984, guardem esta data, a Tupi paulistana saia definitivamente do ar.
Ainda houve uma tentativa da massa falida em recuperar a concessão, mas ela foi repassada para a Rádio e Televisão Campestre Ltda., de Santa Isabel. Em 1985, a emissora foi vendida para José Maria Marin, político e cartola de futebol, se transformando depois na Rádio Paulista, que até hoje arrenda todo seu espaço de programação.
Paulo Masci de Abreu, importante nome da comunicação (ainda que discreto) também é citado nessa obra. Os autores contam que em 1982, Abreu obtém autorização para transferir o sistema irradiante então Rádio Cacique 1150Khz, de São Caetano, para a capital. É informado também que o empresário passou a usar o nome Tupi em sua emissora até perder uma ação dos Diários Associados, que usam a marca em sua emissora no Rio de Janeiro.
Conforme o site da ABERT, “o e-book, atualizado e unificado, pode ser acessado gratuitamente no site Memória ABERT. Já a inédita versão impressa, pode ser encomendada pela plataforma “Clube de Autores”. Os autores abdicaram dos direitos autorais e os custos referem-se apenas à impressão e envio”.
No dia 17 de julho de 1980, começava um programa diferente na TV Tupi, do Rio de Janeiro. Na verdade, era um clamor pela sobrevivência. Seus funcionários da emissora ocuparam os estúdios para pedir que a emissora não saísse do ar. A história é conhecida. Resumidamente, devido a problemas financeiros, o governo federal da época cassou a concessão de todos os canais que formavam a rede. Um a um, os canais sairam do ar. No Rio, até que os funcionários do Dentel chegassem à sede, houve essa mobilização que envolveu não somente os trabalhadores, mas companheiros de outras rádios e televisões da cidade, como Mario Vianna e Paulo Stein. O final da história é conhecido. O sinal foi cortado, representando assim o fim da Tupi. Existem poucos registros deste momento triste da história de nossa televisão. Os trechos abaixos foram gravados em áudio graças ao fato de que o som do canal 6 chega no FM, nos 87.7Mhz. Esse material foi disponibilizado na comunidade sobre a Rede Tupi no Orkut. São quatro partes.