Por Rodney Brocanelli
A entrevista de Acácio Luiz Costa, diretor-executivo da Rádio Estadão, à Anderson Cheni e a Anderson Scardoelli tem ao menos um mérito: pela primeira vez alguém que está do outro lado do balcão fala sobre a questão das transmissões off-tube (aquela em que os profissionais fazem tudo do estúdio e não dos estãdios).
Em geral, quem costuma falar sobre esse assunto são os próprios narradores quando solicitados. A opinião, salvo raras exceções é quase unãnime: eles manifestam o desejo de estar in loco narrando a partida que esteja acontecendo. Não lembro de algum coordenador ou diretor de emissora falar sobre o tema nos últimos tempos.
Acácio usa justificativas discutíveis para marcar a política da emissora em relação às transmissões de futebol no futuro. Em resumo, ele informa que irá mandar apenas repórter para o local do jogo. Narrador e comentarista ficarão no estúdio.
Vamos transcrever o trecho da entrevista:
(…)Em relação ao formato, adianto que iremos mudar o conceito de transmitir esportes, conceito esse que não muda desde 1950. Hoje, a programação exige outro formato.
E como será esse novo conceito?
Fazer as transmissões de futebol para quem estiver assistindo o jogo. Quando era o tempo áureo do rádio, a televisão não tinha o alcance que passou a ter no decorrer das últimas décadas. Atualmente, no Brasil, a televisão está inserida em mais de 98% dos lares.
Qual será a estrutura para as transmissões dos jogos?
Somente o repórter estará em campo cobrindo o jogo. Onde a equipe estiver, ele estará. Comentarista e narrador ficarão no estúdio, onde fica muito mais fácil com a tecnologia ver o jogo. O tubo [transmissão a partir da emissora] tem mais informação. Não adianta ter o locutor no estádio dizendo “não foi gol”, enquanto as câmeras no estúdio mostram o contrário. Essa decisão não tem nada a ver com custos, pois não iria mudar em nada mandar equipe completa para o Pacaembu ou Morumbi, por exemplo. É uma estratégia baseada em recursos tecnológicos.
A lógica de Acácio, infelizmente, não fecha. Se for para o narrador ter a visão do jogo pela televisão, o ouvinte nem precisa ter o trabalho de ligar o rádio. Quem acompanha a transmissão pelo rádio quer ter um algo a mais, aquilo que a tv não pode dar por uma série de motivos.
Em vez de conceder uma entrevista desastrada como essa, Acácio poderia tentar pensar em outras saídas para revitalizar a transmissão esportiva pelo rádio.
Poderia começar pensando em resolver um problema crônico: o delay”, que tem afugentado os ouvintes nos últimos anos. Com o crescimento do mercado de tv por assinatura, um número maior de telespectadores tem se deparado com a questão da falta de sincronia das imagens da tv com o som do rádio. Tal situação se aplica à tv digital. Com isso, nem dá para se recorrer ao tradicional “abaixe o som da tv e fique com os ouvidos ligados no rádio”.
Além do mais, Rádio Estadão poderia dar uma contribuição muito maior se ela levasse para seu ouvinte esportes que não fazem parte do cardápio das programações das emissoras de rádio, como o basquete e o vôlei.
A repercussão das declarações de Acácio tem sido a pior possível. Pelo menos dois blogs o chamam de gênio, mas de uma maneira pouco lisonjeira. Acompanhe abaixo:
http://fg-news.blogspot.com.br/2013/01/futebol-na-radio-estadao-os-genios.html – do blog de Flávio Guimarães
http://www.revistadosesportesblog.com.br/blog/o-ridiculo-da-transmissao-por-tubo-reinventando-o-conceito-do-radio-esportivo/ – do blog Revista dos Esportes.

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