O perfil da banda Lingua de Trapo no YouTube publicou nesta segunda (18) uma verdadeira relíquia do rádio: a vinheta da 97 FM, quando ela ainda transmitia diretamente de Santo André. Como informou Laert Sarrumor em seu perfil no Facebook (veja aqui), ela rolava a cada uma hora e anunciava o prefixo da emissora. Ela foi produzida pelo próprio Laert ao lado de Catalau, da banda Golpe de Estado. A gravação aconteceu no dia 29 de maio de 1987 no Estúdio Cameratti, em Santo André, e contou com as participações de Paulo Zinner, Nelson Brito e Helcio Aguirra.
Inaugurada em 1983, em Santo André, a 97 FM foi aos poucos se transformando em uma rádio de rock. Virou uma das grandes referencias no assunto, em que se pese a dificuldade de seu sinal chegar a outras regiões de São Paulo. No começo só havia um locutor, o Jota Erre, que dava muito trabalho a um dos fundadores da emissora, Zé Constantino. Ambos já chegaram até a sair no tapa.
Em 1994, a emissora mudou radicalmente seu estilo, trocando o rock pela música eletrônica. Em uma edição do programa Morde e Assopra de 2018 (saiba mais aqui), o próprio Zé Constantino explicou a mudança contando dois que o fizeram mudar de ideia. Um deles foi um prejuízo que ele teve ao organizar um show do Sepultura em Santo André. O outro aconteceu durante uma viagem de táxi. O motorista estava ouvindo Deep Purple. “Você gosta de rock?”, perguntou o proprietário da 97 FM. Após a resposta afirmativa, o condutor do automóvel listou uma série de bandas das quais gostava. Todas antigas. Foi aí que Constantino teve um clique: o consumidor de rock não estava tão interessado assim em novidades, isso em pleno estouro do Nirvana.
A mudança de perfil não agradou aos ouvintes, é claro. Na ocasião, a determinação era para que os telefones não fossem atendidos e com isso, procurar driblar a fúria que vinha do outro lado. Após algumas alterações ao longo dos anos, a emissora adotou o nome de Energia 97.
O grande pulo do gato se deu em 1999, com a estreia do Estádio 97, debate sobre futebol com um tempero bem-humorado transmitido sempre aos finais de tarde. A fórmula tem grarantido sucesso comercial e de público ao longo desses anos. Desde 2019, a emissora tem se dedicado às transmissões dos jogos de futebol dos grande clubes de São Paulo com o projeto Energia em Campo.
Ouça abaixo a vinheta clássica da 97 FM com alta qualidade sonora.
Naquele que já é considerado o melhor jogo do ano, o Fluminense venceu o Grêmio pelo placar de 5 a 4, em Porto Alegre. Ouça a narração de Gustavo Manhago, da Rádio Gaúcha.
O Cruzeiro venceu o Goiás pelo placar de 2 a 1 no Mineirão. Ouça a narração de Alberto Rodrigues, da Rádio Itatiaia.
Em Manaus, Vasco e Corinthians empataram pelo placar de 1 a 1. Ouça a narração de Renato Rainha, da Band News FM.
De virada, o Atlético-MG venceu o Ceará pelo placar de 2 a 1. Ouça a narração de Hércules Santos, da Super Notícia FM.
Com um gol de Deyverson, o Palmeiras venceu o Internacional pelo placar de 1 a 0. Ouça a narração de Marcos Couto, da Rádio Bandeirantes, de Porto Alegre.
Ouça também a narração de Luiz Henrique (Zé Mistério), da 97 FM.
Dentro das comemorações de seus 20 anos no ar, o programa Estádio 97 fez um programa especial na última terça-feira com um convidado muito especial: José Silvério, narrador da Rádio Bandeirantes. Foi mais um show de Silvério, que falou muito mais sobre futebol do que rádio esportivo. No entanto, em um dos poucos momentos em que ele falou sobre coisas relacionadas à sua profissão, ele uma revelação interessante: ele só usa camisa de cor amarela para ir aos estádios de futebol. Isso não se deve a qualquer tipo de superstição, mas sim para a segurança pessoal. “Eu fiz uma conta lá em casa e o único time que não tem em São Paulo é de camisa amarela. Se você for em um jogo do Corinthians de camisa verde, você apanha, com certeza. Eu tirei todas as camisas que pudessem identificar todos os times de São Paulo. Comprei meia dúzia de camisas amarelas, tudo igualzinha, para ir aos jogos”.
Em junho de 2016, este radioamante conseguiu realizar o sonho de tirar uma foto ao lado de José Silvério, na Arena Corinthians, antes de um importante jogo do time da casa. O narrador estava vestindo uma estilosa camiseta amarela de mangas compridas (veja abaixo). Foto de Gabriel Araújo.
A íntegra do Estádio 97 especial com José Silvério pode ser vista e ouvida na íntegra no player abaixo. O trecho sobre a camisa amarela pode ser ouvido a partir de 2h13min40s.
Morreu nesta sexta-feira, o músico, radialista e apresentador Kid Vinil. No dia 19 de abril, ele passou mal em uma apresentação na cidade de Conselheiro Lafaiete (MG). Foi internado em um hospital municipal e depois transferido para o hospital TotalCor, em São Paulo. A causa da morte ainda não foi divulgada.
Como músico, ele fez parte das bandas, entre outras, Verminose e Magazine. Com esta última, conseguiu sucesso comercial na explosão do rock nacional dos anos 1980. Apesar dos hits “Sou Boy” e “Tic Tic Nervoso”, Kid não chegou a entrar para o panteão dos nomes clássicos daquela geração, como Renato Russo, Herbert Vianna, por exemplo. No entanto, foi no rádio onde ele conseguiu deixar a sua marca, influenciando uma grande parcela de ouvintes. Para isso, o apresentador se valeu de uma fórmula simples: ele procurava ser sempre didático. Sem enrolar muito, Kid informava ao ouvinte curiosidades e informações sobre a música ou banda que iria tocar.
No começo dos anos 1980, ele teve um programa na Rádio Excelsior FM (hoje CBN) chamado “Programa do Kid Vinil”. Em seguida, na mesma emissora, fez uma parceria com Leopoldo Rey para comandar o “Rock Sandwich”. Naquela época, a Excelsior tinha como diretor Maurício Kubrusly.
Antes do estouro com o Magazine, Kid passou pela Antena 1 FM, que era bem diferente daquela que está hoje no ar. Em 1986, voltou ao rádio, comandando um programa semanal na 89 FM. No começo da década de 1990, apresentou na Brasil 2000, ao lado de Mauro Beting, o semanal Digital Sessions. Era uma verdadeira anarquia, no bom sentido.
Talvez o grande momento de Kid Vinil no rádio começou na 97 FM, por volta do ano de 1993, quando comandou o diário “Patrulha Noturna”. Ele tinha quatro horas livres, ao vivo, a partir das 22h, para tocar aquilo que quisesse. Perdi a conta de quantas madrugadas eu ficava colado no meu aparelho de som, ouvindo a seleção musical de Kid, nem que isso significasse pouquíssimas horas de sono. O duro era levantar cedo para ir à aula, mas valia a pena. Naquela época, Kid começou a mostrar bandas que que seriam muito reconhecidas no cenário internacional. Uma delas era simplesmente o Oasis.
Em dezembro de 1994, a 97 FM abandonou o rock e se transformou em uma rádio de música eletrônica. Na época, o então diretor Lélio Teixeira (ele mesmo) disse à Folha de S. Paulo que o estilo não era mais viável comercialmente. Kid falou sobre isso numa entrevista à Rádio Onze, uma rádio livre ligada ao Centro Acadêmico da Faculdade de Direito-USP: “As pessoas querem que a coisa dê dinheiro, querem faturar e não sabem o que fazer. Na 97 FM aconteceu isso. Eles querem faturar, no entanto, ainda não conseguiram com o poperô. Acho que deveriam mudar para samba ou sertanejo. Se eles querem ganhar dinheiro, tem que ser com uma coisa bem brega mesmo, porque o popular é que dá dinheiro”. Vale lembrar que em 1999, a emissora adotou uma linha mais popular, ainda que por pouco tempo.
Kid não ficou muito tempo fora do ar e se transferiu para a Brasil 2000 no começo de 1995. Foi nela que ele passou a falar de uma banda que estava com uma grande repercussão na Inglaterra, comandada por uma vocalista de origem brasileira: o Drugstore, de Isabel Monteiro. Nesse período, ele passou a ter uma visão bem critica dos ouvintes de rock: “Quem gosta de rock eh um público pequeno, isso o rock de verdade. Tem cara que prefere comprar o disco para ouvir em casa a ouvir radio, eu conheço muitas pessoas que fazem isso e não estão nem aí para o fato de ter rádio tocando ou não. O público de rock é complicado de se trabalhar. Eu vejo pela Brasil 2000. A gente tem um número de ouvintes limitado. É uma coisa muito dirigida, quem gosta de rock é um outro publico. As pessoas que ouvem essas rádios mais populares gostam de qualquer coisa, não tem um gosto especifico”, disse ele em entrevista à Rádio Onze.
Depois de uma nova passagem pela 89 FM, em 1996, Kid foi para a então novata Mix FM no ano seguinte. Ela ainda não tinha se transformado em uma rádio pop e o apresentador ocupava o horário entre 21h e 01h. Ele já não tinha tanta liberdade nessa emissora. Apenas no período da meia noite à uma da manhã havia espaço para uma programação mais pessoal, além de atender a pedidos dos ouvintes que chegavam via fax.
Entre 2001 e 2003, Kid Vinil teve uma experiência radiofônica do outro lado do balcão: ele dirigiu a Brasil 2000, mas devido a problemas internos, essa passagem não foi muito feliz. Ao site Rock em Geral, ele disse: “Uma das diretoras me chamou para ser o coordenador geral da rádio, e eu achei legal, ia ter toda a liberdade. Só que a rádio não dependia só dessa pessoa que me chamou, ela pertence a uma universidade e havia outras irmãs que ficam dando palpite. Cada uma gosta de uma coisa. Uma delas gostava de world music; a outra, de pop descartável. E, outra, que foi a que me chamou, mais de alternativo. E tinha um sobrinho que ficava minando o meu trabalho, querendo o meu lugar – e acabou conseguindo. Eles queriam que a rádio fosse da família, e acabou sendo, só que a família não conhece nada de música. Tiveram a oportunidade de ter credibilidade, mas minaram o meu trabalho. No primeiro ano deu certo, no segundo, quando eu comecei a ser afastado, a coisa degringolou”. Mesmo com tantos problemas, ele não deixou de fazer a sua autocrítica: “Hoje eu faria diferente. Na época, peguei pesado na coisa e fazer uma rádio alternativa. Muita gente até me criticou por isso. Deixei a rádio muito alternativa, fui com sede ao pote. Hoje eu faria uma coisa mais equilibrada, colocaria sucessos, clássicos do rock e as coisas mais alternativas, não seria tão lado B”. Uma pena que os personagens citados não foram nomeados.
Nos últimos tempos, Kid se dividiu entre a web rádio da Brasil 2000, até ela ser extinta, e a 89 FM, emissora onde tinha um programa semanal.
Para encerrar, deixo aqui uma lembrança inusitada de sua passagem pela Mix FM. Em uma bela noite, o áudio de um programa da Igreja Universal passou a vazar no ar. A reação de Kid Vinil foi impagável.
Morreu ontem, terça-feira, o guitarrista da banda Golpe de Estado, Hélcio Aguirra (na foto, à direita). Além da história no hard rock brasileiro, Helcio também faz parte da história do rádio.
O lendário prefixo da antiga 97 FM tinha sua guitarra. Foi feito pelo Golpe de Estado em parceria com Laert Sarrumor, do Língua de Trapo. Ouça abaixo:
O Energia na Véia, da Energia 97, é um dentre tantos que recebem visitas de ouvintes agendadas previamente. Em determinado momento, o apresentador Silvio Ribeiro abre espaço para os tradicionais abraços. Um deles, desavisado, foi mandar um “salve” para um amigo. Bem-humorado, Silvio o interrompe e diz: “Salve, não. Salve é na 105 FM, no Espaço Rap”. Ouça no player abaixo.