Por Rodney Brocanelli
Morreu nesta sexta-feira, o músico, radialista e apresentador Kid Vinil. No dia 19 de abril, ele passou mal em uma apresentação na cidade de Conselheiro Lafaiete (MG). Foi internado em um hospital municipal e depois transferido para o hospital TotalCor, em São Paulo. A causa da morte ainda não foi divulgada.
Como músico, ele fez parte das bandas, entre outras, Verminose e Magazine. Com esta última, conseguiu sucesso comercial na explosão do rock nacional dos anos 1980. Apesar dos hits “Sou Boy” e “Tic Tic Nervoso”, Kid não chegou a entrar para o panteão dos nomes clássicos daquela geração, como Renato Russo, Herbert Vianna, por exemplo. No entanto, foi no rádio onde ele conseguiu deixar a sua marca, influenciando uma grande parcela de ouvintes. Para isso, o apresentador se valeu de uma fórmula simples: ele procurava ser sempre didático. Sem enrolar muito, Kid informava ao ouvinte curiosidades e informações sobre a música ou banda que iria tocar.
No começo dos anos 1980, ele teve um programa na Rádio Excelsior FM (hoje CBN) chamado “Programa do Kid Vinil”. Em seguida, na mesma emissora, fez uma parceria com Leopoldo Rey para comandar o “Rock Sandwich”. Naquela época, a Excelsior tinha como diretor Maurício Kubrusly.
Antes do estouro com o Magazine, Kid passou pela Antena 1 FM, que era bem diferente daquela que está hoje no ar. Em 1986, voltou ao rádio, comandando um programa semanal na 89 FM. No começo da década de 1990, apresentou na Brasil 2000, ao lado de Mauro Beting, o semanal Digital Sessions. Era uma verdadeira anarquia, no bom sentido.
Talvez o grande momento de Kid Vinil no rádio começou na 97 FM, por volta do ano de 1993, quando comandou o diário “Patrulha Noturna”. Ele tinha quatro horas livres, ao vivo, a partir das 22h, para tocar aquilo que quisesse. Perdi a conta de quantas madrugadas eu ficava colado no meu aparelho de som, ouvindo a seleção musical de Kid, nem que isso significasse pouquíssimas horas de sono. O duro era levantar cedo para ir à aula, mas valia a pena. Naquela época, Kid começou a mostrar bandas que que seriam muito reconhecidas no cenário internacional. Uma delas era simplesmente o Oasis.
Em dezembro de 1994, a 97 FM abandonou o rock e se transformou em uma rádio de música eletrônica. Na época, o então diretor Lélio Teixeira (ele mesmo) disse à Folha de S. Paulo que o estilo não era mais viável comercialmente. Kid falou sobre isso numa entrevista à Rádio Onze, uma rádio livre ligada ao Centro Acadêmico da Faculdade de Direito-USP: “As pessoas querem que a coisa dê dinheiro, querem faturar e não sabem o que fazer. Na 97 FM aconteceu isso. Eles querem faturar, no entanto, ainda não conseguiram com o poperô. Acho que deveriam mudar para samba ou sertanejo. Se eles querem ganhar dinheiro, tem que ser com uma coisa bem brega mesmo, porque o popular é que dá dinheiro”. Vale lembrar que em 1999, a emissora adotou uma linha mais popular, ainda que por pouco tempo.
Kid não ficou muito tempo fora do ar e se transferiu para a Brasil 2000 no começo de 1995. Foi nela que ele passou a falar de uma banda que estava com uma grande repercussão na Inglaterra, comandada por uma vocalista de origem brasileira: o Drugstore, de Isabel Monteiro. Nesse período, ele passou a ter uma visão bem critica dos ouvintes de rock: “Quem gosta de rock eh um público pequeno, isso o rock de verdade. Tem cara que prefere comprar o disco para ouvir em casa a ouvir radio, eu conheço muitas pessoas que fazem isso e não estão nem aí para o fato de ter rádio tocando ou não. O público de rock é complicado de se trabalhar. Eu vejo pela Brasil 2000. A gente tem um número de ouvintes limitado. É uma coisa muito dirigida, quem gosta de rock é um outro publico. As pessoas que ouvem essas rádios mais populares gostam de qualquer coisa, não tem um gosto especifico”, disse ele em entrevista à Rádio Onze.
Depois de uma nova passagem pela 89 FM, em 1996, Kid foi para a então novata Mix FM no ano seguinte. Ela ainda não tinha se transformado em uma rádio pop e o apresentador ocupava o horário entre 21h e 01h. Ele já não tinha tanta liberdade nessa emissora. Apenas no período da meia noite à uma da manhã havia espaço para uma programação mais pessoal, além de atender a pedidos dos ouvintes que chegavam via fax.
Entre 2001 e 2003, Kid Vinil teve uma experiência radiofônica do outro lado do balcão: ele dirigiu a Brasil 2000, mas devido a problemas internos, essa passagem não foi muito feliz. Ao site Rock em Geral, ele disse: “Uma das diretoras me chamou para ser o coordenador geral da rádio, e eu achei legal, ia ter toda a liberdade. Só que a rádio não dependia só dessa pessoa que me chamou, ela pertence a uma universidade e havia outras irmãs que ficam dando palpite. Cada uma gosta de uma coisa. Uma delas gostava de world music; a outra, de pop descartável. E, outra, que foi a que me chamou, mais de alternativo. E tinha um sobrinho que ficava minando o meu trabalho, querendo o meu lugar – e acabou conseguindo. Eles queriam que a rádio fosse da família, e acabou sendo, só que a família não conhece nada de música. Tiveram a oportunidade de ter credibilidade, mas minaram o meu trabalho. No primeiro ano deu certo, no segundo, quando eu comecei a ser afastado, a coisa degringolou”. Mesmo com tantos problemas, ele não deixou de fazer a sua autocrítica: “Hoje eu faria diferente. Na época, peguei pesado na coisa e fazer uma rádio alternativa. Muita gente até me criticou por isso. Deixei a rádio muito alternativa, fui com sede ao pote. Hoje eu faria uma coisa mais equilibrada, colocaria sucessos, clássicos do rock e as coisas mais alternativas, não seria tão lado B”. Uma pena que os personagens citados não foram nomeados.
Nos últimos tempos, Kid se dividiu entre a web rádio da Brasil 2000, até ela ser extinta, e a 89 FM, emissora onde tinha um programa semanal.
Para encerrar, deixo aqui uma lembrança inusitada de sua passagem pela Mix FM. Em uma bela noite, o áudio de um programa da Igreja Universal passou a vazar no ar. A reação de Kid Vinil foi impagável.
Que seja bem recebido la encima aonde ele merece morar na vida espiritual, foi o ícone do Funk e Rock Roll tupininquim, só passou alegria aonde participava com suas músicas e fala de incentivo, vai fazer falta como recentemente o Jerry Adriani e Almir Guinetto.
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Gostava muito do seu trabalho. Descanse em paz !
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A música brasileira vai perdendo seus melhores representantes ,o que fica é o baixo clero bancado por emissoras FM.
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Triste demais a perda desse ser humano que só deixou um legado alegrias. Um dos precursores do rock nacional, como músico e radialista. R.I.P. Kid Vinil, Herói do Brasil!!!
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