Relembrando Mario Moraes

Por Rodney Brocanelli

Mario Moraes foi um dos comentaristas mais importantes do rádio esportivo brasileiro. Atuando basicamente em São Paulo, ele prestou serviços a vários prefixos importantes da cidade, entre eles Tupi, Jovem Pan e Bandeirantes. Também teve uma rápida passagem por Porto Alegre, onde fez parte da equipe da TV Gaúcha. Nas décadas de 50 e 60, ele fez uma parceria de enorme sucesso com o narrador Pedro Luiz. As transmissões em que ambos atuavam tinham grande audiência.

Eis um registro raro de Mario Moraes, Um comentário seu, de quase cinco minutos, para a Rádio Tupi, de São Paulo, veiculado em setembro de 1978. A Tupi dos Diários Associados, que fique bem claro. Uma curiosidade: quem faz a introdução é Ney Gonçalves Dias.

Mario demonstrava sua contrariedade com o fato de preparadores físicos se transformarem em treinadores de futebol. Personagens como Carlos Alberto Parreira, Claudio Coutinho e José Teixeira são citados. Muitos anos mais tarde, Parreira seria campeão do mundo com a seleção brasileira de futebol.

Esse arquivo faz parte do acervo de Onofre Favotto, que está disponível na Internet.

Relembre como era o futebol da Rádio Bandeirantes na década de 1950

Rodney Brocanelli volta a falar das transmissões esportivas da Rádio Bandeirantes, desta vez com foco na década de 1950. Nesta época, a emissora tinha em sua equipe nomes históricos como Edson Leite, Pedro Luiz, Darcy Reis, Mario Moraes e Fiori Gigliotti, entre outros. Clique e veja.

Memória: As transmissões esportivas da Rádio Difusora (SP) em 960Khz

Neste vídeo, Rodney Brocanelli volta a falar sobre rádio esportivo, desta vez destacando a Rádio Diufusora, de São Paulo, que operava em 960Khz e pertencia aos Diários Associados. No início da década de 1960, a emissora tinha uma forte cobertura esportiva. A equipe contava com nomes que fariam história na crônica esportiva como Luis Noriega, José Italiano, José Goés, Gerdy Gomes, Milton Camargo, Haroldo Fernandes entre outros.

A Difusora não ficava apenas no futebol e também levava as emoções do boxe ao seus ouvintes com profissionais do porte de Ávila Machado e Ralph Zumbano, que anos mais tarde viria a ser treinador de Adilson Maguila Rodrigues.

Em 1963, com a chegada de Pedro Luiz, o esporte passou para a co-irmã Rádio Tupi (SP). A Difusora passou a ser uma rádio musical e fez história com a sua fase Jet Music. Ainda assim, nos ano 1970, ela serviu para colocar em prática o Futebol 2000. Algumas transmissões, lideradas por Dirceu Maravilha e Vitor Moran, foram deslocadas para essa faixa para servir como uma linha auxiliar da Tupi.

Veja mais abaixo.

“Adivinhe!”: as memórias de Haroldo de Souza, um dos gigantes da narração esportiva

Por Rodney Brocanelli

E mais uma grande obra abordando o rádio esportivo acaba de ser lançada. É o livro de memórias de Haroldo de Souza, que completa 50 anos de narração esportiva em Porto Alegre neste ano de 2024 que caminha para seu final. O título é quilométrico: “Adivinhe! Haroldo de Souza – A memória do narrador dos gaúchos. 50 anos de rádio no Rio Grande do Sul”. A obra tem a participação do jornalista, também narrador esportivo e mestre em comunicação social, Ciro Götz.

Coincidência ou não, “Adivinhe!”, como será chamado aqui, sai poucas semanas depois de outro lançamento importante: “Um Encontro com o Professor”, que aborda a vida do comentarista Ruy Carlos Ostermann, já devidamente resenhado neste espaço: (clique aqui para ler). Aqueles que ainda se importam com o rádio esportivo ou que gostam de conhecer os bastidores da imprensa esportiva têm motivos para comemorar esses dois lançamentos.

Um dado importante é que Haroldo e Ruy fizeram uma dobradinha na Rádio Gaúcha, a partir do ano de 1978. O professor escreveu a orelha do livro do antigo companheiro. “Formamos uma dupla memorável”, escreveu. E não deixa de ser curioso que ambos têm formações completamente distintas. Ruy é um scholar, enquanto que Haroldo foi formado na escola da vida.

“Adivinhe!” é um livro de leitura rápida, dividida em tópicos breves. Além disso, usa dois recursos narrativos. Na abertura, a primeira pessoa é usada para contar seu nascimento, infância, o primeiro casamento e os caminhos que o levaram a se transformar em narrador esportivo. Um encontro com Pedro Luiz e um golpe de esperteza o ajudam conseguir espaço em Belo Horizonte, na Rádio Itatiaia.

Mesmo a Itatiaia já sendo uma emissora tradicional na cobertura do futebol, as coisas não foram fáceis para Haroldo. A falta de dinheiro foi um fantasma durante todo o período em que esteve lá. Além disso, conforme o relato, Januário Carneiro não gostava de sua voz. Oswaldo Faria, o chefe de esportes, é quem segurava as pontas.

Cronologicamente, Haroldo se transferiu para Porto Alegre se transformando em narrador titular da Rádio Gaúcha. No entanto, sua posição privilegiada foi colocada de lado com a chegada de Armindo Antônio Ranzolin, egresso da Guaíba, que assumiu um cargo de chefia. Insatisfeito com a situação, Magrão, como é conhecido, anos mais tarde foi para a própria Guaíba transformando-se no titular das narrações de futebol. Todo esse processo está em “Advinhe!”.

A partir de então, o tom do livro muda e Haroldo assume a narrativa, contando causos de coberturas internacionais, não vamos contar aqui, mas foram Copas do Mundo, Copas Américas, Libertadores e Mundiais de Clubes, estas duas últimas competições com o envolvimento de Grêmio e Internacional.

Haroldo não fala muito de sua passagem breve pela Rádio Bandeirantes. “Tive raros momentos positivos naquela emissora”, escreveu. Além disso, ele cita o nome da pessoa que o dispensou (sem spoiler aqui). O contexto é relativamente conhecido. Derrotado na eleição para vereador em 2012, praticamente no dia seguinte ele é dispensado pela emissora. Faltou escarafunchar um pouco mais essa história.

Em seguida, ele é contratado pela Rádio Grenal e vive um renascimento profissional. A rádio, surgida na década de 2010, fala 24 por dia das coisas de Grêmio e Internacional e mexeu com a concorrência. Guaíba e Bandeirantes que o digam.

Nesse meio tempo, Haroldo conta que recebeu um salário da RBS, após pedir emprego mas, segundo o relato de “Adivinhe!”, seu nome foi vetado. Após uma conversa com Nelson Sirotsky, o narrador passa a receber um salário do grupo por um certo período. (Em tempo: em uma entrevista recente ao De Carona com o Gamba, Nelson disse que foi um empréstimo de R$ 60 mil, pagos em prestações de R$ 5 mil, que não precisava ser devolvido).

“Adivinhe!” também traz os textos escritos por Haroldo para as aberturas de jornadas, aquele momento em que o narrador faz uma introdução da partida que vai ser narrada e da equipe envolvida na cobertura. No entanto, o narrador aproveitava para falar de outras coisas não necessariamente envolvidas com a partida em questão. Era, no fundo, uma crônica radiofônica. Também foram reunidos alguns textos para comentários que ele fez em programas esportivos das emissoras pelas quais passou.

Logo no final, ao menos uma revelação mais pessoal, que vem pela sua atual esposa, Carla. Ela conta as circunstâncias em que se conheceram (outro spoiler que não vamos dar aqui).

“Adivinhe!” foi editado pela Melhorpubi. Uma das formas de adquirir o livro é pelo próprio site da editora: https://melhorpubli.com.br/

Pelé, o craque da era de ouro do rádio esportivo

Por Rodney Brocanelli

Morreu nesta quinta (29), Pelé. O atleta do século, o jogador que fez mais de mil gols em sua carreira, tricampeão mundial com a seleção brasileira de futebol, multicampeão com o Santos e o homem que foi chamado pelos americanos para ajudar a popularizar o futebol nos Estados Unidos. Ele estava internado no Hospital Albert Eintein, em São Paulo, desde o dia 29 de novembro, para tratamento de um câncer. Sua morte se deu às 15h37, devido à falência múltipla de orgãos, conforme comunicado assinado pelos médicos que cuidavam dele. Tinha 82 anos

Pelé explodiu para o futebol no final da década de 1950, uma época em que a televisão estava se estabelecendo no Brasil. Com isso, o rádio foi o principal veículo que propagou seus grandes feitos em quase 17 anos de carreira. As eras de ouro do rádio esportivo e de Pelé se misturaram.

A Copa de 1958, disputada na Suécia foi a oportunidade para que o mundo conhecesse Pelé e o que ele tinha a oferecer ao mundo de futebol. A competição foi acompanhada in loco e em tempo real pelo rádio. A seguir, destacamos seu primeiro gol na final contra os donos da casa, com a narração de Edson Leite, pela Rádio Bandeirantes.

Infelizmente não existe um registro do famoso gol de placa, que Pelé marcou contra o Fluminense, em pleno Maracanã no ano de 1961. Mas o som do rádio sobreviveu ao longo dos anos. Ouça a narração de Pedro Luiz, pela Rádio Bandeirantes. (Aliás, a ideia partiu do jornalista Joelmir Beting, admirado com a beleza do lance).

Em 1964, Pelé viveu um dia diferente no Santos. Ele marcou três gols na partida contra o Grêmio. Hoje, escreveriam e diriam que ele fez um “hat trick”. Depois, teve que ir para o gol em substituição a Gilmar, que havia sido expulso pelo árbitro. Ouça o registro da Flávio Araújo, pela Rádio Bandeirantes.

Outra emissora que acompanhou de perto a carreira de Pelé foi a extinta Super Rádio Tupi, de São Paulo. Ouça abaixo um dos gols da vitória contra o Palmeiras, pelo campeonato paulista de 1968 narrado por Haroldo Fernandes. A partida terminou 3 a 1 para a equipe santista.

A Super Rádio Tupi foi responsável por outra homenagem a Pelé. Logo após o gol 1000, a emissora decidiu entregar uma lembrança ao Rei do Futebol pelo gol 1040. Não foi por acaso. A emissora operava nos 1040Khz, em São Paulo. Lucas Neto um dos integrantes daquela equipe esportiva contou na Rádio Trianon os detalhes de como se deu todo o cerimonial, em uma partida na cidade de Erechim (RS). Seu colega Victor Moran foi o responsável por dar uma camisa especial a Pelé.

Outra tradição da Super Rádio Tupi era a entrega do Motoradio ao melhor em campo. Pelé ganhou vários deles e até por isso passou alguns de seus prêmios a colegas de Santos, como por exemplo Clodoaldo. Lucas Neto, também pela Rádio Trianon, é quem conta.

Os gols que Pelé não marcou foram, talvez, tão espetaculares quanto os que ele fez. Até hoje se fala na defesa do inglês Gordon Banks após uma cabeçada à queima roupa. Ouça a narração de Pedro Luiz, do pool de rádios paulistas que transmitiu a Copa de 1970.

Ouça abaixo o gol de Pelé na partida em homenagem a Garrincha, em 1973, com a narração de Armindo Antônio Ranzolin, na Rádio Guaíba, de Porto Alegre.

Mesmo que já encaminhando o encerramento de sua carreira na primeira metade da década de 1970, Pelé marcava seus gols importantes. Ouça abaixo um gol de Pelé em uma partida contra o Palmeiras, em 1974. Narração de Oswaldo Maciel, pela Rádio Gazeta.

Pelé fez a sua despedida do futebol brasileiro naquele mesmo ano de 1974, em uma partida do Santos, contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro. Ouça o registro da Rádio Bandeirantes, com Flávio Araújo e Fiori Gigliotti.

Pouco depois, já nos vestiários, ele responde brevemente a uma pergunta de um jovem Fausto Silva, então pela Rádio Jovem Pan. Registro da TV Gazeta.

O gol 1000 de Pelé já mereceu um post à parte do Radioamantes, com os principais registros de rádio para este grande momento da carreira do Atleta do Século.

Outras histórias de bastidores do gol 1040 podem ser vistas no post abaixo.

Memória: ouça os lances importantes do Brasil x Inglaterra (Copa de 70) no pool de rádios paulistanos

Por Rodney Brocanelli

Para você que vai assistir ou já assistiu a reprise de Brasil x Inglaterra, vamos relembrar aqui os principais lances dessa eletrizante partida da Copa do Mundo de 1970 com a narração do rádio. Mais precisamente do pool de rádios de São Paulo, que uniu em uma só cobertura Bandeirantes, Jovem Pan e Nacional (depois Globo).

Para quem não conhece a história, como não havia circuitos suficientes para a transmissão em rádio, a saída para muitas emissoras foi a de formarem redes para essa transmissão. Além do já citado pool de rádios paulistanos, tivemos também o pool que uniu as rádios Globo e Nacional, do Rio de Janeiro e Gaúcha, de Porto Alegre, o que reuniu as rádios Continental, do Rio de Janeiro e a Guaíba, de Porto Alegre, o que unificou as emissoras dos Diários Associados (Tupi do Rio e de São Paulo, entre outras e mais outros que juntou as rádios Mauá, do Rio de Janeiro, e Itatiaia, de Belo Horizonte.

No pool de São Paulo, a narração ficou a cargo de Pedro Luiz (Nacional) e Fiori Gligliotti. Coube a Pedro narrar dois lances importantes e histórico de Brasil x Inglaterra. O primeiro foi a grande defesa de Gordon Banks depois da cabeça de Pelé, ainda na primeira etapa. Ouça abaixo.

Ainda no primeiro tempo, o outro lance histórico do primeiro tempo foi a defesa de Félix para a cabeçada do atacante Lee.

O gol que deu a vitória ao Brasil saiu na segunda etapa, marcado por Jairzinho. Ouça a narração de Fiori Gigliotti.

Memória: Ennio Rodrigues narra os gols do Tri do Brasil no México pela Bandeirantes

Por Rodney Brocanelli

Pouco depois da conquista do tricampeonato mundial de futebol pela seleção brasileira no México, a Rádio Bandeirantes e a RCA Victor (hoje Sony Music) lançaram um LP chamado A Copa é Nossa, com os registros sonoros da emissora paras conquistas do nosso escrete nas edições de 1958, 1962 e 1970. Para a compilação do registro das vitórias na Suécia e no Chile, respectivamente, a tarefa até que foi fácil. A Bandeirantes transmitiu as partidas do Brasil na íntegra com as narrações de Edson Leite e Pedro Luiz. Entretanto, havia um problema com as transmissões da Copa do México. Na ocasião, devido a questões técnicas, Bandeirantes, Nacional (hoje Globo) e Jovem Pan tiveram de fazer um pool de transmissão, unindo narradores dos três prefixos: Fiori Gigliotti, Pedro Luiz e Joseval Peixoto. Cada um deles transmitiu pedaços dos jogos do Brasil naquela competição. Para lançar um LP comercial, talvez a união não fosse tão fácil. Qual foi a saída? Chamar o então narrador Ênnio Rodrigues e o repórter J. Hawíla (ele mesmo) para regravar as partes cujo áudio não é da Bandeirantes. Isto facilitou a produção desse álbum duplo, que com o passar dos anos, transformou-se em documento histórico do futebol e do rádio esportivo brasileiro.

Ouça no player abaixo os melhores momentos da partida Brasil x Itália, a grande final da Copa do México. Nesse registro do LP, Ênnio acabou narrando todos os gols do Brasil naquela partida, enquanto que a voz de Fiori Gigliotti é ouvida em áudio original no gol de empate da Azurra.

 

Para quem quiser baixar a versão digitalizada de A Copa é Nossa, baixa clicar no link abaixo.

http://sintoniamusikal.blogspot.com.br/2014/06/documento-copa-e-nossa-lp-duplo-1970.html

Tostão

Foto: Reprodução

 

Memória: ouça o milésimo gol de Pelé com Pedro Luiz e Juarez Soares

Por Rodney Brocanelli

Nem é necessário falar muita coisa sobre o milésimo gol de Pelé, marcado em cobrança de pênalti, numa partida contra o Vasco da Gama. Já são famosas as narrações de Flávio Araújo, Joseval Peixoto e Waldir Amaral que, graças à Internet, se tornaram conhecidas com o passar dos anos. Hora de acrescentar o registro da narração de Pedro Luiz, então na Rádio Nacional , de São Paulo (hoje Rádio Globo). O repórter desta transmissão era Juarez Soares. Ouça abaixo.

pedro luiz

Foto extraída do site de Milton Neves

O Rádio e os primeiros gritos de gol, por Flávio Araújo

publicado no site Ribeirão Preto on Line

O rádio, o grande invento que marcou o início do século passado foi durante muitos anos um órgão estatal e que só transmitia aquilo que o governo desejava.

Isso acontecia nos países onde imperavam governos ditatoriais, mas também a Grã-Bretanha, Inglaterra à frente, teve na BBC sua porta-voz exclusiva.

Esse tipo de rádio subsistia sem publicidade que o sustentasse e no caso da Inglaterra o pagamento da taxa por parte dos possuidores de aparelhos era paga sem que ninguém o contestasse até recentemente.

No Brasil o rádio já nasceu independente com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923, mas também sem publicidade e com pagamento de taxa por aparelho.

Não durou muito esse estado de coisas e a publicidade passou rapidamente a ser aceita para que houvesse realmente progresso no broadcast brasileiro.

Também nos Estados Unidos da América do Norte o rádio nasceu livre e com publicidade ilimitada.

Existem ainda resquícios do rádio brasileiro no tempo da ditadura Vargas e o programa A Voz do Brasil, de transmissão obrigatória até hoje por todas as emissoras do país é a lembrança dos tempos em que a Rádio Nacional, subsidiada, tinha o maior elenco de artistas e era a mais ouvida do país.

Como os sucessivos governos, mesmo nos períodos democráticos, sempre tiveram uma queda para controlar a mídia, como o atual, a Voz do Brasil, muito combatido por seu anacronismo e pela concorrência superior que as emissoras fazem em seus programas informativos continua resistindo e mantendo-se no ar.

Nos países onde as ditaduras cravaram suas unhas com maior profundidade a presença do rádio sempre influenciou o futebol e caminhou ao lado deste fazendo sempre a vontade e seguindo a orientação fundamentalista dos donos do poder.

O HOMEM DE MUSSOLINI NO MICROFONE

Benito Mussolini, o foi o ditador da Itália que mais se aproveitou do chamado rádio oficial para promover as vitórias italianas de 1934/38 nos segundo e terceiro mundiais de futebol.

Tinha uma voz oficial para transmitir os cotejos da “azurra” e é sobre ele que escrevo.

No ano de 1956 fiz a minha primeira transmissão do Maracanã, cotejo amistoso entre Brasil e Itália, vitória brasileira por 2 a 0 e a primeira vez que um microfone de minha cidade natal, onde iniciei minhas atividades, era levado ao grande estádio.

Longe de mim imaginar que alguns poucos anos depois estaria em Milão transmitindo o cotejo onde o Brasil pagaria com a presença de sua seleção a visita da italiana.

Entre as emoções que o cotejo de 1956 me proporcionou estava a oportunidade de conhecer Nicoló Carósio, o locutor oficial de Mussolini e que transmitira os dois mundiais ganhos por seu país em 1934 na Itália e em 1938 na França.

Democrata e adepto de regimes onde o povo era livre não tinha nenhuma simpatia com um locutor notadamente imbricado com os princípios que o Ducce italiano defendeu.

Minha admiração era pelo locutor esportivo que subsistiu ao pós guerra e na verdade nos tempos em que o rádio reinava absoluto o narrador desse espetáculo merecia o mesmo respeito que o grande cantor ou o galã de cinema e teatro mais festejado alcançava junto ao público.

Hoje as coisas mudaram muito pelo extraordinário número de narradores esportivos em quase todos os países, mas principalmente no Brasil onde a televisão vai pouco a pouco fechando o caminho para os narradores de rádio que mesmo assim fazem do mesmo a escola para seu desenvolvimento.

Carósio, lembro-me, sofreu um pequeno acidente ao caminhar em direção à cabine que ocuparia no verdadeiro subterrâneo que se percorria nas entranhas do Maracanã para ocupar uma das poucas cabines de transmissão.

Bateu a testa numa das passagens mais baixas (era um homem magro e alto) e teve que ser medicado e por pouco não conseguiu transmitir o espetáculo.

Contam que Nicoló Carósio foi também quem levou pessoalmente aos jogadores da Itália antes da Copa de 1934 a mensagem de Mussolini simplesmente com estes dizeres: “Vencer ou Morrer”.

Lembro que as transmissões europeias eram muito diferentes das brasileiras, lentas, comentadas e sem o entusiasmo que sempre foi o principal tempero na narração dos profissionais brasileiros.

Mas, não só de Nicoló Carósio viviam os governos ditatoriais.

Em Portugal havia Arthur Agostinho, o locutor oficial da Rádio Nacional de Lisboa e também bastante afinado com o governo Salazar.

Muitos diziam que Arthur era, inclusive, membro da PIBE, a terrível polícia política do governo português.

Arthur, gordo, brincalhão, era uma figura que se fazia notar e sempre recebia os seus colegas brasileiros quando em Portugal com fineza e cavalheirismo.

Alguns dos nossos falavam em congraçamento, outros em estreita vigilância no desempenho de sua função que não era apenas a de narrar futebol.

Mas, ao microfone era antes de tudo um porta-voz do governo narrando jogos de sua seleção ou os grandes cotejos entre clubes de seu país.

Logo após a queda da ditadura portuguesa, a exemplo do Professor Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar, Arthur Agostinho transferiu-se as pressas para o Brasil e com seus amigos do Rio de Janeiro aqui foi se arranjando, mas jamais como locutor esportivo.

Interessante que o português falado no Brasil ganha campo em Portugal, mas a recíproca não é verdadeira.

Wilson Brasil, comentarista vibrante, combativo, deixou o Brasil e foi fazer sucesso no rádio português dentro de sua função, mas isso já depois do término do período ditatorial naquele país.

Na Europa, notadamente nos países do Leste Europeu e onde as emissoras oficiais duraram ainda por mais tempo no pós guerra cada país tinha em geral o seu locutor chapa branca.

Outro narrador que ganhou grande notoriedade e para muitos se portava como figura do governo foi já em época moderna o argentino José Maria Munhoz, com destaque para a Copa de 1978 e vencida por seu país.

Era, porém, diferente já que Munhoz contava com a concorrência de inúmeros outros e o rádio na Argentina tinha o mesmo modelo brasileiro.

No Uruguai o grande nome das narrações esportivas era Carlos Solé, que conheci na Rádio Sarandi desde minhas primeiras viagens a Montevideo.

Solé fora a grande voz uruguaia na conquista da Copa de 1950 e seu prestígio se rivalizava com o de Júlio Sosa o maior cantor de tangos da região platina depois de Carlos Gardel e que embora fosse ídolo na Argentina era uruguaio de nascimento.

Interessante esse aspecto: grandes ídolos argentinos nasceram no Uruguai ou em outros países vizinhos, como Leguisamo, chileno, o jóquei de maior prestígio em Palermo, como o músico e compositor Francisco Canaro, o autor de Madreselva (Madressilva) e condutor do mais famoso conjunto de tangos de sua época e ainda Gerardo Matos Rodrigues, autor do imortal Caminito, tango tão famoso que se tornou referência turística a local bastante visitado em Buenos Aires, o Camino Caminito.

Tanto o autor como a composição eram uruguaios legítimos.

Canaro, nome de rua em Buenos Aires nasceu no Uruguai, filho de italianos e só se naturalizou argentino no fim da vida.

E Carlos Gardel, o mais famoso intérprete original dessas canções teria nascido onde?

Uns dizem que foi em Tacuarembó, no Uruguai, outros que em Marselha, na França e que seu nome em realidade era Gardés e não Gardel, mas pela paternidade do mesmo os argentinos vão à luta.

Um dos argumentos que os argentinos usavam para mostrar que Gardel era filho do país foi o fato dele visitar e cantar para seus jogadores antes da final contra o Uruguai na Copa de 1930, a primeira delas.

Depois, soube-se que ele fizera o mesmo com os uruguaios e a discussão persiste até hoje.

O certo é que se estou falando de locutores-esportivos é bom lembrar um outro portenho que era muito ouvido no Brasil nos velhos tempos.

Nos anos 1940 quando o dial de um aparelho não tinha esse imenso número de emissoras dos dias atuais e que vai obrigar o governo brasileiro tomar medidas para transformar AMs em FMs o rádio do sul do continente penetrava no interior paulista com muito boa qualidade de som.

Assim é que me acostumei a ouvir transmissões por Fioravanti, da rádio Belgrano de Buenos Aires e lembro-me da frase dístico em que os locutores auxiliares depois de suas falas terminavam sempre com um “adelante, Fioravanti”.

Se comecei falando dos locutores oficiais em algumas emissoras do rádio estatal na Europa e vou mudando para uma espécie de homenagens a alguns nomes famosos na América do Sul não posso deixar de lado o chileno Gustavo Aguirre, “El negro Aguirre”, como o chamavam em Santiago.

Aguirre era um médico que também se dedicava ao grito de gol.

E ainda Sérgio Livingstone, goleiro da seleção chilena na Copa do Mundo de 1950, apenas que era o comentarista enquanto Aguirre era relator.

Alguns no Brasil marcaram época nesse período e me acostumei em minha infância a ouvir Rebelo Junior, o homem do gol inconfundível, Aurélio Campos, Jorge Cury, Antônio Cordeiro e, Oduvaldo Cozzi e alguns outros que me inclinaram para uma paixão profunda pela função.

O grande Pedro Luiz, de quem fui contemporâneo só vim a ouvir quando iniciei meus passos no rádio.

Mas, o primeiro locutor esportivo que deixou seu nome marcado por ter sido o único a narrar pela primeira vez uma Copa do Mundo foi o paulista Gagliano Neto, ao transmitir por uma cadeia de emissoras a Copa do Mundo de 1938.

Mesmo sendo uma transmissão sem influências governamentais (o Brasil já estava em plena ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas) Gagliano causou grande confusão no Rio de Janeiro quando da transmissão do cotejo semifinal entre Itália 2 Brasil 1.

Como a Itália venceu com um pênalti imensamente contestado pelos jogadores brasileiros e pela transmissão de Gagliano (Domingos da Guia em Piola) o locutor aventou a possibilidade esdrúxula ao final da transmissão de que a partida poderia ser anulada.

Isso causou alvoroço e quebra-quebra na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro quando os fatos foram esclarecidos e foi lida a nota oficial falando que de forma alguma o jogo poderia ser anulado e o Brasil estava fora da final.

Locutores oficiais como o italiano Carósio ou o português Arthur Agostinho o Brasil, felizmente, nunca teve.

flavioaraujo

O debate sobre a narração esportiva

Por Rodney Brocanelli

O grande amigo e pensador do rádio Flávio Guimarães publicou em seu blog sobre a questão da renovação da narração esportiva pelo rádio.

O link é esse http://fg-news.blogspot.com.br/2014/09/jose-silverio-jose-carlos-araujo-e.html?spref=fb

Ele se baseou em uma notícia que demos aqui no blog sobre as negociações de José Silvério com a Rádio Bandeirantes para a renovação de contrato.

Ao programa Estádio 97, além de outras coisas, Silvério disse que se sentia fracassado na missão de procurar novos talentos na narração esportiva.

O link é esse aqui:

https://radioamantes.wordpress.com/2014/08/27/no-estadio-97-jose-silverio-anuncia-que-esta-em-processo-de-renovacao-de-contrato-com-a-bandeirantes/

A partir da pergunta que eu fiz no post (“será que ele procurou nos lugares certos?”), Flávio desenvolveu seu raciocínio. Ele nota que houve um aumento na quantidade, devido à proliferação de novas emissoras de rádio e da explosão do rádio pela internet. Mas seu diagnóstico é duro:

Em sua esmagadora maioria, os locutores esportivos que surgem são réplicas de veteranos ainda em atividade. Isto é fácil de ser explicado, pois todo novato se inspira em modelos consagrados e, mesmo inconscientemente, passa a narrar “em cima” do ídolo. Assim, como cópia é cópia e não permite que façamos juízo de valor sobre ela, fica difícil avaliar se o trabalho do narrador que copia outro é fruto de talento inato ou, apenas, habilidade para imitação. Tom Cavalcante seria bom narrador esportivo? Esse é o caso.

Concordo com o caso das imitações descaradas. Neste blog, eu até trouxe o caso de um profissional do Vale do Paraíba que imita José Silvério no tom de voz e quase todos os seus maneirismos vocais. Veja no link abaixo.

https://radioamantes.wordpress.com/2013/01/04/jose-silverio-e-imitado-por-narrador-esportivo-de-sao-jose-dos-campos/

A cópia pela cópia tem que ser objeto das críticas mais severas.

Agora, o que acontece na maioria dos casos não é a imitação do estilo de um narrador esportivo, mas sim a adesão à escola da qual ele vem, especialmente aqui em São Paulo. Explicando melhor: José Silvério é um dos herdeiros diretos da linhagem que começou com Nicolau Tume e desembocou em Pedro Luiz, um de seus expoentes, com forte atuação entre as décadas de 1950 e 1970, em emissoras como Panamericana, Bandeirantes, Tupi, Gazeta e Nacional (hoje Globo). A escola da qual  Pedro Luiz vinha e consagrou consistia na descrição pura e simples dos lances que aconteciam dentro de campo. Pedro era tão obcecado com a precisão que ele, na época do grande Santos dos anos 1960,  chegou a pedir para o atacante Coutinho usar uma munhequeira da cor branca para que não houvesse confusão nos lances dos quais ele participava com os que envolviam outro astro máximo daquela equipe: Pelé.

Por isso e muito mais, Pedro Luiz virou um mito da narração esportiva, e seu estilo passou a ser seguido por dezenas de profissionais que surgiram nos anos seguintes.

Um outro exemplo mais recente: Osmar Santos também adotou um outro tipo de estilo, com mais descontração, o uso de um linguajar mais jovem. Na verdade, foi a adaptação de uma escola da qual Joseval Peixoto foi  precursor na Jovem Pan, entre o final dos anos 1960 e 1970. Peixoto fazia muitas brincadeiras no ar com o repórter Geraldo Blota. Dentro desta escola, Osmar fez os ajustes necessários para se transformar em um mito nas décadas de 1970 e 1990 até parar de forma prematura.

Algo de curioso que deve ser notado: outra das escolas da narração esportiva de São Paulo não teve seguidores conhecidos: a de Fiori Gigliotti. Ele fazia uso de imagens poéticas em suas narrações na Rádio Bandeirantes. “Balão subindo” e  “balão descendo” usado para os cruzamentos na grande área nada mais eram que uma citação às grandes festas juninas do interior.

Mais adiante, Flávio dá o seu recado.

Por quê? A resposta talvez, exija refazer a pergunta de Rodney Brocanelli. Eu sugiro esta formulação: “O que estão fazendo, de fato, os jovens narradores, enquanto desperdiçam a chance de mostrar serviço?”

Em vez de ridicularizar, que tal trabalhar com seriedade, dedicação e originalidade? O caminho que leva a bom destino, geralmente começa com o viajante abastecendo a mochila com um razoável estoque dessas virtudes. Sem elas o caminho torna-se longo, cansativo e, quase sempre, leva a lugar nenhum.

Dedicação e honestidade, sim. Nisso, eu concordo. Entretanto, irei implicar com outro dos termos usados pelo Flávio: originalidade.

Não se trata de uma implicância gratuita. Vou ficar muito feliz se eu estiver enganado, mas assim como em várias manifestações artísticas como o teatro, o cinema e a música, creio que toda a cota de originalidade na narração esportiva já foi gasta. Não há para onde ir. Dá para fazer adaptações pontuais, mas não na essência.

Acho que a dica aos amigos narradores esportivos (e convivo com vários de muito talento) é essa: siga a escola que for mais adequada à sua personalidade. E fuja da imitação dos grandes narradores que estão em atividade.

 

fiori

osmar

José Silvério empunhando o microfone da Rádio Bandeirantes em 1985

pedro luiz

flavioaraujo

 

joseval

Em 1962, Pedro Luiz reclama do som da torcida

Por Rodney Brocanelli

Antes de mais nada, “As Histórias do Futebol, com Milton Neves” é uma das grandes atrações desta nova fase da Bradesco Esportes FM. Não tanto pelo apresentador (brincadeira, Miltão!), mas pelos áudios de jogos importantes da história do futebol brasileiro transmitidos pela Rádio Bandeirantes. Em compactos de até 20 minutos, é possível ouvir jogos com a narração de grandes feras do rádio esportivo como Fiori Gigliotti, Pedro Luiz, do amigo Flávio Araújo, entre outros.  O programa sempre vai ao ar em duas edições: uma as 10h e outra (reprise do programa anterior) as 22h.

Isto posto, um dado curioso chamou a atenção. Nesta terça feira, a atração veiculou os melhores momentos de uma partida entre Santos x Peñarol, do ano de 1962, válido pela Taça Libertadores. A partida foi na Vila Belmiro e a narração foi de Pedro Luiz. Em um dos gols do Santos, apos toda a emoção do lance, ele pede no ar aos repórteres ou talvez à técnica para que o áudio da torcida não fique tão alto, uma vez que o barulho era ensurdecedor. Ouça no player abaixo.

pedro luiz

 

(foto extraída do site de Milton Neves)

Memória do Plantão relembra narração de Pedro Luiz para título do Palmeiras em 1951

Por Rodney Brocanelli

O programa Memória do Plantão, comandado por Vander Luiz, na Jovem Pan, relembrou a Copa Rio de 1951, um torneio interclubes que contou com a participação de grandes clubes espalhados mundo afora. O Palmeiras conquistou o título desta competição ao empatar com a Juventus por 2 a 2, na grande final disputada no Maracanã. O detalhe é que, na ocasião, Vander divulgou os áudios da Rádio Continental, do Rio de Janeiro, com a narração de Oduvaldo Cozzi. O apresentador disse que não tinha mais os áudios da transmissão da Rádio Panamericana, perdidos provavelmente nos incêndios que assolaram a sede das Emissoras Unidas (da qual faziam parte a Pan, a rádio e tv Record) nos anos 60. Pois bem, durante a semana retrasada, o blog Peças Raras, de Marcelo Abud, publicou um trecho do programa São Paulo de Todos os Tempos, comandado por Geraldo Nunes, que veiculou justamente um especial produzido pela Panamericana sobre essa conquista palmeirense. Era apresentado por Estevam Sangirardi e contava com trechos das narrações de Pedro Luiz. No último sábado, mandei esse material a Vander, que usou em seu programa neste domingo. Ouça o resultado abaixo.

Uma história do rádio, por Mauro Beting

Por Rodney Brocanelli

Durante a transmissão de Palmeiras x São Paulo, o comentarista Mauro Beting aproveitou a ruindade a partida para, durante o intervalo, contar uma história sobre o rádio esportivo envolvendo Pedro Luiz e Mario Moraes