Morre o narrador esportivo Flávio Araújo

Por Rodney Broocanelli

Morreu nesta terça (17) o narrador esportivo Flavio Araújo. A causa não foi informada. Velório e enterro aconteceram no mesmo dia, na cidade de São José dos Campos, onde viveu os últimos anos de vida. Ele tinha 90 anos.

Conhecido como o “narrador que anda em cima da bola”, Flávio não ficou limitado apenas ao futebol. Transmitiu modalidades como atletismo, boxe, basquete e F-1. Acompanhou os feitos de quatro grandes esportistas brasileiros: Pelé, Émerson Fittipaldi, Éder Jofre e Adhemar Ferreira da Silva (sem ordem de importância).

Como narrador, Flávio Araújo seguiu a escola de Pedro Luiz, fazendo uma narração descritiva do que acontecia em campo, nas quadras, no ringue ou mesmo nos autódromos. No entanto, ele se permitia usar alguns bordões, como o “colocou a deusa branca para fazer chuá”, logo após um lance de gol, ou o “o 10 está brilhando na camisa dele”.

Trabalhou na Rádio Bandeirantes a maior parte de sua carreira. Foram 25 anos não corridos entre 1957 e 1982. Em 1962, saiu integrar a equipe esportiva da Rádio Excelsior, mas ficou pouquíssimo tempo. Nos anos 1980, teve uma passagem marcante pela Rádio Gazeta, onde ao lado da Rádio Clube Paranaense, liderou a cobertura da Copa da Espanha, em 1982.

Foi comentarista na Rádio Central, de Campinas, ao lado de Carlos Batista. Por muito anos, manteve um quadro de opinião na Rádio Cultura, de Poços de Caldas, chamado O Positivo e o Negativo. A emissora é de propriedade do irmão Chico de Assis.

Também atuou na imprensa escrita, mantendo colunas nos jornais Agora (SP), do Grupo Folha( já extinto), O Imparcial, de Presidente Prudente (cidade onde nasceu) e no site Ribeirão Preto On Line. O Radioamantes republicou alguns desses textos. Basta clicar aqui e descer a barra (ou a tela) para ler. Em 2019, este blog abrigou algumas de suas manifestações em contrariedade a adaptação feita da vida de Éder Jofre para uma minissérie exibida pela Globo. Leia aqui e aqui. É autor do livro “O Rádio, o Futebol e a Vida”.

Em 2013, Flávio concedeu uma entrevista ao programa Radioamantes no Ar, da web rádio Showtime, na qual ele falou de vários aspectos de sua carreira. Um amigo desde site que se vai. Descanse em paz.

Pelé, o craque da era de ouro do rádio esportivo

Por Rodney Brocanelli

Morreu nesta quinta (29), Pelé. O atleta do século, o jogador que fez mais de mil gols em sua carreira, tricampeão mundial com a seleção brasileira de futebol, multicampeão com o Santos e o homem que foi chamado pelos americanos para ajudar a popularizar o futebol nos Estados Unidos. Ele estava internado no Hospital Albert Eintein, em São Paulo, desde o dia 29 de novembro, para tratamento de um câncer. Sua morte se deu às 15h37, devido à falência múltipla de orgãos, conforme comunicado assinado pelos médicos que cuidavam dele. Tinha 82 anos

Pelé explodiu para o futebol no final da década de 1950, uma época em que a televisão estava se estabelecendo no Brasil. Com isso, o rádio foi o principal veículo que propagou seus grandes feitos em quase 17 anos de carreira. As eras de ouro do rádio esportivo e de Pelé se misturaram.

A Copa de 1958, disputada na Suécia foi a oportunidade para que o mundo conhecesse Pelé e o que ele tinha a oferecer ao mundo de futebol. A competição foi acompanhada in loco e em tempo real pelo rádio. A seguir, destacamos seu primeiro gol na final contra os donos da casa, com a narração de Edson Leite, pela Rádio Bandeirantes.

Infelizmente não existe um registro do famoso gol de placa, que Pelé marcou contra o Fluminense, em pleno Maracanã no ano de 1961. Mas o som do rádio sobreviveu ao longo dos anos. Ouça a narração de Pedro Luiz, pela Rádio Bandeirantes. (Aliás, a ideia partiu do jornalista Joelmir Beting, admirado com a beleza do lance).

Em 1964, Pelé viveu um dia diferente no Santos. Ele marcou três gols na partida contra o Grêmio. Hoje, escreveriam e diriam que ele fez um “hat trick”. Depois, teve que ir para o gol em substituição a Gilmar, que havia sido expulso pelo árbitro. Ouça o registro da Flávio Araújo, pela Rádio Bandeirantes.

Outra emissora que acompanhou de perto a carreira de Pelé foi a extinta Super Rádio Tupi, de São Paulo. Ouça abaixo um dos gols da vitória contra o Palmeiras, pelo campeonato paulista de 1968 narrado por Haroldo Fernandes. A partida terminou 3 a 1 para a equipe santista.

A Super Rádio Tupi foi responsável por outra homenagem a Pelé. Logo após o gol 1000, a emissora decidiu entregar uma lembrança ao Rei do Futebol pelo gol 1040. Não foi por acaso. A emissora operava nos 1040Khz, em São Paulo. Lucas Neto um dos integrantes daquela equipe esportiva contou na Rádio Trianon os detalhes de como se deu todo o cerimonial, em uma partida na cidade de Erechim (RS). Seu colega Victor Moran foi o responsável por dar uma camisa especial a Pelé.

Outra tradição da Super Rádio Tupi era a entrega do Motoradio ao melhor em campo. Pelé ganhou vários deles e até por isso passou alguns de seus prêmios a colegas de Santos, como por exemplo Clodoaldo. Lucas Neto, também pela Rádio Trianon, é quem conta.

Os gols que Pelé não marcou foram, talvez, tão espetaculares quanto os que ele fez. Até hoje se fala na defesa do inglês Gordon Banks após uma cabeçada à queima roupa. Ouça a narração de Pedro Luiz, do pool de rádios paulistas que transmitiu a Copa de 1970.

Ouça abaixo o gol de Pelé na partida em homenagem a Garrincha, em 1973, com a narração de Armindo Antônio Ranzolin, na Rádio Guaíba, de Porto Alegre.

Mesmo que já encaminhando o encerramento de sua carreira na primeira metade da década de 1970, Pelé marcava seus gols importantes. Ouça abaixo um gol de Pelé em uma partida contra o Palmeiras, em 1974. Narração de Oswaldo Maciel, pela Rádio Gazeta.

Pelé fez a sua despedida do futebol brasileiro naquele mesmo ano de 1974, em uma partida do Santos, contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro. Ouça o registro da Rádio Bandeirantes, com Flávio Araújo e Fiori Gigliotti.

Pouco depois, já nos vestiários, ele responde brevemente a uma pergunta de um jovem Fausto Silva, então pela Rádio Jovem Pan. Registro da TV Gazeta.

O gol 1000 de Pelé já mereceu um post à parte do Radioamantes, com os principais registros de rádio para este grande momento da carreira do Atleta do Século.

Outras histórias de bastidores do gol 1040 podem ser vistas no post abaixo.

Luta de Éder Jofre deu audiência massacrante ao rádio

Por Rodney Brocanelli

O esporte brasileiro está de luto com a morte de Éder Jofre, aos 86 anos. Segundo o portal UOL, ele teve complicações decorrentes de uma infecção urinária e uma insuficiência renal aguda. Conhecido como Galo de Ouro, Éder foi três vezes campeão dos pesos pena e galo. Integra o Hall da Fama do boxe mundial e foi eleito o 9º melhor pugilista de todos os tempos pela revista estadunidense The Ring.

O público brasileiro acompanhou grande parte dos feitos de Éder Jofre pelo rádio. E em 1965 milhares de pessoas se reuniram em torno de aparelhos receptores para acompanhar a sua luta contra o oponente japonês Massahiko “Fighting” Harada, válida pelo cinturão dos galos, acontecida na cidade de Tóquio.

Não existem dados precisos, mas a audiência da Rádio Bandeirantes, de São Paulo, que liderou uma grande rede de emissoras espalhadas por todo o país, foi massacrante. A emissora enviou o narrador Flávio Araújo para essa cobertura.

“Foi um marco histórico nas transmissões esportivas. Não houve absolutamente nenhuma concorrência”, disse Flávio em uma entrevista ao programa Radioamantes no Ar, da web rádio Showtime, no ano de 2013. A ideia inicial era a de que ele tivesse companhia nessa transmissão. “Eu deveria transmitir em dupla com o Braga Jr. Eu pela Bandeirantes e ele pela Jovem Pan, que na época era Rádio Panamericana ainda”.

Uma mudança de planos da Panamericana fez com que Flávio ficasse sozinho. “Alguns dias antes, o Tuta, que é um cidadão bastante econômico, confiou no meu trabalho, nos dávamos bem nas conversações que tivemos, e ele achou que a transmissão deveria ficar somente a meu cargo. Nesse caso, houve um comando duplo: Bandeirantes e Panamericana, mas com apenas um locutor. Nem comentarista eu levei”, afirmou

Segundo Flávio, a Bandeirantes fez rede com 320 emissoras de todo o território nacional, mas esse número pode ter sido bem maior. “Presidente Prudente, por exemplo, recebia o som por linha, mas as emissoras da circunvizinhança entravam em cadeia para retransmitir o evento. Então é impossível sequer calcular o número de emissoras para retransmitir o evento”, disse.

Outro fator que favoreceu o rádio foi o fuso horário. “A luta chegou aqui às 08h da manhã, a luta seria à noite já no Japão”, falou Flávio.

Éder perdeu a luta para seu adversário, em uma decisão por pontos que foi bastante contestada na ocasião. Flávio acha que o brasileiro foi injustiçado: “Vi na luta uma vitória de Éder Jofre indiscutível. Ela tinha três jurados. Um era o jurado de ringue, que naquele tempo também participava da contagem e dava seus votos. Ele deu sua votação favorável ao Éder Jofre. Somente os dois jurados japoneses é que votaram no Harada. Eu trouxe o vídeo completo da luta, que foi exibido dias depois pela TV Record”.

A imagem da luta, vista pelos brasileiros, salvou Flávio: “Quando eu cheguei ao Brasil, os jornais todos estavam dizendo que eu cometi uma patriotada, que era comum nos locutores brasileiros que nós sempre deixávamos a verdade de lado para exaltar nossos valores e que eu dera a vitória ao Éder Jofre e que não era verdade. Depois que a TV Record passou a luta, com uma equipe de jurados independentes, ficou flagrante que o Éder havia vencido a luta, até com uma boa margem de pontos”.

Ouça abaixo o trecho da entrevista de Flávio Araújo. Hoje, aposentado, ele vive hoje em Poços de Caldas.

Batalha do Sarriá completa 40 anos; ouça narrações de rádio

Por Rodney Brocanelli (*)

O dia 5 de julho marcou uma das datas mais tristes na história da seleção brasileira de futebol. Jogando no estádio Sarriá, em Barcelona, os comandados de Telê Santana perdiam para a Itália pelo placar de 3 a 2 e davam adeus à Copa que no ano de 1982 era disputada na Espanha. Mesmo com as conquistas de 1994 e 2002, torcedores e jornalistas se perguntam até hoje sobre o que deu errado naquele dia. Bastava apenas um empate para que o Brasil chegasse às semifinais. Mas a Squadra Azurra apareceu pelo caminho. Além de adiar o sonho da conquista do título mundial, aquele resultado serviu para sepultar de vez a prática do futebol arte. Desde então, tivemos apenas alguns lampejos que apareciam de forma individual, graças ao talento de Romário e Ronaldo, cada um em sua época.

O blog Radioamantes leva você de volta ao dia 5 de julho de 1982. A nossa máquina do tempo é o rádio.

O quinto sinal da Rádio Bandeirantes marcava pontualmente 12h15, 16h15, horário local. Fiori Gigliotti anuncia o início da partida.

Para espanto geral, a Itáia saia na frente, logo aos 4 minutos de partida. Defesa brasileira vacilou. Paolo Rossi marcava, de cabeça. José Silvério estava na Jovem Pan.

A resposta brasileira não tardou. Sócrates recebeu um belo lançamento de Zico e avançou até entrar na área. O goleiro Dino Zoff tentou fechar o ângulo. Mas o Doutor, com o sangue frio que lhe era pecuilar, mandou para o gol. Osmar Santos narrou esse lance na Rádio Globo.

Mas Paolo Rossi se aproveitava mais uma vez de uma falha da defesa brasileira para marcar o segundo gol da Itália. O lance pegou muita gente desprevenida. José Silvério narrou esse lance na Jovem Pan.

No segundo tempo, o Brasil veio com tudo para tentar ao menos o empate. Falcão, na época o Rei de Roma, mandou um belo chute de média distância. E um detalhe que a televisão não mostrou: Cerezo, um dos responsáveis pelo lance que originou o segundo gol da Itália, chorou de emoção. José Silvério observou bem esse detalhe na Pan.

Armindo Antônio Ranzolin traduziu na Rádio Guaíba todo o orgulho pelo gol do “compatriota” Falcão.

E mais: a emoção de Willy Gonser, enaltecendo o corta luz de Cerezo, pela Rádio Itatiaia.

Mas aquela não era a tarde do Brasil. Em um escanteio aparentemente inofensivo, a Itália chegaria ao seu terceiro gol. Mais uma vez, Paolo Rossi. Flávio Araújo, então na Rádio Gazeta (SP) não escondeu a decepção.

Na Rádio Nacional, o garotinho ligeiro José Carlos Araújo ficou de queixo caído com o gol de Rossi.

O Brasil quase conseguiu o empate em uma cabeçada do zagueiro Oscar. O goleiro Dino Zoff operou um verdadeiro milagre. José Carlos Araújo, na Rádio Nacional, viu essa bola no gol.

Não teve jeito para o Brasil. O árbitro israelense (o Wikipedia diz que ele tem também nacionalidade romena) Abraham Klein apitou o fim de jogo. A perplexidade tomava conta da torcida brasileira. Fiori Gigliotti traduzia bem esse sentimento na Rádio Bandeirantes.

Passado o impacto da derrota, nada melhor que uma avaliação fria para se concluir em que a seleção brasileira errou. Eis a palavra de João Saldanha, então na Rádio Tupi. A metáfora do macaquinho é impagável.

(*) post atualizado e republicado. O original foi divulgado há dez anos (veja aqui). Estamos mesmo ficando velhos.

Flávio Araújo, 87

Por Rodney Brocanelli

E a festa não para. Ontem comemoramos o aniversário de Osmar Santos. Hoje é a vez de transmitirmos os parabéns para Flávio Araújo, narrador esportivo que defendendeu por muitos anos o microfone da Rádio Bandeirantes, de São Paulo. Além disso, ele teve passagens pela Rádio Gazeta e Rádio Central, de Campinas (aqui como comentarista). Flávio está na ativa,  participando da programação da  Rádio Cultura, de Poços de Caldas (MG), sempre com um comentário a respeito dos temas da atualidade. A emissora é de propriedade de seu irmão, Chico de Assis.

Flávio Araújo seguiu a escola de Pedro Luiz, fazendo uma narração descritiva do que acontecia em campo, nas quadras, no ringue ou mesmo nos autódromos. No entanto, ele se permitia usar alguns bordões, como o “colocou a deusa branca para fazer chuá”, logo após um lance de gol, ou o “o 10 está brilhando na camisa dele”.

Seu período na ativa como narrador esportivo coincidiu com o auge de pelo menos quatro grandes esportistas da história do Brasil: Adhemar Ferreira da Silva, Éder Jofre, Pelé e Émerson Fittipaldi. Flávio usou sua voz para propagar os feitos deste quarteto de ouro aos quatro cantos deste país.

Vamos relembrar aqui algumas de suas narrações. Flávio Araújo narra uma luta de Éder Jofre contra Danny Kid, no ginásio do Ibirapuera. O ano é 1959.

Em 1982, a Gazeta, então comandada por Flávio Araújo, se associou com a antiga Rádio Clube Paranaense, liderada por Lombardi Jr, para a cobertura da Copa da Espanha. Essa dobradinha fez muito sucesso na época.

Em 30 de Março de 1980, Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória na Fórmula 1. Narração de Flavio Araujo pela Bandeirantes.

Flávio foi um dos privilegiados que teve a oportunidade de narrar o milésimo gol de Pelé

Uma edição de seu “O Positivo e o Negativo”, na Rádio Cultura, de Poços de Caldas.

Flávio Araújo foi um dos entrevistados do Radioamantes no Ar, sempre apresentado pela web rádio Show Time.

Graças a uma colaboração de Celso Casemiro, do Memorial Hélio Ribeiro, recuperamos o trecho de um programa do apresentador veiculado em 1976, as vésperas do GP de Monza de Fórmula 1, que seria disputado em 12 de setembro daquele ano. Para lá, a Rádio Bandeirantes enviou o narrador Flávio Araújo, que iria transmitir a corrida ao lado do comentarista Edgard Mello Filho. Neste áudio, Flávio Araújo inicia fazendo seu boletim com informações acerca do clima em Monza. Logo em seguida Hélio começa a fazer perguntas sobre o calor, sobre o câmbio, diárias de hotel, as músicas que tocavam nas emissoras locais de rádio e do desempenho dos pilotos brasileiros da época: Émerson Fittipaldi e José Carlos Pace.

Ouça o compacto da transmissão de São Paulo x Portuguesa, de 1977, pela Rádio Bandeirantes.

Para encerrar, Flávio Araújo narra o gol de Pita, pelo Santos, na primeira partida da decisão do campeonato brasileiro de 1983.

flavioaraujo

Memória: Hélio Ribeiro e Flávio Araújo batem bola no ar sobre o GP de Monza de 1976

Por Rodney Brocanelli

Graças a uma colaboração de Celso Casemiro, do Memorial Hélio Ribeiro, o Radioamantes recupera o trecho de um programa do apresentador veículado em 1976, as vésperas do GP de Monza de Fórmula 1, que seria disputado em 12 de setembro daquele ano. Para lá, a Rádio Bandeirantes enviou o narrador Flávio Araújo, que iria transmitir a corrida ao lado do comentarista Edgard Mello Filho. Neste áudio, Flávio Araújo inicia fazendo seu boletim com informações acerca do clima em Monza. Logo em seguida Hélio começa a fazer perguntas sobre o calor, sobre o câmbio, diárias de hotel, as músicas que tocavam nas emissoras locais de rádio e do desempenho dos pilotos brasileiros da época: Émerson Fittipaldi e José Carlos Pace. Ouça abaixo.

helio ribeiro flavio araújo

 

Narrador Flávio Araújo volta a escrever sobre minissérie 10 Segundos Para Vencer

Por Flávio Araújo  (*)

UMA VERDADE EM TROCA DE OUTRA MENTIRA

Sou obrigado a voltar dando uma continuidade ao meu artigo anterior com o título acima. Em primeiro lugar para um pedido de desculpa. Errar é humano e persistir no erro é burrice. E ser burro é algo onde nunca me inseri. Grazie a Dio. Acontece que vi a minissérie da Globo, feita por meu xará Flávio, o Tambellini, na casa de meu filho Helder, que por sinal tem um blog de nome “Debate Político” com bom número de seguidores. O Helder é um pianista do primeiro time. Basta dizer que em suas teses de mestrado e doutorado na USP seus orientadores foram ninguém menos que JOSÉ EDUARDO MARTINS, irmão mais novo do tributarista IVES GANDRA MARTINS e o outro orientador o maestro JOÃO CARLOS MARTINS, irmão mais novo do José Eduardo. Este vai gravar no próximo mês de maio seu 25º álbum de músicas eruditas. Como sempre vai gravar na Europa. Só grava na Bélgica ou na Bulgária. Lógico que não sou um entendido em música clássica para comentar o que posso, por exemplo, conhecer e me aprofundar em dizer que o Pelé foi o maior do mundo e julgo que jamais aparecerá outro igual. Maradona foi outro craque excepcional, mas para competir com ele, ou com Messi, eu deixo a incumbência para o Rivelino, o Zico… o Tostão, ou mais meia dúzia pelo menos de grandes jogadores brasileiros, Neymar entre eles. A Copa São Paulo mostra que o futuro do futebol no Brasil está garantido, apesar de vendermos laranja ainda no pé. Sim, gosto muito de ouvir Mozart e Chopin e conheço música pelo que meus ouvidos se deleitem. Mas, gosto mesmo é de ouvir os velhos discos do Orlando Silva, o maior cantor que o Brasil já teve. E não discutam comigo que tenho mestre RUY CASTRO ao meu lado. José Eduardo Martins, estava dizendo, já ultrapassando os oitentinhas continua sendo um grande pianista e João Carlos Martins que foi considerado o maior interprete de BACH do planeta, por circunstâncias que todo mundo conhece, teve que deixar o piano e se dedicar a regência. Continua brilhando. Mas, é midiático, o que não acontece com seu irmão que prefere a solidão do seu Brooklin, meu último endereço em São Paulo –fomos vizinhos – e onde o visitei ainda recentemente.

A CORREÇÃO DE UM LAPSO MEU

Pois muito bem, fazendo estas ressalvas eu via a minissérie da GLOBO na casa de meu filho Helder, na Chácara Inglesa em São Paulo e este trabalhando ao piano me pede para baixar o som da tevê. Devo dizer que sofro de um trauma acústico que me provoca um zumbido tremendo nos ouvidos e, inclusive, alguma deficiência auditiva. Pelo uso dos fones em volume muito alto durante os mais de 50 anos de transmissões esportivas. E foi exatamente nesse momento que perdi a sequência que a tevê mostrava e não vi que passaram (embora só um pedacinho, vi depois no Globoplay) a luta de EDER JOFRE e do nocaute diante de ELOY CHAVES em 18 de novembro de 1960 quando o brasileiro conquistou seu título de campeão mundial dos galos. Mundial, sim, mas que depois foi contestado pela versão europeia que apresentou um novo campeão, o irlandês Johnny Caldwell, o “Johnny Boy” que Eder derrotaria algum tempo depois na reunificação dos títulos no Ibirapuera em São Paulo. Em verdade foi muito mais fácil ganhar do chamado “irlandês de gelo” do que derrotar os duríssimos mexicanos. Então, me desculpo do que escrevi de passagem, mas imediatamente me ponho em guarda, de pé e a ordem e parto para um “touché” final.

AS MAIS BERRANTES MENTIRAS NO FILME E NA SÉRIE DA GLOBO

Aristides Jofre, o pai e técnico de Eder realmente fumava em demasia. Acendia um cigarro no outro. Mas, jamais maltratou ou foi rude com seu filho. E preciso dizer que o papel desempenhado pelo veterano OSMAR PRADO na filmagem de Tambellini é simplesmente sensacional, espetacular! Vale o trabalho. Mas, KID JOFRE não sofreu nenhum princípio de infarto ou coisa que o valha que o levasse ao chão do Ginásio de Brasília durante a luta de EDER com JOSÉ LEGRÁ e no decorrer do 14º round. O que mostra um sensacionalismo exagerado e o que é pior, mentiroso. Kid, que viria a morrer no ano seguinte permaneceu no Ginásio até o fim da luta e seguiu orientando o filho, principalmente depois desse penúltimo assalto em que Eder foi realmente a nock-down e foi salvo pelo gongo antes que se iniciasse a contagem. Mas Eder jamais disse a frase “cadê meu pai” quando a personagem de Tonico Zumbano vem orientá-lo no filme e na tevê. Porque quem o fazia era o próprio Kid. Tonico Zumbano, o “Zumbanão” que fica como um substituto do cunhado e no filme vai gritar com Eder nesse momento fulcral do combate. Falso. Na minha lembrança Zumbanão, o soco mais forte da maior dinastia de uma família no boxe brasileiro nem estava em Brasília. Antonio João Oliveira, genro e Andréia, a filha mais nova de Eder não se lembram se estava ou não. Assim como confirmam que viram o filme antes de seu lançamento à convite da Globo, mas de uma forma diplomática e formal aprovaram o seu conteúdo que agora também contestam. O filme estava pronto e lhes foi mostrado sem nenhum pedido de aprovação ou não. Existem outros sensacionalismos explícitos como a esposa de Eder ser apresentada com um barrigão de grávida nas lutas contra Harada, no Japão (1965 em Nagoya e 1966 em Tóquio) quando Marcel, o filho mais velho estava presente, sua mãe, Cidinha também, mas Andréa só veio ao mundo em 17 de agosto de 1968, portanto, dois e três anos depois das históricas lutas no país do sol nascente. Cidinha, que faleceu em 10.05.2010,também jamais pediu a Eder que deixasse o boxe. Sempre o apoiou de forma entusiástica. E outra terrível maldade do filme e que deixou a família revoltada. Cidinha era uma jovem tímida, operária numa tecelagem e jamais que seu primeiro encontro com Eder tenha sido num frege onde Zumbanão ia em busca de aventuras sexuais. Estes fatos me permitiram, inclusive, no último sábado, dia 19 de janeiro falar com o próprio Eder que se não se lembrou da presença do tio Tonico Zumbano em Brasília, mas para minha alegria lembrou-se do velho locutor e lágrimas correram de seus olhos segundo relato de seu genro Antonio João. Como complemento deste trabalho e como testemunho da verdade confirmo que KID JOFRE deixou este plano em 1974, Dogalberto, o irmão número 2 da família faleceu em 1973 e compareci ao seu sepultamento no cemitério do Chora Menino em São Paulo onde estão todos da dinastia JOFRE/ZUMBANO que já partiram. Eder sempre teve um lado espiritualista e no triste momento que se vivia no sepultamento do irmão, sorrindo apontou para o alto da capela dizendo que o Doga estava lá, como sempre rindo e procurando alegrar a todos. Nesse capítulo agrego que alguns anos após a morte de KID o médium Chico Xavier recebeu do mesmo uma mensagem psicografada, informação que recebi diretamente da família, e na mesma o grande médium recebia palavras de incentivo a Eder pedindo que continuasse sempre trilhando os caminhos do bem, ajudando o próximo e mantendo a honestidade que a família sempre pautou. O outro irmão de Eder, Mauro, que só lutou entre amadores faleceu em 1963, ainda jovem e Ralf Zumbano, que disputou as Olímpiadas de 1948, grande peso-médio não foi sequer citado na filmagem. Como Eder, Ralf também foi vereador em São Paulo e deputado estadual paulista. São fatos que devem ser restabelecidos e são mentiras que não podem deixar de ser desmentidas e se tomo esse caminho é por considerar que o respeito à verdade em acontecimentos tão marcantes na vida brasileira não podem ser deturpados por uma visão comercial e fantasiosa buscando e colocando acima do real a ilusão farsesca que chama mais atenção. Quem viver verá o que se poderá falar no futuro de um Pelé e espero que haja então algum jornalista ou radialista que como eu, viu Pelé e Eder Jofre iniciarem e terminarem suas gloriosas trajetórias no esporte não só para recuperar imagens, mas principalmente para restabelecer a verdade verdadeira dos fatos.

(*) Texto publicado no blog Radioamantes a pedido do próprio autor.

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Narrador Flávio Araújo contesta fatos apresentados em minissérie sobre Éder Jofre

Por Flávio Araújo, especial para o jornal O Imparcial, de Presidente Prudente (*)

UMA MINISSÉRIE PRÁ LÁ DE MENTIROSA

A Rede Globo exibiu há poucos dias, ente 8 e 11 últimos em quatro capítulos, de terça a sexta-feira, uma minissérie tendo por base a carreira de EDER JOFRE, o maior pugilista brasileiro de todos os tempos e o melhor peso-galo da história do boxe em todo o planeta na opinião oficial dos pesquisadores norte americanos. Infelizmente o que o público brasileiro viu está longe de refletir com justiça e mesmo no aspecto moral o que foi a trajetória desse grande atleta. É preciso, antes de tudo, realçar que o boxe hoje perdeu aquela condição de ser a chamada “nobre arte” que tinha no passado. O boxe era um esporte que, se não podia deixar de lado o seu teor de violência, tinha uma visão artística inegável com os bailarinos no tablado como o próprio Eder, ou em escala maior os norte-americanos Cassius Clay ou “Sugar” Robinson, os meus eleitos na vanguarda da beleza desse esporte. A violência das lutas de hoje desse MMA mataram o boxe. Mas, o que se vê nessas disputas onde o Brasil ainda tanto se destaca não pode na minha ótica ser considerado como um esporte no sentido olímpico do termo.

A MINISSÉRIE DA GLOBO

Bem, devo dizer que fui convidado pela empresa que fez o longa metragem e a minissérie para participar dos mesmos e não pude atender o convite. Foi exatamente no período em que minha mulher, Yvette Pinheiro de Araújo, estava hospitalizada e veio a falecer. Morava então em São José dos Campos e hoje gozo as delícias do ar puro e clima agradável de Poços de Caldas mesmo no verão que esturrica o país. Assinei então uma concordância em que usassem minhas narrações para constar da produção e sei que não se pode falar na carreira desse artista dos ringues (Eder era também um desenhista de belíssimos traços em nanquim) sem mencionar a minha presença já que narrei a maioria de suas lutas como também, segundo o Milton Neves, fui o locutor que mais transmitiu os gols de Pelé. Desculpem a ausência de modéstia de quem começou irradiando os jogos de Corinthians e Prudentina na então PRI-5 de minha cidade natal que amo e que, mesmo lá não residindo, está sempre presente em meu coração prudentino. Muito me orgulho do imerecido título de “cidadão benemérito” de minha terra. Deixa isso prá lá e vamos em frente. Sei muito da trajetória de Eder. O porquê? Quando Pedro Luiz e Mário Moraes deixaram a Bandeirantes e senti que poderia ser também o locutor titular de boxe fui procurar Kid Jofre na sua Academia, na rua Santa Efigênia e que era patrocinada pelo São Paulo F.C.. Subi ao ringue e fiz um treinamento de aprendizado com o próprio Eder.

EDER JOFRE NASCEU NUMA ACADEMIA DE BOXE

Agrego que Eder nasceu na primeira academia dirigida por seu pai e que ficava na rua do Seminário, no centro de São Paulo. A partir do que narro nos tornamos grandes amigos e durante muitos anos, praticamente todos os meses, ficávamos um largo tempo ao telefone. Eu telefonava num mês no outro ele me procurava. Eder recorria ao velho Flávio para recordar muita coisa que já não estava por último em sua memória e que para mim é algo como se os vivesse agora. Mesmo com o peso de tantos anos tenho uma memória de elefante. Era o prenúncio do mal que o acomete no presente. Uma encefalopatia traumática e que no passado era conhecida como demência pugilística. Não se trata de Alzheimer segundo a família. Milton Rosa, Fernando Barreto e Paulo de Jesus, grandes pugilistas brasileiros nas décadas de 1960/70 sofreram desse mal. Está muito em voga nos Estados Unidos por estar vitimando jogadores do futebol americano. E também aqui no Brasil pelos choques cabeça-cabeça entre os profissionais de nossos gramados. Bellini o grande capitão do primeiro mundial da FIFA que o Brasil conquistou deixou em testamento seu cérebro para estudos na medicina da USP. Mas, voltando ao programa da Rede Globo este foi construído em cima de sucessivas mentiras. As lutas ali exibidas, contra Medel e contra Legra são figurações com sósias dos lutadores de então. E a narração que consta nos créditos como sendo minhas e do Pedro Luiz não são de nenhum dos dois. O locutor que as profere, de boa qualidade, deve ter escrito as minhas narrativas e decorado ou lido na hora do trabalho. Usa também as minhas frases e minha inflexão. Do Pedro Luiz, que considero o maior locutor esportivo do Brasil em todos os tempos não tem absolutamente nada. Pedro nos deixou há muito tempo.

KID JOFRE JAMAIS FOI AGRESSIVO COM EDER

Aristides Jofre jamais foi um carrasco para Eder como no filme é mostrado. Tinha, sim, seus momentos de azedume, mas era um admirador do filho e um homem de bom trato. Como Eder, era um gozador e piadista inveterado e jamais trataria um pupilo, ainda mais sangue do seu sangue e sua maior esperança de sucesso como técnico de boxe e de ganhar um título mundial. Kid Jofre, antes de vir para o Brasil ordenhava vacas leiteiras em San Justo, ao sul de Buenos Aires. Os empresários de Eder jamais foram malandros como o filme quer exibir e o grego/americano George Parnassus jamais teria declarado que só pagaria 10% da bolsa combinada se Eder, na luta contra Medel, caísse antes do 5º assalto e não houve em momento algum aquela ironia dos jornalistas norte-americanos menosprezando o lutador brasileiro, chamando-o de gorila principalmente por parte de Parnassus, que já tinha vindo ao Brasil para vê-lo em ação e sabia de seu valor. Pura exploração de um desenfreado sensacionalismo.

O ABSURDO DOS ABSURDOS!

E pasmem! Absurdo dos absurdos. Eder não ganhou o título mundial dos galos na luta contra Medel como insinuam os filmes. O campeão era Joe Becerra, também mexicano e estava acertado que Eder e Medel competiriam para saber quem teria o direito de desafia-lo. Acontece que Becerra nesse Ínterim perdeu o título mundial para o desconhecido Eloy Sanchez, outro mexicano e tiveram que reformular a ordem geral e a luta entre Eder Jofre e Joe Medel classificaria um dos dois para lutar contra Eloy Sanchez, o que aconteceu no dia 18 de novembro de 1960 no Olympic Auditorium, de Los Angeles, onde também Eder nocauteara Medel, ambos os duelos presenciados por 10 mil mexicanos entusiasmados e por meia dúzia de brasileiros que para lá viajaram. No filme e na minissérie Eder é anunciado pelo locutor como desafiante quando o que havia em seguida seria um duelo classificatório para que o vencedor realmente adquirisse condição de desafiar depois o campeão. Considero que a minissérie não fez justiça a grande família dos Jofre/Zumbano, a maior dinastia do boxe que o Brasil já teve e que nenhum país do mundo jamais terá e se dou esse testemunho nestes escritos é para que as gerações atuais que sequer conheceram Pelé e muito menos a Eder Jofre saibam que houve um dia em nossas plagas um craque vestindo luvas e esgrimindo no tablado como um Nijinski, Nureyev ou Baryshnikov. Irradiei também as lutas desse gênio da então nobre arte no Japão em 1965 e 66 e a primeira é até hoje o recorde brasileiro de audiência numa única transmissão esportiva. Eder era um peso galo com “pegada” de peso médio e que depois em 1973, já com 37 anos, conquistou ainda o título mundial dos penas em combate histórico travado em Brasília diante do cubano naturalizado espanhol, José Legra, também um fora de série, mas que foi vencido de forma inexorável pelo talento de nosso maior craque dos ringues de ontem, hoje e amanhã.

(*) Texto publicado no blog Radioamantes a pedido de seu autor

flávio araújo eder jofre

Memória: Mário Vianna comentando na Rádio Bandeirantes

Por Rodney Brocanelli

No dia 14 de dezembro de 1963, o Palmeiras vencia o Corinthians pelo placar de 5 a 2 e seguia tranquilo rumo ao título de campeão paulista daquele ano. Flávio Araújo narrou essa partida pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo. A curiosidade radiofônica fica para a participação de Mário Vianna (Vianna com dois enes), célebre comentarista de arbitragem de emissoras do Rio de Janeiro (e ex-árbitro) no registro de um dos gols corinthianos, o segundo, marcado por Lima. A intervenção de Vianna era pertinente: o auxiliar Germinal Alba (não citado na narração) levantou a bandeirinha indicando impedimento do atleta do Corinthians. O árbitro Armando Marques validou o gol. A edição do dia 5 de dezembro de 1963 do jornal O Estado de S. Paulo, por sua vez, disse que não houve impedimento. Vamos ficar com essa dúvida, pois até agora não foram encontradas imagens dessa partida.

Chama a atenção essa participação de Mário Vianna (Vianna com dois “ennes”) na transmissão da Rádio Bandeirantes. Em 1963, ele atuava na Rádio Guanabara. Naquela época, a emissora fazia rede com a Bandeirantes para a transmissão do tradicional jornal Primeira Hora.  Alguns anos antes, em 1957, Vianna (com dois enes) trabalhou na cidade de São Paulo como treinador do Palmeiras, em uma breve passagem. Ouça abaixo o registro de Mário Vianna na Rádio Bandeirantes.

Mario Vianna

Memória: ouça o milésimo gol de Pelé com Pedro Luiz e Juarez Soares

Por Rodney Brocanelli

Nem é necessário falar muita coisa sobre o milésimo gol de Pelé, marcado em cobrança de pênalti, numa partida contra o Vasco da Gama. Já são famosas as narrações de Flávio Araújo, Joseval Peixoto e Waldir Amaral que, graças à Internet, se tornaram conhecidas com o passar dos anos. Hora de acrescentar o registro da narração de Pedro Luiz, então na Rádio Nacional , de São Paulo (hoje Rádio Globo). O repórter desta transmissão era Juarez Soares. Ouça abaixo.

pedro luiz

Foto extraída do site de Milton Neves

Morre Yvette Pinheiro, a “rainha da Fada”, do rádio de Presidente Prudente

Morreu nesta sexta-feira, Yvette Pinheiro, que foi um dos grandes destaques do rádio de Presidente Prudente. Ela começou na Rádio Prudente, de forma precoce, já fazendo participações em rádio-novelas aos 3 anos de idade. No entanto, ninguém melhor para falar sobre ela que seu esposo, Flávio Araújo, narrador esportivo de destaque no Escrete do Rádio, da Bandeirantes, entre os anos 1950 e 1980. O texto abaixo é de sua autoria (Rodney Brocanelli).

YVETTINHA PINHEIRO, A RAINHA DO RÁDIO PRUDENTINO

Eis que para minha surpresa ela apareceu como em um sonho maravilhoso no palco do auditório da Universidade Toledo de Ensino. Era a entrega do troféu Heitor Graça naquele ano de 1982. Surpreso, sentado entre os contemplados pela iniciativa deste jornal, fiquei simplesmente deslumbrado com a extraordinariamente bela figura de Yvette Pinheiro, para mim desde quando a conheci, a Yvetinha. Deslumbrante na declamação de “Gracias a La Vida” de Violeta Parra, seria ela a apresentadora do evento numa escolha de felicidade extraordinária deste jornal e para completar algo que o Céu estava tecendo. Apertei o braço de Cesar Cava, sentado ao meu lado e não resisti: “como Yvetinha está linda” – foi o que falei para concordância do poeta que também receberia o troféu. Não nos víamos, Yvettinha e eu, há decênios. Depois da beleza da cerimônia que ela comandou com a classe de sempre houve um jantar no Hotel Aruá onde trocamos algumas palavras. Eu, separado recentemente da mãe de meus filhos, ela, já há alguns anos divorciado de Celestino Nascimento, seu primeiro marido. A empatia já existia desde que trabalhamos juntos no rádio da cidade. Algo mais passou a existir a partir daquela noite e que se consolidou quando fomos jantar na casa do Adelmo Vanalli. Deodato e Mário também lá estavam. Só pude me casar com Yvetinha em 1987 pois, com as leis de então um casamento de divorciado só se fazia depois de alguns anos. Nossa união nasceu no Alto e sei por informação de quem entende e conhece a doutrina que somos almas gêmeas. Quando a terapeuta me fez essa revelação informou-me que ela estava deixando este plano. Falei que iríamos juntos e a Dra. Ellen me informou que ela iria antes. Mas, nos encontraríamos lá no Alto. Não sei se mereço segui-la pelos caminhos de Deus que ela, tenho certeza, pronto estará percorrendo. Quem sabe a bondade da providência Divina me proporcionará tal felicidade. Mas, olhando o passado e sabendo de tudo o que de bom ela fez sei que estou longe de poder alcançá-la. Lutarei para tanto com essa força que o Senhor está me dando neste momento de minha vida. Yvette Pinheiro, o maior nome feminino que o rádio de Prudente já revelou foi ensinar psicologia no conceituado Colégio Nossa Senhora Aparecida, de freiras franciscanas, em São Paulo e suas alunas se uniram nestes dias para orar por ela. Deixa um imenso acervo de trabalhos psicografados de Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Catulo da Paixão Cearense, Gonzaguinha e Gonzagão e tantos outros. Inclusive o livro editado “O vôo não terminou”, recebido de meu filho Flávio que partiu naquele acidente da TAM em 1996 e onde ele narra, pelas mãos benditas de Yvetinha suas atividades como Espírito Socorrista. O rádio nem sabe o que perdeu. Mas eu sei o que perdi. O Araújo que ela colocou em seu nome foi minha maior conquista. Yvette transformou o outono de minha vida em uma colorida e perfumada primavera. Espere por mim, meu biscuit, que não demorarei a encontrá-la. Deus o permitirá.

 

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Memória: relembre algumas narrações de Flavio Araújo na Rádio Gazeta (SP)

Por Rodney Brocanelli

Flávio Araújo é um nome conhecido dos bons tempos do Escrete do Rádio da Rádio Bandeirantes, entre os anos 1960 e 1980. Ele dividia as narrações dos principais jogos com Fiori Gigliotti e ainda era escalado para a transmissão de outros esportes, como boxe e Fórmula 1. Em 1981,  Flávio encarou um novo desafio em sua carreira, comandando a equipe esportiva da Rádio Gazeta. Lá, ele participou de uma grande cobertura, a da Copa de 1982, na Espanha, em rede com a antiga Rádio Clube Paranaense (hoje B2), de Curitiba. Flávio deixou a Gazeta em 1985. Após uma breve passagem pela Federação Paulista de Futebol, foi para Campinas e lá atuou como comentarista em emissoras como a Central.

Vamos destacar aqui três momentos de Flávio na Gazeta. O primeiro é o gol de Eder na partida entre Brasil x URSS, válida pela Copa da Espanha. O gol da virada da seleção canarinho.

Outro gol daquela mesma Copa, mas desta vez não muito agradável para os brasileiros. Flávio narra o terceiro gol da Itália na partida contra o Brasil, marcado por Paolo Rossi.

Para encerrar, Flávio Araújo narra o gol de Pita, pelo Santos, na primeira partida da decisão do campeonato brasileiro de 1983.

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Radioamantes no Ar fala sobre a crise da Rádio Tupi (RJ)

Nesta semana, o Radioamantes no Ar falou sobre a crise da Rádio Tupi (RJ) que parece não ter mais fim. Somente na semana que passou, vários profissionais foram demitidos. A situação lembra muito o que aconteceu com as emissoras de tv dos Diários Associados no começo da década de 1980. Outros assuntos: os jogos olímpicos pelo rádio e o registro dos aniversários de nomes históricos do rádio esportivo: Osmar Santos e Flávio Araújo. O Radioamantes no Ar é veiculado todas as sextas, sempre a partir das 09h pela web rádio Showtime (http://showtimeradio.com.br). Com Rodney Brocanelli, João Alckmin e Flávio Ashcar.

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Pagando pode, não pagando, não, por Flávio Araújo

Ainda sobre a questão envolvendo os problemas entre CBF e repórteres de rádio, trazemos aqui um artigo escrito por Flávio Araújo e publicado no site Ribeirão Preto On Line. Narrador esportivo, com serviços prestados a emissoras como Bandeirantes e Gazeta, Flavio  viveu os áureos tempos em que o veículo reinava quase soberano no que dizia respeito à cobertura dos jogos de futebol.  No texto, ele relata fatos que viu de perto ou vivenciou. E mesmo naqueles tempos, os repórteres de rádio vivam dificuldades para trabalhar. Texto reproduzido com permissão do autor (Rodney Brocanelli).

Meu estimado amigo Nagib Pachá Junior é um atento observador das coisas do futebol e de suas ligações com as transmissões radiofônicas.

Devo a ele o envio de interessante matéria assinada pelo jornalista e estudante de direito Bruno Henrique de Moura, publicada no Observatório da Imprensa, do grande Alberto Dines, um mestre de todos nós e tomo a liberdade de reproduzir parte da mesma que julgo de bastante interesse do público em geral.

O PROTOCOLO DA CBF PARA A IMPRENSA

“A televisão revolucionou a forma de se ver e fazer futebol na imprensa.

Ela possuía a imagem.

Contudo, a áurea da transmissão no rádio nunca foi superada pelas cores e replays de uma voz marcante e sedutora que lhe faz fechar os olhos e criar através dos neurônios aquele fantástico ambiente e a cena que move a imaginação da jogada, do passe, do escanteio e do momento de glória de quem joga futebol, de quem transmite futebol e de quem ouve futebol: o gol.

Mas, a televisão trouxe algo que o rádio não consegue superar.

Os milionários valores por direitos de transmissão e as cotas publicitárias galopantes.

Eis o grande problema dessa relação: as finanças.

O fabuloso mundo do futebol encantou-se pelos luxos e valores astronômicos que hoje são pagos para um atleta, para um diretor, para um técnico.

O jogador do sub-15 recebe mais dinheiro por mês que este humilde jornalista esportivo ganha num ano.

O futebol encareceu, 200 milhões de direitos de transmissão por uma temporada, por 12 meses, para um clube.

Quem paga leva para jantar, dá flores, champanhes, bombons, se sente no direito de pedir algumas regalias da sua companheira de mesa, que acaba por desejo e necessidade, por perder as regalias do amante.

É penoso, doloroso e difícil de aceitar, acaba por acatar.

No dia 20/05/2016 a CBF publicou no seu site oficial o protocolo da imprensa e acesso ao gramado das séries A e B do campeonato brasileiro.

Entre as diversas regras colocadas algumas dizem respeito diretamente ao trabalho dos antigos “maridos” do futebol, os jornalistas de rádio.

As famosas entrevistas à beira do gramado no pré-jogo ou no intervalo não poderão ser mais feitas pelos repórteres de rádio.

Apenas a televisão, detentora dos direitos terá tal direito.

No único momento permitido para as emissoras de rádio, o final da partida, os repórteres, como mostra o artigo 49 combinado com inciso II do artigo 47 devem aguardar na aconchegante zona mista com grades, expediente adotado em muitos estádios também durante o jogo, em que os repórteres ficam “enjaulados” .

Agora ficarão enjaulados gritando pela benevolência do atleta para que ele vá se dirigir até os repórteres, repito, enjaulados, e lá conversar com os mesmos.”

ONDE TUDO NASCEU

Esta a parte do artigo do jornalista Bruno Henrique de Moura e publicado no Observatório da Imprensa que julguei do interesse em aqui repetir.

Por ter algo a acrescentar ao excelente material que me foi enviado pelo amigo Nagib lá do Rio de Janeiro é que continuarei a acrescentar dados de meu conhecimento e de minha longa vivência no rádio esportivo.

Claramente quando comecei a transmitir partidas de futebol ainda não havia o repórter de campo e a primeira vez que tomamos a iniciativa um subdelegado de polícia interrompeu a transmissão e o próprio jogo alegando a impossibilidade da reportagem entrar em campo.

Posteriormente as emissoras sentiram a dificuldade de comprar a aparelhagem que quando foi lançada custava uma fortuna.

Os primeiros repórteres trabalhavam com microfones sustentados por longos fios e o trabalho ia até onde o fio alcançava.

Também um outro problema: como os repórteres eram poucos e um pequeno número de emissoras transmitia futebol ficavam marcados pelos jogadores que só davam entrevistas para aqueles que sabidamente não os criticavam.

Quando surgiu a TV houve a competição entre o microfone e a câmera e os atletas se dirigiam sempre para aqueles que divulgassem sua imagem e não apenas a sua voz.

Os repórteres de rádio ficaram mais do que nunca a ver navios na busca de jogadores para entrevistar.

Essa questão que levantei acima, a do atleta que só falava para aqueles que lhe levantassem a bola é muito séria e persiste até os dias atuais.

Hoje foi um pouco suavizada pela presença de ex-atletas aos microfones como comentaristas e fazendo uma analogia os jogadores sabem pelas informações quase sempre de familiares daqueles que fazem críticas pesadas (e quase sempre verdadeiras) e dos que somente ocupam microfones pelo prestígio adquirido no gramado e ali estão para manter-se no meio e faturar algo mais.

Repórteres verdadeiros, porém, daqueles que vão ao âmago da ferida e perguntam aquilo que o ouvinte gostaria de perguntar se segurasse um microfone não existem mais.

O sprit de corps entre os jogadores funciona como um relógio e fez uma pergunta pesada a um é como se a fizesse a todo o time.

A JANELA DAS REPORTAGENS

Quem batizou a janele da reportagem foi o comentarista Milton Camargo, chefe de esportes da Rádio Tupi de São Paulo.

Tudo começou na Copa do Mundo de 1970 quando havia um grande número de profissionais da imprensa de rádio, jornais, revistas e televisão para entrevistar um pequeno número de jogadores do elenco do Brasil.

Naquela época, lembram-se os senhores, a seleção era toda comandada por militares, vivíamos o período que dominou o país de 1964 a 1985 e até o comandante da delegação era um militar.

Evidente que os repórteres tiveram que se enquadrar e os jogadores iam passando um a um e aquele que se dispunha a falar ou encontrava um conhecido que o admirava e o elogiava parava para algumas poucas palavras.

O problema dos direitos de transmissão também não é coisa nova.

Houve um período em que Pedro Luis fez uma campanha em São Paulo para que as emissoras de rádio também pagassem direitos.

Isso acontece oficialmente nas Copas do Mundo, em jogos oficiais da FIFA e em certos esportes como o boxe há muitos anos.

Transmiti com exclusividade alguns dos maiores combates de boxe porque minha emissora foi a única a comprar os direitos de transmissão.

A campanha do Pedro não foi em frente com o recuo de algumas emissoras, houve uma tentativa posterior de que os responsáveis por transmissões esportivas pelo menos pagassem seus ingressos o que também não progrediu.

Mas, apenas no Brasil.

Na Europa as transmissões esportivas são muito mais reduzidas até porque o rádio europeu até recentemente era todo estatal e pequeno o número de emissoras.

Quando no período áureo do futebol brasileiro e a seleção fazia constantes excursões era comum notarmos o público a nossa frente de costas para o campo admirando e se divertindo com a forma de trabalhar dos locutores brasileiros, para eles uma novidade.

O artigo do jornalista carioca é bastante oportuno e uma das razões que impediram até hoje que as emissoras pagassem direitos para transmitir foi a ameaça destas de cortarem os programas esportivos, sempre uma publicidade marcante para a presença de público nos diversos jogos.

A cada dia aumenta a concorrência nesse sentido com a programação televisiva fechada e sabemos que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Num certo sentido o rádio é popular como o próprio futebol e a tevê comprando direitos para transmiti-lo abre caminho para que todas as rádios se integrem gratuitamente por força de lei dentro do mesmo pacote.

Além do mais, com as emissoras que hoje existem exclusivamente na Internet o leque abriu-se de tal forma que chegaremos a um ponto onde, no caminho em que vai, dia haverá em que o número maior de relatores, comentaristas, repórteres superará o de torcedores que pagaram ingresso.

Uma solução intermediária: tem muita rádio transmitindo futebol sim, mas a maioria o faz vendo o mesmo de uma tela de televisão.

As poucas que vão realmente aos estádios tem que se conformar e “abrigar” seus profissionais enjaulados como descreve o artigo aqui exposto.

flavioaraujo

Rádio Trianon relembra Fiori Gigliotti

Por Rodney Brocanelli

No último domingo, o programa Arquibancada Trianon, da Rádio Trianon (SP) prestou uma importante homenagem à memória do narrador Fiori Gigliotti. A atração comandada por Don Roberto Costa, contou com a participação no estúdio de Dalmo Pessoa, jornalista que trabalhou por muitos anos com Fiori, e Marcelo Gigliotti, filho do radialista. Além disso, grandes nomes do rádio esportivo como Milton Neves, José Silvério, Flavio Araújo, Flavio Prado, entre outros, gravaram depoimentos a respeito do histórico locutor esportivo. Na última quarta-feira, dia 8 de junho, fez dez anos que  Fiori morreu. A iniciativa da Trianon fez com que a efeméride não passasse em branco no rádio. Ouça abaixo.

fiori