Por Marcos Lauro
*Texto inspirado por essa notícia
Eu sei, executivo. Sua vida é muito difícil.
Quanto você ganha? Uns R$ 20 mil por mês? Mais? R$ 30? Bom, vamos fixar em 40, que é pro texto não ficar com muitas interrogações: você ganha R$ 40 mil por mês. Fechou.
Ganhando tudo isso, sua responsabilidade se torna muito grande. Você tem uma emissora do primo pobre das comunicações nas mãos, o rádio. Então, precisa justificar um salário tão alto, tão acima da média dos seus comandados – o que é natural em qualquer empresa, não há problema algum nisso.
Só que você, geralmente, é antigo, tem uma cabeça muito velha. Não estou aqui falando de idade. É algo mais complexo. Você tem nas mãos o meio de comunicação mais ágil, mais que a internet, e não sabe usá-lo. Se debate sobre questões em que o rádio tem jogo ganho – como, por exemplo, a transmissão de um jogo de futebol.
Você tem que cortar gastos, porque os meios de comunicação estão diminuindo. Os grandes grupos têm que demitir, enxugar e diminuir a sua estrutura, construída de forma arcaica, burocrática e cara. E quando você trabalha num grupo grande desses, você tem meios para cortar gastos sem reduzir conteúdo. Afinal, você vive de conteúdo. Se você não tem conteúdo, você morre.
Aí você apela para a solução mais fácil: “tem uma emissora de TV aqui do lado. Se o rádio é áudio e a TV é imagem e áudio, vamos pegar o áudio deles… não vai fazer falta, né?”.
Errado, executivo. Você está fazendo isso muito errado.
Rádio é criatividade. E o conteúdo em áudio da TV é pobre de criatividade. Porque lá já existe a imagem para compensar. O narrador de um evento pela TV chama a responsabilidade para a imagem, pede para o telespectador (“telespectador”, executivo. Não é “ouvinte”. Viu?) ver. O narrador espera que a pessoa confira a narração com seus olhos.
O pior é quando isso acontece em Talk Shows, como o Programa do Jô e Agora é tarde. O que fazer quando o apresentador diz: “Agora vamos ver as fotos!”. Olho pro rádio? Faço cara de paisagem e finjo que não é comigo?
Executivo, transmitir conteúdo da TV no rádio é deturpar tudo o que o rádio significa. Eu sei que existem formas mais nobres de cortar gastos de uma rádio sem desrespeitar o meio e mantendo a qualidade do seu trabalho. Inclusive, muitas das respostas estão na ponta da língua dos seus comandados. Um líder tem que ter humildade de ouvir e respeitar as opiniões que vêm “de baixo”. Se não, nem ele vai ter o respeito devido. E quem perde com isso é o rádio, que perde espaço para a TV em seu próprio meio, de forma burra e preguiçosa.
De fato, essa da Radio Bradesco FM retransmitir o jogo Cruzeiro x Santos com o som da TV Bandeirantes foi de lascar. Desse jeito, com esse tipo de diretor, vão acabar com um melhores veículos da nossa mídia, que é o radio. Lamentável!
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CQC, Jô, Agora é tarde. Rádio é tv sem imagem ?
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Quanto ao salário do “sr. executivo”, Lauro, você chegou perto. No entanto, salários até os quarenta remuneram diretores de departamento, segundo escalão, o bando de paus mandados. Aqueles que, se preciso, jogam a própria mãe no fogo, desde que não percam a “boquinha”.
O “bam-bam-bam”, o cara que manda mesmo e que, geralmente, é o que menos entende do assunto, ganha, no mínimo, o dobro de salário. Mas, o “fixo” é bobagem. O grosso da “fatura” são as comissões. De cada anúncio, de cada programa, de cada emissora da rede, de tudo. Dessas, o batuta não abre mão.
“Comissão é sagrada!”– diz, com um certo muxoxo, na tentativa inútil de mostrar pretensa respeitabilidade. E para quê ganham tanto esses imbecis? Para terem ideias “geniais”, como a que está em foco.
Narração de futebol transmitido pela TV replicada no rádio, com todo o respeito que Luciano do Valle merece, é brincadeira. O “bolacha” sabe das coisas e não entraria numa fria dessas. Só pode ter sido ideia de um anencéfalo, pois de Luciano não foi.
O contrário funciona porque os narradores esportivos do rádio são geniais, sem aspas. Afinal, narrar o que veem, com a emoção que têm, é o feijão-com-arroz da profissão. E vai bem no rádio ou na televisão.
Sinceramente, o retardado que imaginou ser possível jogar o som da narração esportiva da TV no rádio deve ter achado que os ouvintes são idiotas e aceitam qualquer bobagem no ar.
Que a experiência tenha sido para nunca mais se repetir. Chega de amadorismo.
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Bem lembrado, Sergio. Me esqueci do CQC, que é feito pela mesma empresa que realizou essa façanha no último domingo. Triste. Muito triste.
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No jogo do Palmeiras somente a cbn com reportagem no estádio,as concorrentes apelam por esse recurso tosco chamado off tube.
Dai minha preferência e procurar por rádios que transmitem com equipe no estádio, ou ao menos com locutor e reportagem agrada meus ouvidos.
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